quinta-feira, 8 de abril de 2010

LoveFail

Ofereço-me mais uma vez aqui a quem quiser me ferir. 

Passam por esta cabeça convenções lúcidas em cada erro que viver impõe. Tipo, uma nova paixão. Apêndice dessa condição de perda é parte dum poema de Monika Rinck, zum fernbleiben der umarmung, ou " de abster-se dos abraços", que li há poucos dias no blog Modo de Usar & Co., na tradução de Ricardo Domeneck. Sintam:



você não queria morrer uma vez mais,

despistar-se da colisão era sua única chance.


(...)


como amar certa linha de cabelo num crânio, um traço

de perfume no pescoço, tudo se foi, não ficou, longe.


(...)

Trago esses erros de uma viagem ao Recife - PE. Durante o trajeto, pelo ônibus, no que o Claro me permitiu deduzir, considerei várias impressões: paredões de rocha, morros, verde e barro indelével. A cor do barro é absolutamente tocante. Me calei para o barro. Na cidade de fato, durante a estada, (re)conheci um homem essencialmente este barro imóvel na estrada. 

De volta à minha São Luís, cheio de enleios, penso até agora em como pensar este homem num poema, já que pouco dele assumi e assimilei em minha corporalidade. Como paixão, não imagino aonde eu esteja. Então o que fazer? Me é especialmente permitido devanear na possibilidade de consumir essa verdade masculina na abstração. Entretanto isto não condiz com a realidade da matéria, notavelmente a humana, que grita como uma cigarra. Espero que vocês compreendam e considerem de alguma maneira essas indagações, não somente como um registro de um lovefail, mas na forma de mais uma maneira de amarmos a poesia. Em parte e sem compromisso, isso é o que imagino quando digo que 'quero pensá-lo num poema'. Num nível um tanto primário, mas faz parte. Outro parágrafo, por favor.

Venho pensando na religiosidade da poesia, no sentido do muitas vezes necessário desprendimento da materialidade, da vida frívola, da carne, enfim. Provavelmente por causa do arrebatamento, do mergulho inerente ao Orfismo. E na dificuldade de tomar aquele rapaz em meus braços como todo meu sistema pedia, acabo por dissolvê-lo num poema frio. De verdade, provavelmente, existem desvios em minha vida (vida de um poeta). Estamos cansados dos pássaros que escapam de nossas mãos, não?

De verdade, provavelmente, estruturalismos e críticismos à parte, nem sempre pensamos na molécula imensa e chorosa que é o humano por trás da poesia. Por trás da vida aparentemente silenciosa existem os poemas, que funcionam como olhos de um brilho considerado poesia. Aonde termina o ego do poeta e começa o ícone do artista, agora esculturado? Parece uma falha de cárater... Uma tristeza somente. My poetic illiteracy.

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