segunda-feira, 14 de novembro de 2022

(im)preciso

 


É possível que a fruta no mercado

expresse mais que meus silogismos contados;

que a pedra satisfeita em sua ideia de simetria

entenda mais das poucas perfeições

e dos espelhos que as geram,

que eu,

certo de não existirem linhas tortas

para toda minha razão.


Os gnus, as raposas e os gafanhotos

confortam o correto peso de uma expectativa

que não me pertence mais,

uma vez que entendo de palavras

se achando moscas,

entendo de cores explodindo,

de anulações, de álcool,

mas, a respeito do que se deseja

(ou se precisa em forma de água doce

ou tubérculo – mais do que deseja

o gnu, a raposa, o gafanhoto)

me entendo feito o pasto

para um capim insistente.


in RIBEIRO, Sebastião. &. São Paulo: Scortecci, 2015


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Sud pralad



Adentro os dentes do ganho 
correm mornas as perdas 

teu ultimato em silêncio convida 
a me entregar às tempestades 

a penetrar as selvas da cautela 
lamber os olhos de meu ladrão 

natural que eu tenha medo 


in: RIBEIRO, Sebastião. Outro. Guaratinguetá - SP: Penalux, 2022



terça-feira, 29 de março de 2022

Suspensão (para Carvalho Júnior, in memoriam)

 

Henri Rousseau's Virgin Forest with Sunset (1910) 


Não mais

teu cumprimento forte

teu abraço de irmão

tronco que sussurra

eternidades


Não mais

a canção do teu timbre

o riso que nos buscava

telepático voador de

quem brinca nas árvores


Não mais

tua busca tua entrega

que sabíamos nos unia

nos segurava entre

a alegria nos bares

e o palato dos imundos


Não mais

teu correr de menino

extasiado pelo brilho

nas folhas

transbordando em dentes


ainda que agora

sejas ar

todos vemos teus pés

na argila insistente

das margens do rio


© Sebastião Ribeiro, 2021



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