segunda-feira, 25 de maio de 2020

lightning / relâmpago [Witter Bynner]


Imagem de sethink editada por mim em PHOTOMOSH


Há uma solitude em te ver,
seguida de tua companhia quando te vais.
És como um véu celestial de relâmpagos.
Apenas mais tarde é que consigo ver
o quão bonito és.
Há uma cegueira em te ver,
seguida da visão de ti quando te vais.


Lightning

There is a solitude in seeing you,
Followed by your company when you are gone.
You are like heaven’s veils of lightning.
I cannot see till afterward
How beautiful you are.
There is a blindness in seeing you,
Followed by the sight of you when you are gone.


(Tradução minha de BYNNER, Witter. Lightning in Others for 1919; An Anthology of the New Verse (Nicholas L. Brown, 1920). Disponível AQUI.

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WITTER BYNNER nasceu no Brooklyn, Nova Iorque, em 1881. Graduou-se por Harvard em 1902. Trabalhou como tradutor, repórter e editor-assistente da revista McClure’s. Publicou An Ode to Harvard, New Poems, Take Away the Darkness, The Beloved Stranger, dentre outros trabalhos de poesia. Em 1922, estabeleceu-se em Santa Fé, Novo México, com seu parceiro, Robert Hunt. Lá faleceu, em 1º de Junho de 1968.

(versão adaptada da mini-bio do poeta disponível em inglês, AQUI.)

domingo, 17 de maio de 2020

sem título



Imagem de anvelru editada por mim em PHOTOMOSH

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sem cais sentei aqui quando chegaste.
és o que és para que’u agora discirna
o oceano esfriando sob os cargueiros

a água não estava mais nela mesma
quanto eu calado pela canção alheia.

só pedi que o mar esperasse a vida:
um dia o serei duas milhas adentro


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RIBEIRO, Sebastião. Acorde. São Paulo: Scortecci, 2011

sexta-feira, 1 de maio de 2020

O que dizer do Sr. Ribeiro e de seu novo livro?, por Weslley S S Costa*




Sebastião, à época de universidade, em que com ele estudávamos (eu e o poeta Igor Pablo Dutra), já escrevia e nos incentivou amplamente. Quando queríamos escrever, ele já o fazia há anos… Mas os anos passam e Sebastião Ribeiro, hora, corre rumo a uma nova empreitada literária. 

Sebá tem sua voz própria; é um dos poetas mais habilidosos que conheço (estilisticamente). No transcorrer dos dias desenvolveu muita técnica e tem vasto léxico; ele consegue tecer belas imagens tanto quanto um simbolista ou um surrealista francês faria, mas no sentimento em seus versos tem apresentado algo mais ao estilo expressionista. Ele sabe que existe dureza, corrupção e desamor, pois “(...) o mundo todo jaz no maligno.” 

O Sr. Ribeiro fala sobre como é viver em um “país de terceiro mundo” e estar espremido em ônibus lotados; fala em estar triste e ter a “vontade de cantar”, mas nunca “alcançar a nota”.
  
Para adentrar na riqueza de sentido da palavra colocada por Sebá, eu diria: quantos estudantes buscam a nota maior competindo por uma vaga em um concurso? Mas nem todos alcançam. Quantos querem ser notados pela mulher amada? (“Tudo tem o seu tempo determinado (...)”. Quantas anotações certeiras procuram jornalistas, compositores, poetas e publicitários? Quantos desempregados em São Paulo e em todos os estados buscam aquelas notas coloridas que poderiam ajudar a levar mais conforto a suas famílias? 

Sebá sabe que a realidade pode ter suas circunstâncias desagradáveis e discorre a respeito delas (sim, é preciso ser cidadão consciente de que nem tudo está certo mesmo; é estético e compreensível, de algum modo, tratar das coisas belas. Porém, pessoalmente, causar-me-ia estranheza morar em um país com altos índices de corrupção, criminalidade e violência e ver ainda tantos livros “atuais” de poemas que se limitassem, totalmente, a temas cotidianos, paixão & beleza). Por outro lado, em meio aos dias em que muitos entraram em depressão, é importante acrescentar que é necessário ser um “realista esperançoso” tendo a fé firmada n’Ele para não se estraçalhar diante da dor. 

Sobre o poema Passado 

Em “Anos e dias/ do lado de fora” o eu-poético, dentro desses versos, mostra sentir-se excluído. 

“este portão à frente/ é um escudo” é uma das imagens, que considero, mais lindas do poema. Lembra-me os portões das históricas cidades muradas ou dos castelos medievais com seus portões-pontes (pontes levadiças) fazendo separação entre quem podia ou não entrar. 

Esses versos recordam-me ainda a passagem Bíblica em que o muro de Jericó veio abaixo (bem como, mais recentemente, o caso do muro de Berlim), em um contexto em que a cidade estivera “rigorosamente fechada”, & que, portanto, “ninguém saía nem entrava.” Quantos de nós como o eu do poema, em determinados momentos, nos vemos excluídos (na prática, do lado de fora das boas oportunidades; e não quero falar aqui de dinheiro, mas em se sentir do lado de fora “da vida em abundância”)? Mas quero lembrar-vos que a reviravolta é possível.

“sapateio nas memórias” traz três palavras & muitos possíveis sentidos (cutucado por esses versos, quero mencionar que cogito a possibilidade de escrever um livro sobre poética, semântica e estilística). Notemos, por exemplo, que o poeta ao colocar as palavras no texto pode aplicar termos mais ligados aos sentimentos (saudade, indiferença, querida etc.) e lexias mais “visualizáveis” e “tangíveis” (carro, vidraça, portão...), bem como, palavras, combinações de impacto (estraçalhar, pancada seca, explosão, gritante) e outras categorias de sentido/efeito. “sapateio” é um exemplo de um termo que confere dinamismo ao verso, pois é uma ação e tem força visual (devido a apontar para uma lexia “visualizável” em seu radical: o termo sapato). Esse é um estímulo que pode induzir a imaginação do leitor a trabalhar: se sapateia em qual velocidade/ritmo o faz (flamenco, samba sapateado, rhythm jazz tap?)? O eu-poemático dança/ se movimenta em uma tentativa de se aquecer para fora do frio das memórias tristes (trying “to dance the tears away”) ou pelos passos da dança fica a REMOER dores passadas? Se usa sapatos qual a cor deles? 

Houve aperto e dores (e o passado se foi) e o eu-poético, como é natural do ser humano, parece buscar conforto e alegria: “de todos/ os passos em dia/ além capitulo a uma/ espécie de abraço”. Ademais, o poeta observador do que está em sua volta, com algum tipo de senso de humor finaliza o poema “aforismos em/ sachês de açúcar”. Este é um “flash”, registro de uma curiosa cena do cotidiano: as concisas frases contendo pensamentos presentes em determinada marca de açúcar; Nem tudo nesta vida é dor e amargura e nem toda doçura faz bem. É preciso tomar/ser a escolha certa.

* * *

*Weslley S S Costa é poeta, membro da Academia Vargem-grandense de Letras, componente de Acorde (Scortecci, 2011) e autor de Colham as roupas maduras do varal (Scortecci, 2014). 

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