Em finais de março pretendo divulgar data e local do lançamento de meu livro '&'. Até lá, venho mostrando uma coisa aqui outra lá, como o poema 'dos processos' e um dos textos introdutórios à obra, escrito pelo poeta e amigo Bioque Mesito. Hoje quero divulgar também os outros dois textos, um de Igor Pablo Dutra e outro, de Wesley Costa, ambos companheiros de 'Acorde'...
Enjoy them!
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& Além
Sebastião Ribeiro será considerado uma surpresa, apenas para quem ainda não teve o prazer de conhecê-lo. Para quem conviveu e convive, leu e lê, não será, há muito ele é mais que um talento que amadurece a cada viagem nos coletivos da vida. Um Homem que sabe de si (?), de sua arte, de sua força, de seu verbo. Um homem que tem a poesia em cada gaveta de seus dentes.
A poesia de Sebastião tem seu encanto nas ‘esfinges’, ele desafia o leitor a caminhar com ele, lado a lado, passageiros da vida. O título do livro revela, em princípio, o mesmo enigma que sempre circunda a boa poesia, em minha visão, o acréscimo de cada verso e cada poema vai estabelecendo a existência/essência do poeta, e também, me mostra certa veia de escárnio. Um aprofundamento na obra -&- necessita de muito mais parágrafos e páginas que não poderei aqui. Fazer uma seleção e classificação de poemas seria eleger o erro, me resguardo desses equívocos, apesar da necessidade de dentear alguns, os quais, teço comentário abaixo.
Em Mote, poema que abre o livro, a justificativa do ser poeta: “hoje/ é todos os espaços contornáveis preenchidos/ por dúvida”. O poeta manifesta suas incertezas hodiernas, seus vazios angustiantes e intemperáveis. Destaco ainda, a competência criadora do retalho de versos que vão desestabilizando os sentidos buscados pelo leitor. Isso, ocasionado pelos cortes sintáticos, que podem ser os próprios fragmentos do poeta.
Em Provisório, nota-se a envergadura questionadora do labor poético: “gritos tenho alguns e mesmo que/ cheguem até o outro lado da matéria/ pouco dirão”. A poesia se justifica para quem? Esses gritos são a força motriz do poeta, que necessita expandir, mas, para onde? Não seria essa a luta vã? A quem destinar-se, é um segredo que pouco se sabe. O poeta demonstra sua imprecisão quanto ao que o homem quer encontrar, entretanto ele reconhece em seguida, o quem ele é, o quem somos, “sim/ o homem é a fruta podre que nutre/ a árvore sob o sol desfigurante”.
O poeta profundamente inquieto, não poupa a inutilidade de muitos mundos, outros poemas deixam à mostra as cicatrizes invisíveis dele: “são dedos que na palma/ ciscam, separam para o norte/ o troco do tempo” ou os desejos corriqueiros e cavalares “cambiamos/ estações/ enforcamos/ sonos/ e neste corte na rocha/ buscamos um amor e prêmios/ de loteria” e ainda o afago que a poesia dá a nossa própria nulidade: “pego torcido e dito:/ cumprirás cada falta / em ti possível”.
Iço o fim deste texto com as lindas palavras de Atavismo, na demonstração do não abatimento diante das circunstâncias do Ser Artista – “enquanto vibrar um desejo/ haverá dor & canto”. Esperemos pelos próximos brindes!
Igor Pablo Dutra*
* Poeta
(participante de Acorde
(Scortecci, 2011; com Sebastião Ribeiro e Wesley Costa)
e professor de Literatura, formado pela Universidade Estadual do
Maranhão
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“Humano”
“&” de Sebastião Ribeiro situa-nos em um quarto: “é todos os espaços contornáveis preenchidos /por dúvida /é os móveis arborescidos no quarto /ocultando o fruto em cuja casca de vidro /me enxergo”. Talvez em um quintal onde o hábil escritor, ou/& seu eu-poemático parece perecer em sua situação de humano e sua existência em meio a ônibus cheios e cabeça lotada de dúvidas e certa melancolia que é passageira constante ao longo da obra. Mas ele reserva ainda espaços para alguma ternura e momentos singelos: “me abro /ao espetáculo /ao só solamente/ solizinho /pacto de viagem”.
É notável o talento do escritor em propor densas imagens-ideias: “os móveis arborescidos no quarto”, “você abriu todas as portas/onde não deveria haver nenhuma”, “O poeta com medo de não ser convidado/ O poeta que está nunca o sendo”, “dá bom dia/e esbarra no vidro/de cada sorriso”, “Ouço a nota escura de um trombone”, “me via como uma lágrima/que tropeça”, “no ribeiro lutulento” (não haveria nesse verso algum murmúrio-pendor autobiográfico como possa sugerir seu próprio nome?). Prossegue o Sr. Ribeiro ou sua voz de poeta a observar a viagem e seus vários passageiros “a gente perde o trem/ das grandes coisas / quando não se cala:”.
E volto a falar a respeito de “&” com a consciência de que as minhas palavras não medem a “proporção de sentido” do livro, pois não se trata de meramente enunciar que “&” está vestido em um terno e possui um sorriso melancólico (seria superficial assim proceder). Sei e declaro com franqueza que a obra contém mais que isso, porque é mais do que isso. Todavia, por enquanto limitar-me-ei em enfatizar esse “eu” dos/nos poemas que expõe muitas vezes a fragilidade do ser humano e sua estadia neste mundo em meio a tanta poeira e temporal.
Weslley Costa*
*Escritor, participante de Acorde (Scortecci, 2011), juntamente com Igor-Pablo e Sebastião Ribeiro. Autor de Colham as Roupas Maduras do Varal (Scortecci, 2012).
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