domingo, 3 de novembro de 2019
provisório
por
Sebastião Ribeiro
um motivo não tenho pronto
nem palavra calma que circunde
o que não é este espaço
desinteressante
e o que dele espera
algo do espaço e
afinal
de que espaço falamos?
gritos tenho alguns e mesmo que
cheguem até o outro lado da matéria
pouco dirão
alguns esperam daqui algo como
‘barco feroz
em cabeleira azul’
ou
‘tessitura molhada
duma alma’
mas
...
o poema consome parte do tempo
que me faria pegar um lotado menos cheio
o poema consome o homem abatido
queimando seu espírito fora do prazo de validade
sim
o homem é a fruta podre que nutre
a árvore sob o sol desfigurante
o homem em tudo que se conhece sou eu
que procura outros homens numa dúzia de maneiras tristes
maneiras que me pedem uma casa com plantas sem
metáfora
em seu terraço e mato surgido debaixo do concreto
bocejando
uma flor de cor aparentemente eterna
vejam pois que o escrito e os ossos que o
imprimem são um algo só
precisos & parados
num ou outro instante do dia
enfim
somos uma erva que índios evitam
RIBEIRO, Sebastião. &. São Paulo: Scortecci, 2015
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