terça-feira, 20 de outubro de 2020

30

 



    Je suis esclave de mon baptême

            (Arthur Rimbaud)


Pós-chuva

um rastro de beldroegas

pelo bairro que atravessa

o corpo


alguns governos nos levaram

tanto mas não a eterna caça

garras que arranham o self


feito de ledo encanto só

entendo ultimatos no agora


festins fajutos no retrato

que percebo no espelho sujo

de pasta de dente


o alçapão na página permite

um fio de sol derreter minha

suspensa presença


sigo tido sobre anos usados

que insistem ser visagem

na xícara de café


um gole quente me

pressuriza os olhos

aqui sei

fundido

caibo num balde


ferido

ainda há uma rua

mesmo que

por baixo da casa


há incêndios no

peito e no espaço

indagando meus

taquicar

dias


                                                      RIBEIRO, Sebastião. Memento. Guaratinguetá - SP: Editora Penalux, 2020.


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