domingo, 21 de dezembro de 2014

bye


ele nega, se revolve, se esconde. a casa socorre seus pensamentos: segredos sob a mesa, pedidos nas teias do telhado; mas a inverdade, esta, não será mentira. um remendo do adeus se espalha pela cama (terei que lavar os lençóis). knock knock -- eu recuso. as paredes tremem como meu corpo sozinho no sofá. ânsia em reconfigurar no estômago o que se passa no domingão do faustão me libera, esqueço das unhas na boca dele.


loucos os dentes do siso me contraem a cada golpe de pinot noir. knock knock -- quem perece? acho que a sombra invertida do ladrão que recusa minha porta. vou te esperar sair no filme que já assisti. me poupe. a dança das horas me elege, entre tantos, a continuar ordenhando esses lances milenares de corpo no corpo, mas só eu os desfaço? knock knock -- cale a boca. se deite. aguarde a música. siga em frente.


domingo, 9 de novembro de 2014

attempt1



Poesia é uma espécie de língua secreta que serve mais à revelação do que ao obscurecimento (apesar do que se possa imaginar/ depreender do registro sofisticado e aparentemente impenetrável de alguns textos). Secreta, porque exige uma dose subjetiva na atitude de quem a recebe para apreciá-la – o reconhecimento do leitor nas palavras do poeta adquire um caráter de intimidade; porém reveladora, uma vez que se busca equipar de possibilidades interventoras no discurso cotidiano/ prosaico a fim de extrair aquela parcela abstrata, lúdica e, muitas vezes, inconfessável, que guardamos no uso social e perfunctório da linguagem.


domingo, 2 de novembro de 2014

fugidiço


Não me soa novidade: faltas são falhas. Ou expectativas tortas ou rachaduras nas paredes. Me pergunto o que se foi, ou, o que nunca esteve aqui. Ainda que viva o suficiente para esboçar ou deduzir uma resposta, seguirei feito desses atalhos que não me conhecem lugar algum, nem os drinques, nem as compras, nem os amantes.

Nem os amigos, que me esfregando as falhas na cara, na verdade me cutucam as faltas. Na conclusão de tudo só terei a mim mesmo sem espelhos, anyway.



Difícil de evitar a sensação de cavar por debaixo de tua casa. Desde menino, as formigas me enviam sinais inúteis. O gato brinca de me vigiar. Mamãe viaja. Tesão inevitável de 2 em 2 dias. Aquela cantora estreante nascida em '88 me trará algo obsedante? Meu livro sai próximo ano. Ando por andar. Perdoe-me, Senhor.

Faltas são falhas. Talvez eu deva fazer como quando menino: procurar buracos no muro do quintal, ainda esperançoso dos diáfanos, buscando no terreno do vizinho plantas, roupa estendida ou entulho [lá certa vez, encontrei um exemplar de Papillon]; vezenquando alguém tomando banho... Ou qualquer outra coisa que me vibre o apetite.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Homofobia, em SUBSTÂNSIA nº 3



*
[Dedico este post a tod@s que, em algum ponto de suas vidas -- estando ou não entre nós materialmente -- acabaram (em vários níveis e perspectivas) se afundando, por conta da recusa de muitos em respeitar e/ou tentar compreender que, não pertence à Natureza ou à Humanidade o padrão puro, a perfeição absoluta ou o completo domínio de nossa essência.]
*


Me satisfaz muito o fato de poder compartilhar este poema com meus possíveis leitores, pela força e pela história por trás dele. 

Ele é um dos textos em que mais trabalhei, pois queria imprimi-lo do desconforto, medo, raiva, tristeza e abulia que circundam e penetram o corpo e espírito de quem é vítima do preconceito, seja ele explícito ou velado; por parte de um desconhecido ou de um 'amigo'; no comentário malicioso, 'inocentemente' jocoso ou não intencionado, ou mesmo no claro discurso de ódio.

Mais que defender direitos ou promover causas, conceitos ou agruras do universo homossexual, o que me interessa aqui não é trabalhar o engajamento simples e puro; pretendo, sim, informar e estimular meus leitores sobre o quanto a intolerância -- direcionada, motivada pela homofobia ou, por que não, qualquer outro tipo de discriminação a qualquer outro grupo, classe ou comunidade -- agride, esvazia e, muitas vezes, mata.






quarta-feira, 20 de agosto de 2014

minha amiga cachorra


nunca me acometeu o quão sábio é teu hábito de cheirar das pessoas os joelhos. agora entendo o porque do olhar vigilante, inquieto; a razão por trás da língua constantemente para fora. 

querida, 
não me é estranho te ver coçando os mamilos com o que, humanos, conhecemos como pés. dentre tuas pe(n)sadas atitudes, neste momento que nos observamos, a que mais admiro é o fato de não teres o rabo preso.


sábado, 19 de julho de 2014

lutuoso



Flowers left on debris of flight MH17 (Reuters)


oferecer flores: a primeira e última coisa a fazer. talvez por serem mudas, absortas. 

a coisa mais bela e rápida que apazigue o negro e nos emerge além da palavra ou do som. 

há cores, cheiros que nos levam e buscam além e por dentro do frio.

é o que nossos braços neste instante permitem; o que nossos olhos desejam; o que um dia foi espírito presume: estamos mudos.  

________________________________________________________________________



ah, mas não há flores. 

os que se vão e os que olham esperam a medida do mutismo. ainda que existam a palavra 'catatonia', a expressão 'thousand-yard stare', pouco sobra ao luto. 

somos a sobra do luto. 

a busca, se há alguma, é pelo fim de algo -- aquele momento em que não importa se somos nós que iremos queimar.

mas há flores nalgum lugar à parte da estiagem em nossa existência. como elas, seremos adequados: mudos, absortos.

________________________________________________________________________

#mh17
#withgaza


segunda-feira, 2 de junho de 2014

mundotudo


Tudo começa continua e termina na memória que o mundo impôs ao meu corpo disponível. Lembro de umas histórias sobre chegar a conhecer algo vindo dos olhos de alguém. Tentei confirmá-la com peixes, gatos, formigas, galinhas, cachorros. Vezenquando as verifico com gente, mas ao contrário do que aprendi com os bichos, com gente só via fugas. Absorvia fugas. 

Mal entendi o que as fugas eram.

O mundo toca minhas mãos e me corrige: você deve aprender isso, decorar aquilo, parecer isto daquilo, nisso naquilo outro outrem talvez. Natural, pois ainda sou um pedaço disponível a tantos. 

Diria a eles no momento certo, 'ei, teus olhos furiosos por me inocular sofismas e teorias só me repetem a palavra resina'. 

Já nem sei o que fui quando me acreditavam bloqueado para os movimentos do mundo e de tudo.

Em minha presente idade (que tenta identificar minha existência), tudo começa ou continua ou termina e do mundo já recuso o toque. Ainda sou de buscar uma resposta ou outra nos olhos dos cães parados/atropelados e ainda acredito que neles há mais que resina. Ao mundo e tudo só confirmo três ou mais palavras; 

só que agora preciso é virá-las do avesso... sondar-lhes o algo de morno que só o bicho me diz.


domingo, 13 de abril de 2014

defeito.default


Julgo porque não sei o que pensar e humilho porque não sei o que fazer e critico porque não sei o que falar e destruo porque não sei como sentir e desisto porque não sei o que sonhar e me sobro neste texto raso porque se soubesse escrever algo profundo não julgaria humilharia criticaria destruiria ou desistiria coisa alguma

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

para que(m) serve um poeta?


Fato que serve para alguém que não questione tal.

Serve também para os de ouvidos cansados, mentes que imitam o ciclo da água e do nitrogênio, e também para aqueles que acham que ouvir o rádio já não é o bastante.

Serve para dar voz aos vegetais e ao que de vegetal em nós existe. Serve para fazer da vida algo que seja suficiente sempre faltando.

Serve para nos tornar próximos de algo tão misterioso ou hipotético como a energia escura ou o proto-indo-europeu.

Ou pode servir para qualquer outra coisa que se considere que sirva, uma vez que em meu país pessoas morrem por futebol e boa parte está em paz com a alienação e retrocesso político e sócio-cultural.

Serve também para não continuarmos entendendo as formas que o Cristianismo tomou.

Serve para nos ajudar a fugir do grosseiro inconsciente coletivo que nos deixa voluntariamente calados. Ou mesmo silentes, por anos.

Serve a aqueles que vomitam por uma causa e não sofrem de ejaculação precoce da opinião.

Serve para abrir o coração de quem foi usado ou se deixou usar, ou ainda aos que mal sabem a diferença entre uso e usura.

Serve para ser o que se é sendo Arte sendo tudo sendo vala.

Serve para ______________________________________________________________.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

3d


"I am enough of an artist to draw freely upon my imagination. Imagination is more important than knowledge. Knowledge is limited. Imagination encircles the world." [Einstein]


Apesar de nunca me ter sido dito, imagino que meus poemas, especialmente os mais recentes, carregam uma força contrária (mas não essencialmente negativa) à alegria pura e despretensiosa de viver. É uma reflexão ao nível mais próximo possível da negação da vida, mas ainda não seu fim ou o desejo de que se finde. A melhor imagem que represente isso seria a de alguém na ponta de um penhasco. Mas

____ o que me incita a este comentário é o fato de quão específicas algumas personalidades podem ser e de como pode haver compreensão eficaz da Arte numa recepção tão diversa. Semana passada, numa mesa com cervejas, ouvi de alguém que os outros componentes da mesa julgavam 'inteligente' que, não sabia o que pensar de um poema porque o que estava ali escrito só serviria ao entendimento de seu próprio autor. Sorte minha que comungava da situação de óculos escuros e estava sentindo uma considerável impressão niilista naquele momento, logo o colocado não me atingiu como o poderia.

Sobre isso dito, claro, na escala inconsciente coletiva de sua reprodução, eu só tenho uma coisa a dizer: pobre daquele que não pensa com sua imaginação. A existência por si só já é algo pitoresco -- por vezes risível -- o bastante. Me cansa ter de testemunhar quem ainda acha que é uma obrigação entrar na briga prática x teoria objetivo x subjetivo ar x concreto pelo bel prazer dos cartesianos e metódicos.

Não. Obrigado.

A não ser que você se permita imaginar (e não estou limitando o sentido da palavra imaginar ao quase sinônimo 'fantasiar'), pensar como ser humano completo -- lógica, sentimento, sensação, inconsciente, etc. -- que é (incluindo um pouco mais que o conhecimento acadêmico ou a solução empírica ou racionalizante), não vai adiantar refolhar meus textos que deixam a luz da vida mais um abajur que um holofote. 

Como poeta, como Artista, meu sentimento e visão de missão não é só compartilhar; é também distorcer uma situação, um fato, uma constatação, um ponto de vista... enfim, entender e fazer entender algo holisticamente. Poesia é considerar a existência e seus guizos em 3D.


yearning






Kymia Nawabi









Licença Creative Commons
gaveta, galáxia by Sebastião Ribeiro is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.