quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quinta

Inevitável, morna, sai de minha boca a verdade indubitável do pão quente: poesia é diálogo com a solidão. Ou da solidão. Embora estejamos palavras cheias de tus e eus, qualquer coisa escura se aproxima.

Exemplo: aquele homem que vi no ônibus tem cara de chuva. Ou porque ele absorveu o nublado do céu ou porque o desejo dos nimbos em fazer chuva veio em suas costas. E em silêncio me desencanto, e agora sei que é necessário esse diálogo com coisas fugidias, posto que ninguém se importará em me deixar (e meus dramas, minhas remessas de cartas invisíveis, as partes sempre mal colocadas de meu discurso, etc).

Outro ponto a ser enganchado aqui é a função desta solidão ou de seu diálogo ensimesmado. No fundo de tudo obtém-se a clara e fraca luz das desmentiras. Portanto segurem isto algo-sem-importância, que as noites de sábado na casa vazia serão necessárias para o priapismo insosso de poetas, como eu agora, sabatino/dominical-noturnos.

Nestas horas de janelas fechadas, irmão algum torna-se aceitável, ou mesmo perceptível. E eu falo de todos, até dos bichos, mas aqueles andarilhos, que ainda conservam uma certeza brilhante nos olhos não-convencionados à convivência. Tire tudo da sala, esqueça o café. Ainda que sem sentido primevo, este texto guarda, em sua harmonia mundial sobre a solitude (agradável a muitos ouvidos e olhos) parte de minha incomunicabilidade.

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