sábado, 25 de dezembro de 2010

a poesia (ou um problema)

Primeiro traço: minha mente transborda sem massa líquida em seu lago. Tanto que, daqueles já passados em carne, trato de concentrar-lhes o falado: 
                                                         
Voltemos ao ainda não ido: tenho um problema. Quem sabe você também tenha. O busílis é o poema (morfologia por excelência do que é poético, ok?). Sim, a lógica seria eu ter me referido a 'problema' ou 'questão', posto que o busílis viria depois à necessidade de reparação ou estivesse no meio esperando ser descrito (a operação é óbvia, poema  poesia, mas poesia não necessariamente  poema, uma vez que absoluto só o desconhecido e o desconhecido é coisa séria). Mas, qual o x? O lugar do poema em sua forma, ou então sua forma no lugar do que deseja comunicar; mais ainda, continente e conteúdo poético nestas ruas: em que lugar? (labirintos? nem tanto: o corpo já faz o que o poema esconde).


Provavelmente eu esteja considerando trazer lógicas complicadas a mim, pelo menos ao nível do poema que espera, que quando surge continua esperando. Será a poesia mesmo oferecida, disposta tão-somente ao seu pai? Algo parecido com isso vem me esquentando a vocação amadora ao niilismo, que se provou assim denominada quando me vi buscar à deriva algo que deveria vir até mim. Dificuldades quando me olho no espelho... Arriscaria que concordo aqui com o poeta Carlito Azevedo quanto à dificuldade de ser contemporâneo. E existem e existiram homens como eu aos montes com algo a se relevar (ou não) quanto ao tratamento que se dá ao poético, enfileirando razões mil na avenida dum cérebro só. Para que não existam perdas profundas, desta pequenez que me faz único, balbucio um 'cada um com seu cada qual', e vejo que um dos princípios dizivéis da poesia é o homem só é homem (des)construindo esta e outras realidades porque pousa seus dedos nas coisas que não são suas – leiamos, que não são ele. Desçamos... 

O que se passa de verdade? Eu mesmo me pergunto... Algo tem de verdadeiramente se constituir solução ou problema, início ou término neste raciocínio? Para a saúde da sociedade, não, abominamos aporias... Elucidar uma coisa é certamente tomá-la a si, dominá-la. A poesia baseia isso no seu fazer ou buscar ou mesmo em seu buscar ou fazer nada. O homem que pensa convive com o tomar conta de si: assim realizo meu dizer, que a poesia, nada menos que ela mesma, é o processo que busca uma forma passando pela inteligência. No papel ou na base que seja, será ela processo novamente em outrem. Querem ver só? Emulando sob a indissociabilidade do trinômio poesia, homem e vida, o que temos quando se busca um sentido a qualquer um desses três elementos? Relação, a priori  revelada num nó cego ou não. E na teoria ou na prática, cada um desses três objetos se comunica com o inexplicável superficial do outro, pensemos em inconsciente coletivo ou quem sabe, genética da inconsciência, talvez, princípio de imperceptibilidade imediata ou a ausência disto. Este texto inteiro é um diálogo sobre um outro papel de carta, a tradição, por isso muitas vezes ele parecer familiar a uns por aí, a outros pode parecer pernóstico ou congêneres, e a outros outros, exercício de um rapaz desocupado. 

Quem sabe, em vez destes parágrafos imensos que pouco tem a ver com a sociedade imediatista donde sou contabilizado, poderia sintetizá-los na máxima leminskiana 'pra que porquê?', que é absolutamente óbvia, lembremos talvez o trinômio ou nos perguntemos , por exemplo, qual  a função de uma beleza cheio de óvulos dentro dum instinto civilizado? E por aí vai, apesar da comparação estranha... Entretanto, mesmo isto é matéria de alguma discussão, como tudo que é inseparável da capacidade humana de fazer coisas sem um motivo em negrito, num sistema de acerto e erro eterno, no caso acima, uma horizontalidade entre o que é adequado (um corpo fértil) e o que é humanamente viável (pleasure!). Para nossa sorte ou azar, existem homens que falam demais, pensam demais, comem demais, bebem demais ou ... . Neles existe sempre algo para os outros que são iguais a eles ou perseverantes numa meta ou numa falta de, que os leve ao entendimento ou à solidão (uma coisa não estaria proposta na outra?). 

Enfim, continuamos fazendo poesia para um público que só é público porque a necessita, e muitas vezes não o faz por uma mesma espécie de. Interessante seria ouvir este público, uma vez que ele se deixa ouvir (onde ele está? Me vejo em próximos capítulos...). A poesia existe porque há desde sempre uma diferença, um contraste, bi(tri, tetra)narismos; e quando quem quer que seja deseja fixar residência ou visitar outros tetos abrigando coisas que não as que se vê diariamente, com olhos nem sempre conscientes de que se o que olham é real (coisas do 3D...), aí temos um tal de Heidegger disparando que a linguagem é a morada (esconderijo?) do ser. Daqui só uma constatação, parte da resposta que nem sequer necessitamos plenamente, como se precisa de uma cafeteira; reparem como um homem que fosse mais famoso que eu, com uma linha de raciocínio previsível e adequada ao gosto ocidental, quiçá usando uma substância gramatical como a do português, poderia ter dito tudo isto, porém, vejam, meu mérito foi ter pensado  sozinho: a poesia é uma lacuna preenchida.

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