terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

amor, s. m.



¹ O mote:


DIA DOS NAMORADOS

o amor 
passou-se no tempo em que não havia medo.
não havia paredes subidas.
as manhãs eram remotas como rosas.
os ontens uma mitologia condigna.
a pátria era tão labiríntica quanto uma lágrima.
tão imprevisível quanto o ofício de um deus.
o amor passou-se no tempo em que ainda não tinha nome,
em que os segundos eram uma espécie de sangue,
e a tarde podia ser uma só palavra
na órbita de uma outra palavra.
o amor passou-se neste poema para pessoas sós,
passou-se como mera reprodução de um tempo
em que não havia corpos, logo
corações distantes.
mas ainda assim o amor existe: mesmo sendo 
um ontem, mesmo sendo uma lágrima,
mesmo sendo uma rosa esquecida
num quarto azul. 



Sylvia Beirute


² A sorte:


'O amor é difícil'


'(...) as pessoas jovens, iniciantes em tudo, ainda não podem amar: precisam aprender o amor.'


Rainer Maria Rilke


³ O consorte

Amigos, minha situação atual como ser humano aponta equanimidade quanto às esperas dolorosas. Não nos rebelemos, nem estranhemos. Geralmente a constituição juvenil, afeita às paixões, ambiciona seu fim no pretenso começo, que já é o ápice das vidas, o tal do amor. Nada poderíamos dizer, bradar, sem que nos precipitássemos. Todos somos passíveis de incoerências e arrependimentos, e ser, a quem o persegue em entendimento, é um fardo a se carregar, talvez por isso estejamos sempre correndo por outros braços. 

As fracas conjeturas que surgem na mente agora trouxeram a reserva que venho guardando por estas questões. Como bem poderia depreender da leitura do poema de Beirute, o amor (passou-se num tempo em que nem nome tinha...) é algo necessário como o divino, foi instaurado ou percebido para o livramento de tanta pequenez em nossos espíritos, livramento das inconformações, dos destinos. Por isso muitos o perseguem, alguns buscam o comprar, outros o construir, mas seja o que seja na forma que esteja ou sentido que revele, marca que o releve, o amor será entendido de forma mais possível uma vez que admitirmos que ele não tem nome, nem forma, nem dia, nem morada registrável. Ele surge, mas não o acicatemos, pois acredito que ele surge humano no ensejo de uma rosa que precisa desabrochar, de uma rocha a permitir que as águas passem, nos sentidos eólicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Licença Creative Commons
gaveta, galáxia by Sebastião Ribeiro is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.