Trinta de julho é quase agosto, e felizmente vejo o tempo passar, pois não existem prioridades intensas até esta manhã; é que não faz bem a um espirito perturbado deitar-se para morrer... é esperar demais. Bem, perturbado? Sim, pois assim (creio eu) andam os inauditos.
Aqui em minha cidade (que é tudo que meus olhos podem pegar) um ladrão de ônibus se estragou: tentou fugir, mas levou um balaço no pescoço, morreu num galinheiro de quintal. Ontem no banco da frente do ônibus, vi uma menininha (quando adulta, talvez a reconhecerei algum dia, seus traços eram inconfundíveis), e pensava que seria uma pena se ela morresse agora, em meio a esta noite fugidia e seus malfeitores também fugidios. Estamos ao vento, somos folhas.
Porém, pouco sinto agora da consciência de ontem, embora que a consciência de agora seja maior que a consciência de sempre. Ontem a noite, pela ponte do São Francisco (que é a ponte que liga a São Luís velha à nova), tive consciência de meus olhos cheios de brisa e da boca já podre de tanto sal marinho. E de meus braços, que inventaram não sei o que para tocá-los. Mais uma vez tive certeza que fui um poeta do silêncio.
Como sentir que seus olhos são os únicos ouvidos, e que a inspiração agora equivale a um prazer sexual. Carne, carne, carne, é tudo que a insignificância me ensina. Em palavras mais específicas: matéria, matéria, matéria. Tudo que há são ônibus, que desafiam o tempo como eu, e as confraternizações frias do amor silencioso, seja lá o que isso pareça. Em outra parte, sei que estas e outras considerações invertidas que a manhã ou o cansaço da noite oferecem, bem, sei que elas estão mais perdidas que flores de ipê em outubro.
O espírito ou as intenções dos homens às vezes provocam gestos irreparáveis, como dores. Mas, eu penso no lado positivo: o Japão teve o maior crescimento industrial em vinte anos e o dólar baixou ontem a R$ 1,827! Ou quase isto. É sempre quase isto, profundo no aquilo, de algum modo, tomada a devida proporção. E todos os cantos têm vocação para serem gritos de morte ou despedida, e todos os homens tem estilo para serem os últimos de uma nação e todas as viagens têm trejeitos de serem somente de ida. E eu aqui (doente de algum modo...), esperando sem reserva a mim mesmo para o mundo.
Bem crônico, a realidade é tal como ela é!
ResponderExcluirHoje foi postado o seu texto nas Histórias Fantásticas do Duelos.
ResponderExcluirVALEU MESMO!
Abração e ótimo final de semana!
Gostei... Achei seu ÚNICO.
ResponderExcluirParabéns, voltarei sempre que puder!
Ribeiro:
ResponderExcluirVocê não é só inesperado, é inspirado e nos deixa atônitos.
Adoro o que você escreve!
Beijo pelo Dia do Amigo.
Ribeiro:
ResponderExcluirÉ a pura verdade: você é absolutamente inesperado! Desde a primeira palavra, passando pela abordagem, pela forma de ver e sentir o que descreve, até a finalização. Adoro isso!
E não é gentileza, é reconhecimento mesmo!
Beijo.
Bem, Ribeiro, arranjei um tempinho e passei por aqui. Adorei o Funcionalismo! Cara, tu é demais mesmo! Uma viagem maravilhosa!
ResponderExcluirParabéns por tudo que nos proporciona de ótimo com estas leituras!
Beijos!