sexta-feira, 27 de maio de 2011

confissão

Minha existência é preocupada com a ordem social da mesma maneira que um náutilo. A mesma coragem que me é necessária a confessar minha abulia é fundamental no entendimento de minha condição de sardinha que não imagina ser pescada, nem considera a metafísica das latas...

A ordem social, os sindicatos, os eleitores e os susseranos residem na mesma religião; e eu necessitaria duma conversão epidêmica para considerar a verdade. Entretanto é mister lembrar que 1. se a verdade é visível, talvez não seja sexualizavél, e 2. provavelmente ela (caso pese) se encosta na primeira esquina do Cosmo, aguardando um primo do Hubble para a compreta a R$ 100.

Verdade é que nem uma física ao contrário nos livraria da opressão, do condicionamento, da apatia, do crime. Eu mesmo não estaria aqui se não fosse pelas perdas. Um mundo nos conformes é algo que a matéria não permitiria.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

back and forth

ACHTUNG: ESTE POST DEVERIA TER SIDO POSTADO EM MARÇO... TERIA QUE VOLTAR NO TEMPO E RESOLVER ISTO, E ASSIM O FAÇO AGORA.

Bem, com um ano de atraso posto aqui meu primeiro mérito oficial, o primeiro reconhecimento em livro ever. Posto-o um ano somente, creio, devido à mudança de postura com relação ao meu fazer poético durante este mesmo período. Quando era mais verde, queria porque queria ser reconhecido, o que quer que eu fizesse poeticamente.... Quando, talvez através de algumas atitudes externas que não deleitaram minha personalidade, percebi que por mais que fosse novo e inédito, a atividade poética demandava uma energia que algumas vezes me deixava triste, outras consternado, alegre ou irritadiço. Coisa de um ano e pouco, minha vida como dito 'poeta' começou a se questionar... e a resolução caiu como uma manga em minha cabeça. Por que o faço? Para que? Quando fazer? Minha ingenuidade convinha muito bem à minha falta de propósitos.

Acontece que o ser humano (logo, sapiens) que usa instrumentos poéticos não o faz por nada e do nada. A Arte é muita coisa, como já tentei dizer no post anterior. Entretenimento, manifesto, compartilhamento, fuga ou nada mais... Hoje tenho, especialmente a poesia, na conta dos gestos que procuram contatos com outros gestos; o que é poético é um processo, como uma conversa, um beijo, e obviamente, um olhar e uma busca. Discorrer sobre o que é o poético (principalmente no escrito) num mundo como o nosso – e para que praticá-lo ainda – é algo fácil e difícil, por isso um fulano ou outro soltar que poesia é 'dizer o indizível'... O indizível é totalmente possível de ser dito, portanto, creio que não-ditos não sobreviveriam aqui... Um vez dito está dito, assim o indizível talvez nem exista... Poesia é revelação de perspectivas, de sonhos e déjà-vus à doppelgangers e paranoia.

Voltando ao poema, a recepção por parte dos pares foi morna, aí, percebi aquelas perguntas em minha mente cheia de pronomes relativos. Uma possível resposta estivesse talvez antes dessas relativizações, estava na natureza do texto participante da antologia (que você pode conferir melhores detalhes e razões aqui). Primeiramente, trata-se de um texto diferente da pessoalidade autoral que venho construindo em meus poemas. A proposta foi algo mais amplo, que alcançasse uma mensagem universal mesmo. O tema da edição que participei é 'Luce/Ombre' (Luz/Sombras). A delimitação de tema não foi problema algum para mim, uma vez que me certifiquei que era hábil e entregue o suficiente à minha intuição e sensibilidade, o que permitiu que construisse um poema meu e ao mundo, ao mesmo tempo.    
                                                    
Participar deste projeto foi algo muito interessante do ponto de vista pessoal, uma vez que havia intenções na pluralidade de vozes presentes na antologia. Vozes do mundo inteiro, a constar. Todos estavam discursando sobre destinos e realidades, não somente prezando um valor individual ou unicamente ligado ao poético itself. Serviu-me então esta experiência, em mais de que somente me dar algum destaque, mas essencialmente em provocar uma reflexão dupla: sobre o mundo e o eu (eu-poeta, digamos).

Fosse antes, estaria muito preocupado em agradar a qualquer um que por ventura o lesse, e quisesse comparar com meus temas pessoais e formas usuais. Não, não me preocupo. Nem com alguns ritmos óbvios (outros, nem um pouco) que aparecem no poema. Gosto da novidade quando me convém, quem tem problema com forma é sonetista e com tema é clássico. Como artista, creio que a única exigência que um público pode fazer a mim ou a qualquer outro artista, seja um escritor ou um DJ, é que não nos acomodemos, e que nos sintamos prontos a assimilar outras estratégias que renovem as vistas. De resto, o poema foi julgado (e quase ganhou o primeiro lugar, como fiquei sabendo depois) e disponível a todos aqueles que conseguirem se entregar à sua mensagem, à sua busca, ao seu estar. Ei-lo:

Mundos

Presumo além do clarão desta folha qualquer
forma que alivie — sem eu dizer sem eu pensar
— a Canaã que busco a prazo,
vontade além dos desertos de frio escuro,
aos bancos de areia tudo resumo: o mundo.

Chamem o tempo além do vento,
que tudo já é levado ao outro lado do dia:
a esperança sem padrão nesta terra, seus bens
compostos, estendidos na ilusão duma mentira
que é a não-razão de toda verdade extinta.

Que suster, que inventar, para qualquer
motivo que não lembre palmeira ou mar?
Profundamente na revelação desta fraqueza
aqui palavra se esconde inquieta a noite inteira,
expectante em sua memória de luz extrassolar.

O poema, aqui, em português, neste blog, é meio que exclusivo, uma vez que na antologia está em italiano com sua versão inglesa. Ele é uma lembrança que deixo a vocês, querendo somente receber como paga a consciência de que, quando algo é escrito em vão, que o seja totalmente propositado. 


domingo, 8 de maio de 2011

leaving

A estória dos anéis e dos dedos... Tanta coisa buscamos que não nos
perguntamos: por que não deixá-lo ir? Fica claro, nem tudo dorme no
controle. A estória dos anéis. Dedos que sempre buscam.

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Enviada a partir do meu dispositivo móvel

Sebastião Ribeiro

quarta-feira, 4 de maio de 2011

cinco minutos

não ando morto. só não me percebo.
não ando calado. há meu lábio de fumaça.
não ando a todo a mim.

                                    só estou aqui.
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