terça-feira, 12 de maio de 2009

Tarde quente, sentido vibrante

Ando me lembrando da frase famosa de Pound: " Literatura é linguagem..." . Fim de semana passado, meu aniversário, encontramos, eu e meus amigos, por acaso, um dos poetas da expressão atual da poesia maranhense, Natinho Costa. Pensei, que incrível oportunidade poder conversar um pouco com um dos artistas de minha terra, que pensava eu, inacessivéis. Conversando, rindo e lembrando, cheguei a uma das máximas da escrita, o sentido. O sentido que há nas paredes e no asfalto, o sentido dos homens e das reticências, suas vírgulas e seus et coetera. Sentido este que evoca tudo que é primitivo, dos instintos, isto incluindo o instinto da palavra, e poesia é isto.

Existe um texto ótimo que Arnaldo Antunes escreveu e saiu na revista Oca das Letras, e ele fala bem disto. Com a poesia, recuperamos o aspecto e a função primeiras perdidas das palavras. E o que constatamos hoje em linguagem mundo afora não passa de um sinal dos tempos. As palavras também são testemunhas e vítimas do uso e do desuso da condição humana.

Viver - literariamente falando - a escrita em suas modalidades de uma forma que registre este acontecimento é muito bom, mais que isso, necessário. Mas as palavras não são somente sons, e tentar compreender e captar melhor o instinto da palavra é fazer valer a discernimento completo da mente e do prazer humano. Estamos assim, nos libertando de amarras sutis, que não nos permitem absorver melhor o sentido múltiplo da poesia, e da vida, porque não. Este instinto da palavra, acredito, é a mesma manifestação que acomete os bons poetas na unidade presente em cada Criação.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Novo tempo

Descrever e experimentar a existência são o sentido que define o fazer poesia. Longe da fama, do editores, dos festivais e concursos, vejo agora, perto dos vinte e um anos, que leiam e releiam o que escrevo, melhor, o que crio, mas só o que me restará é a certeza que sou um poeta. A visibilidade de qualquer maneira já não mais me atrai, e o que me faz continuar é a criação: sentir-me na novidade de cada dia e de cada pessoa, munido de olhos que não se esvairão em qualquer oportunidade; dizer a verdade, a mim mesmo ao menos, e sentir-me menos desamparado neste mundo. Concordo do fundo do peito com o que disse Léon Bloy, "Mesmo que não tivesse um único leitor, continuaria escrevendo, porque a verdade tem de ser dita nem que seja às pedras". Tudo isto se torna cada vez mais verdadeiro. Tornar-me melhor e melhor para mim, porque como em vários aspectos da vida, não posso libertar o criar poesia dos exercícios do ego. Citaria agora Henry Miller, em seu A Hora dos Assassinos, onde encontro reflexões e conceitos que me abriram os olhos e o coração, a alma disse baixinho '-Verdade...'. São tantos fragmentos, que só posso pedir que aqueles que escrevem de verdade e de coração, que leiam, e se ouvirem o âmago sussurrar '- Verdade... ', bem, tenham certeza que algo de superior existe em vossos caminhos.

Neste livro, Miller traça um paralelo entre seu viver e escrever com o viver e escrever de Rimbaud, que concordem ou não, em menor ou em qualquer outro grau, foi o introdutor (afamado, digamos) da linguagem e estética modernista no Ocidente, com sua Uma Temporada no Inferno. Não que me sinta próximo de Rimbaud quanto à sua vida e obra, mas as conclusões e impressões que Miller tira de suas vidas me elevam a uma certeza natural.

Enfim, se a fama que desejo, vier, que seja merecida. Mas principalmente que a sinta e viva, não a force ou a pressinta. Isto é deveras desgastante. Em A Hora dos Assassinos, Miller diz que Rimbaud quando parou de escrever foi buscar a essência perdida no escuro e no silêncio. As linhas de tudo já foram traçadas, estão no futuro e o futuro é Deus, e Deus é a Criação. No escuro e no silêncio digo mais coisas a mim mesmo e ao mundo, que entre todos.

Deixemos estar...
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