quinta-feira, 21 de outubro de 2010

vid&arte


Como começar? Bem, começando, provavelmente neste post não conseguirei estender todo o telhado que imbriquei, porque estava tão sonado, que não resisti. De qualquer forma, faço uma promessa (não procurem meus dedos cruzados-escondidos, por favor...) que, caso não consiga me estender como gostaria, ao menos um dedo consegui levantar. O que vim até aqui oferecer a ninguém são minhas próprias contradições. Por isso, de certa forma me considero um artista. Poderia não escrever um verso ou sequer pensar em tirar uma foto ou pincelar algo, etc., mas (salvem o clichê!) a vida só imita a tal da arte porque nem todo mundo tem, digamos, competência  e/ou espirituosidade pra tal. Vemos, já inventaram a mímesis, lembram? Indo e voltando, aqui e enquanto houver lucidez para cultivar o péssimo hábito de tentar prever o futuro, irei ter-me como contradição. E como bem sabemos, assim como eu, muitos de vocês pagam um preço pelas contradições. Só que no caso deste rapaz aqui, acontece existir olhos, boca, pele e mãos diferentes num corpo comum. E na maior parte da vezes quem me encontra vai cruzar primeiro com o não-físico de um humano. Não que'u seja louco, savoir ou coisa e tal, mas é que mamãe agora tem dores de cabeça muito fortes por perceber que seu filho não é deste planeta. Agora tiro da boca de Jack Spicer uma justificativa: My vocabulary did this for me.


Fora este parágrafo enorme que contradiz minha promessa de ser pouco, a contradição existe no que o Geral tem como ideia de artista e Arte. É contraditório concebermos que eu possa falar algo de arte somente como admirador silente, assim como testemunharmos limites da imaginação e percepção e linguagem serem materializados neste mundo por gente pobre, carente de alguns recursos, alguns miseráveis (muitos chegam até aqui, outros têm existências pobres, mentes de poucos recursos, concepções miseráveis). Aonde quero ou quis chegar? Nem sei ainda. É que ando muito a admirar Toulouse-Lautrec, Schiele e Klimt, aqui nas galerias internéticas mais próximas de mim. E aonde foram aquelas mãos? Foram provavelmente ao mesmo lugar onde deixei meu pensamento, que não é o lugar onde sento e não consigo tecer um comentário sequer sobre por que Schiele se deformava ou por que as Judith de Klimt sempre estão com os seios desnudos e a cabeça de Holofernes nunca aparece inteira, ou ainda por que elas têm aquele hairdo do caralho... Coisas, queridos, coisas.

Coisas que posso especficar, feito, complicado pensar num projeto de livro, numa experimentação da linguagem, quando se tem mais contas que o dinheiro consiga enxergar. O dinheiro! O dinheiro! Já dizia a canção: If I had a little money... eu teria já editado um livro e não estaria tão preocupado em agradar ao grego ou ao maranhense, whatever. São, também, amigos, as buscas que se fazem contraditórias, as buscas por reconhecimento artístico e/ou reconhecimento amoroso - este que não sei se poderia me ceifar de qualquer outro reconhecimento. A Arte, ponho-a aqui como contraditória porque é diversa, ou mais simplesmente porque as palavras são tantas e algumas pesam tanto, outras pesam a ouro, outras a pena... Tão leves que são efêmeras, por isso muitas vezes creio a poesia ser incomunicável. Mas com certeza comunica um pouco a alguns poucos aí. É a vida que vem sendo contraditória, e a Arte é uma faca no meio desse peito, que rasgando, vai desconfigurando o já sabíamos sobre o endereço de casa, a senha do banco ou o estômago roncar. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

pattern



certo – feito tua boca
bêbada – o que’u quis de nós
sem que o escuro te mandasse
passear no famoso vácuo
de meu nada

assim decidi um não
sabia contudo que estavas aqui
só que lá é impreterivelmente isso
parte em coxas
outro quarto em abraços

em muitas barcas te correm meus dedos
tão cheios de carinho que os tiraste dali
que já foi tua cama que já me conheceu e
me determinou secretário-geral
de nosso coisa alguma 

sábado, 16 de outubro de 2010

Overture


Sobre hoje ser sábado e mamãe estar brigada com todos aqui. Ah, e sobre becos escuros que existem em meus poemas quando eles são mais que um excerto da estética juvenil focalizada, são poemas feito por gente que come, bebe (ainda não compreendendo este verbo perfunctoriamente) e se sobressalta (!). Pois é, para muitos ofereço um texto que só se estende quente quando lido, porque meus senhores, sofro de uma talvez dislexia moral. Explico: é minha frieza e (des)confiança em tudo que é real ou necessariamente ligado ao entendimento. Alguns diriam que sou um lerdo ou um alienado. Alguns nem acreditar nisto irão. Talvez eu seja lerdo e alienado, e por isso permito que não acreditem em mim. Me pergunto, para que um foco, um intento (racionalmente falando)? Digo, porque o corpo manda quando permito que'le mande? Isto é ser menos corpo, certo...? E eu penso demais só quando não tenho que fazer um trabalho de literatura... Sou um pulha, mesmo.

Então d'alguma forma, sem a fama ou o respeito que eu sonho (ou sonhei) ou quero (ou queria) ou construo (ou construí), eu vomitei um pouco do eu mesmo para... eu mesmo, senhores! Sou muito de mim para mim mesmo, e por isso queridos, compreendam, gosto tanto de me entorpecer naqueles cheiros estranhos de banheiro de bar e caras suados, e também do sabor daqueles líquidos que até hoje me pergunto, desde que'u era criança, como conseguimos bebê-los e para que, mas eu sei: é para sermos menos hipócritas. Saio daqui então (ou um dia desses, saio de verdade, quem sabe?) pedindo ao Céu que não permita que'u apanhe se me der vontade de apertar a bunda gostosa de qualquer cara num banheiro qualquer. XOXO

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

fim


sim
meu corpo precisou conhecer o frio
no mesmo ritmo do solo que dorme
da pedra em queda

e muito jovens já precisamos de um enterro
que leve nosso sono sendo teu nunca meu
vice-versa em outros idem vário ibidem

domingo, 3 de outubro de 2010

tentativa de catarse nº tantos



De repente, não existirão mais anos que fundamentem meus chistes, minha ironia fina, minha arrogância, minha busca pelo original, meus gestos sibaríticos quase que planejados; verdade (e que até agora nem Deus conseguiu me responder) é a impressão do tempo preso, acreditem, entre os dedos. Antes, me cria blindado de clichês, e agora até um piano que finalize uma canção qualquer me arranca uma lágrima que, antes de sensibilidade, agora remarca o tal do sentimento que abre a todos e amarga muitos. Isso, em minha situação, é um caminho visitando a morte. 

Quero, portanto, mal ouvir, pelo menos, o zumbido, o quase silêncio divino, em vista do alívio que o Reino dos Céus oferece. Acreditar me faz desgraçado e salvo. 
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