sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

vivo


Versão doismiledezenada de um poema escrito há mais ou menos 3 anos atrás... Ele já esteve aqui no blog, em um dos meus primeiros posts, mas eu o modifiquei lá também. Vi-o relevante em relação à minha produção atual, se bem que seria melhor falarmos em 'vida atual'. Tenho percebido um valor especial em alguns escritos pré-dois mil e dez, coisas que cria não estarem bem a meu gosto, entretanto é fato, minha evolução como formalizador, executor da poesia escrita é anterior aos meus auto-considerados melhores textos. Está valendo. Me redescubro, me reinvento, me re-anuncio. Enjoy it!

Vivo

Meus dois últimos gestos ficaram no passado eterno, 
me esperando.

Roubaram a beleza do amor algum.
Busco-me terceira pessoa. Fujo pro indefectível erro
mal me conhecendo coisa inocente, 
nomeando cala e grito em 
meu desinteresse ou niilismo.

Se tudo fosse teu púbis campo de cártamos,
infância da língua... 
Se os olhos não fossem tão excedentes, 
tão discursantes em idiotismo...


Quem fala, quem me toca aqui, 
violino-folha escura ao vento,
não me encontra.
Só floresce uma voz.

sábado, 25 de dezembro de 2010

a poesia (ou um problema)

Primeiro traço: minha mente transborda sem massa líquida em seu lago. Tanto que, daqueles já passados em carne, trato de concentrar-lhes o falado: 
                                                         
Voltemos ao ainda não ido: tenho um problema. Quem sabe você também tenha. O busílis é o poema (morfologia por excelência do que é poético, ok?). Sim, a lógica seria eu ter me referido a 'problema' ou 'questão', posto que o busílis viria depois à necessidade de reparação ou estivesse no meio esperando ser descrito (a operação é óbvia, poema  poesia, mas poesia não necessariamente  poema, uma vez que absoluto só o desconhecido e o desconhecido é coisa séria). Mas, qual o x? O lugar do poema em sua forma, ou então sua forma no lugar do que deseja comunicar; mais ainda, continente e conteúdo poético nestas ruas: em que lugar? (labirintos? nem tanto: o corpo já faz o que o poema esconde).


Provavelmente eu esteja considerando trazer lógicas complicadas a mim, pelo menos ao nível do poema que espera, que quando surge continua esperando. Será a poesia mesmo oferecida, disposta tão-somente ao seu pai? Algo parecido com isso vem me esquentando a vocação amadora ao niilismo, que se provou assim denominada quando me vi buscar à deriva algo que deveria vir até mim. Dificuldades quando me olho no espelho... Arriscaria que concordo aqui com o poeta Carlito Azevedo quanto à dificuldade de ser contemporâneo. E existem e existiram homens como eu aos montes com algo a se relevar (ou não) quanto ao tratamento que se dá ao poético, enfileirando razões mil na avenida dum cérebro só. Para que não existam perdas profundas, desta pequenez que me faz único, balbucio um 'cada um com seu cada qual', e vejo que um dos princípios dizivéis da poesia é o homem só é homem (des)construindo esta e outras realidades porque pousa seus dedos nas coisas que não são suas – leiamos, que não são ele. Desçamos... 

O que se passa de verdade? Eu mesmo me pergunto... Algo tem de verdadeiramente se constituir solução ou problema, início ou término neste raciocínio? Para a saúde da sociedade, não, abominamos aporias... Elucidar uma coisa é certamente tomá-la a si, dominá-la. A poesia baseia isso no seu fazer ou buscar ou mesmo em seu buscar ou fazer nada. O homem que pensa convive com o tomar conta de si: assim realizo meu dizer, que a poesia, nada menos que ela mesma, é o processo que busca uma forma passando pela inteligência. No papel ou na base que seja, será ela processo novamente em outrem. Querem ver só? Emulando sob a indissociabilidade do trinômio poesia, homem e vida, o que temos quando se busca um sentido a qualquer um desses três elementos? Relação, a priori  revelada num nó cego ou não. E na teoria ou na prática, cada um desses três objetos se comunica com o inexplicável superficial do outro, pensemos em inconsciente coletivo ou quem sabe, genética da inconsciência, talvez, princípio de imperceptibilidade imediata ou a ausência disto. Este texto inteiro é um diálogo sobre um outro papel de carta, a tradição, por isso muitas vezes ele parecer familiar a uns por aí, a outros pode parecer pernóstico ou congêneres, e a outros outros, exercício de um rapaz desocupado. 

Quem sabe, em vez destes parágrafos imensos que pouco tem a ver com a sociedade imediatista donde sou contabilizado, poderia sintetizá-los na máxima leminskiana 'pra que porquê?', que é absolutamente óbvia, lembremos talvez o trinômio ou nos perguntemos , por exemplo, qual  a função de uma beleza cheio de óvulos dentro dum instinto civilizado? E por aí vai, apesar da comparação estranha... Entretanto, mesmo isto é matéria de alguma discussão, como tudo que é inseparável da capacidade humana de fazer coisas sem um motivo em negrito, num sistema de acerto e erro eterno, no caso acima, uma horizontalidade entre o que é adequado (um corpo fértil) e o que é humanamente viável (pleasure!). Para nossa sorte ou azar, existem homens que falam demais, pensam demais, comem demais, bebem demais ou ... . Neles existe sempre algo para os outros que são iguais a eles ou perseverantes numa meta ou numa falta de, que os leve ao entendimento ou à solidão (uma coisa não estaria proposta na outra?). 

Enfim, continuamos fazendo poesia para um público que só é público porque a necessita, e muitas vezes não o faz por uma mesma espécie de. Interessante seria ouvir este público, uma vez que ele se deixa ouvir (onde ele está? Me vejo em próximos capítulos...). A poesia existe porque há desde sempre uma diferença, um contraste, bi(tri, tetra)narismos; e quando quem quer que seja deseja fixar residência ou visitar outros tetos abrigando coisas que não as que se vê diariamente, com olhos nem sempre conscientes de que se o que olham é real (coisas do 3D...), aí temos um tal de Heidegger disparando que a linguagem é a morada (esconderijo?) do ser. Daqui só uma constatação, parte da resposta que nem sequer necessitamos plenamente, como se precisa de uma cafeteira; reparem como um homem que fosse mais famoso que eu, com uma linha de raciocínio previsível e adequada ao gosto ocidental, quiçá usando uma substância gramatical como a do português, poderia ter dito tudo isto, porém, vejam, meu mérito foi ter pensado  sozinho: a poesia é uma lacuna preenchida.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sublimação


                                                 É essencial fotografar objetos familiares de pontos de vista inesperados.

Ródtchenko



por enquanto sem rumo vou 
ficando: um cupim sem asa ou 
içá fenecida (menos uma cópula)

tudo pede que'u pense
exige parte que podes 

não ter quiçá não ser

por isso o cancro do caule
ou a pétala que cai sem 

causar dor, por isso 


os olhos novos anseiam luz 
na morte de tudo: durmo e 
acordo em sonho esfarelado

nos ônibus o que preciso é comum
a tudo, a necessidade me faz irmão.
compartilho a flor que não gritou

o dia passando não enxerga
a mão inteira que busca um pouso.
esperando gosto, a boca oferecida


por isso a lâmpada queimada, por isso 

o pé cego fragmenta um cogumelo:
assim caio em mim cogumelo pisado

recolho embotado as provas de quando 

me tocaram, já toquei e pretendi 
amar. os fins é que me fazem assim

domingo, 19 de dezembro de 2010

previsão

Nada antes disso caberia na conta do que está no mundo para ser planejado. Por isso tudo aqui é isto mesmo, coisas que aconteceram. Minha responsabilidade seria somente deixar as palmas abertas, acolher quem sabe na linha da vida, mais uma razão que justificasse tudo quando não conseguisse entender coisa alguma. Esperei? Sim, mas quero é que me contradigam, uma vez que não vou esperar de novo, vou ocupar minhas mãos com outras flores em busca dum fruto só, mas agora me vem ao corpo uma coisa: quanto tempo demorará o açúcar subir até à maçã? Terei de esperar mesmo.

Não pedi um metro de razão; a pedra esperando o mar consumi-la e a borboleta de asa rasgada justificam a vida correr assim. Essas linhas que traço falam de um livro que hoje não passa duma página solta. Sei agora que a inconsciência é um trabalho existente onde não pode haver vazios.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

*

Tentar seria uma opção? Tentar. Porém como, assim, já feito sem gosto ao inusitado, ao incomunicável? Metáforas andam me dando náusea. De verdade, que fazer? Que fazer? Por que fazer: fazer porque usamos máscaras, entretanto poucas resistem a vermes debaixo da terra.  Fazer porque o que é feito por mim é feito assim. Fazer porque alguns sentem falta, outros não, e porque preciso viver. Isto é tentar. Tentar porque? 

Para fazer?

domingo, 12 de dezembro de 2010

tentativa de catarse nº estamos tentando....

"Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras", por isso a consciência da víscera alcunhada coração parecer um ser rugindo. Por isso o vazio entre as pernas deste corpo sonado. Por isso a perseguição constante de teu nome e de tua imagem. Pensei que não viveria para viver isto, que é cinema; provavelmente, meu espírito de artista te faça um ator. Bebemos, abrimos a boca pronta a desperdícios, rimos do lixo; entretanto te peço que lembre que sou um artista: não o performer que a todos chama, mas o silenciador de parte de nossa incompreensão.

Por isso os besouros escalando minhas coxas, por isso o tédio preenchido com uma masturbação ineficiente, descabelada pelo vício em ti esticado. Por isso considero '- Acreditar?'; por isso a dúvida, a metástase, o crime, a lâmpada e a dor asfixiante de apenas três letras. Enfim,

a contradição.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

elo

Um motivo, um cálculo, uma revelação, um silogismo que fosse, para
que'u entenda o que passa, a travar evoluções, recorrências, dúvidas,
falta de ar. Simplesmente sei que quando me soltarem, o atacarei. Ele
não entende, creio, mal dedilha o livro que sou eu inteiro a ele
entregue; que'le saiba, estou entregue.

Isso porque o obstáculo em descrever um contorno novo à poética
estática em ser móvel (eu) passa por esta ponte de madeira sobre um
rio caudaloso espancando as pedras por uma noite cheia de silvos, que
é a paixão que carrego. Dirijo-me inconsciente a ele todos os dias em
que cometo um poema. Sabeis a carga disso?
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