sexta-feira, 31 de julho de 2009

Funcionalismo

Trinta de julho é quase agosto, e felizmente vejo o tempo passar, pois não existem prioridades intensas até esta manhã; é que não faz bem a um espirito perturbado deitar-se para morrer... é esperar demais. Bem, perturbado? Sim, pois assim (creio eu) andam os inauditos.

Aqui em minha cidade (que é tudo que meus olhos podem pegar) um ladrão de ônibus se estragou: tentou fugir, mas levou um balaço no pescoço, morreu num galinheiro de quintal. Ontem no banco da frente do ônibus, vi uma menininha (quando adulta, talvez a reconhecerei algum dia, seus traços eram inconfundíveis), e pensava que seria uma pena se ela morresse agora, em meio a esta noite fugidia e seus malfeitores também fugidios. Estamos ao vento, somos folhas.

Porém, pouco sinto agora da consciência de ontem, embora que a consciência de agora seja maior que a consciência de sempre. Ontem a noite, pela ponte do São Francisco (que é a ponte que liga a São Luís velha à nova), tive consciência de meus olhos cheios de brisa e da boca já podre de tanto sal marinho. E de meus braços, que inventaram não sei o que para tocá-los. Mais uma vez tive certeza que fui um poeta do silêncio.

Como sentir que seus olhos são os únicos ouvidos, e que a inspiração agora equivale a um prazer sexual. Carne, carne, carne, é tudo que a insignificância me ensina. Em palavras mais específicas: matéria, matéria, matéria. Tudo que há são ônibus, que desafiam o tempo como eu, e as confraternizações frias do amor silencioso, seja lá o que isso pareça. Em outra parte, sei que estas e outras considerações invertidas que a manhã ou o cansaço da noite oferecem, bem, sei que elas estão mais perdidas que flores de ipê em outubro.

O espírito ou as intenções dos homens às vezes provocam gestos irreparáveis, como dores. Mas, eu penso no lado positivo: o Japão teve o maior crescimento industrial em vinte anos e o dólar baixou ontem a R$ 1,827! Ou quase isto. É sempre quase isto, profundo no aquilo, de algum modo, tomada a devida proporção. E todos os cantos têm vocação para serem gritos de morte ou despedida, e todos os homens tem estilo para serem os últimos de uma nação e todas as viagens têm trejeitos de serem somente de ida. E eu aqui (doente de algum modo...), esperando sem reserva a mim mesmo para o mundo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Contradição

Esta primeira palavra, que poderia ser ‘parva’ ou ‘estupidez’, talvez ‘fraqueza’, mas, enfim, como para tudo que se sabe demais sempre há exiguidade, creio que chegou a minha vez de dizer que em meu discurso diário não existem milênios, e que, o que agora foi falado mal carrega o presente, despindo-se assim, dos diáfanos e das exuberâncias do brilho ou da cor.

Como um homem que se esquece do cansaço, atiro aos sábios as sugestões; muitos sabem a poesia como uma mágica, mas o instinto é imensamente pornográfico, e já não permite dores que não as totalmente explicáveis pelo corpo.

Como Whitman, bem que gostaria que me permitissem estirar-me numa relva perfeita com o mundo aos meus olhos; mas o que acho, é que quebro o protocolo da vida imensa quando admito que o silêncio seja um lirismo ideal. Tenho dito e extinguido tantas formas, que não tenho percebido neste instante que estou pregado no papel; agora é tarde pretender sonhar a intenção dos versos e sua incauta extensão de sentido, que é o que salva e coroa o que se diz ’poesia’.

O mundo (creiamos, suas flores, seus corpos, seus espelhos, seus álibis) é consciente somente nesta metalinguagem fastidiosa, não-plena e ferida. Mas, qual é o ponto, a matéria, the matter, o tema de tantos objetos poéticos? A lacuna desta pergunta e de sua resposta está no dia de hoje: o que é ouvido, sentido e saboreado? Aonde os homens se percebem? Aonde se quebram?

Pois, homens, é certo que só falamos a nós mesmos, e claro que humanidade não tem nada a ver com huma(u)nidade. Tantos fátuos voadores para nos criticar... de resto, só o prazer nos une. Mas, criar poesia para quê, com o quê e para quem, de que forma e quando? Onde?

Agora que o corpo está frio e espera sua cama de metal, lamento ter que voltar à realidade, com seus salários mínimos e rescisões, programas de integração social e vigias sobre as mercadorias que precisamos. Até agora, comer bem e descansar, dormir até tarde e dançar me parece o poema mais adequado, pois todas as problematizações e restrições estão do lado de fora de minha cabeça, naquele seu baú acre de confusões.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para julho e nunca mais!

Ando guardando algumas palavras à poesia que se esvaem como considerações finais. Mas desde agora tudo que falo parece poesia, entretanto, tanto espírito falta! É a diferença além do verso e da linha.
Para variar, quero compartilhar minha leitura atual: Walt Whitman. Especialmente esta frase:

Contradigo-me? Pois bem, contradigo-me. Sou muito amplo: contenho multidões.”

E atrelando a isto o primeiro poema de Folhas de Relva, “Eu canto meu o próprio ser”, teci a certeza de que cantamos coisas efêmeras. Eis os homens. Eis as palavras poucas que dedico a mim mesmo, já que pouco entendo. Teci a certeza... das coisas fátuas!
Ainda pouco sabemos do futuro. Melhor, o futuro mal nos sabe. O que resta é tentarmos sorver do presente esta substância de vida numa insossa descrição. Por isso tantos cantam o amor ou a guerra ou escovas de dente e as calçadas. De resto também nos serve ficarmos calados debaixo das mesas ou das tardes.
Mas longe das coisas que foram feitas para restarem, existem as que concentram verdade. Estas só se revelam contra a luz, mas a de nós mesmos, a natureza quer ser independente.
Mas, e quando os olhos não estão inspirados? Pra ser inspirado existe o hálito, e chega de metáforas!
Chega de tudo isto que tem cheiro de algo pra se jogar fora.
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