Beautiful photomechanical prints of Lotus Flowers (1887–1897) by Ogawa Kazumasa. |
Ocean, não tenha medo.
O fim da estrada é tão distante
que ela já está atrás de nós.
Não se preocupe. Teu pai só é teu pai
até que um de vocês esqueça. Como a coluna
não se lembrará das asas
não importa quantas vezes nossos joelhos
beijem a calçada. Ocean,
está escutando? A parte mais bonita
do teu corpo é onde quer que
a sombra da tua mãe pouse.
Aqui está a casa com a infância
reduzida a um único fio vermelho.
Não se preocupe. Apenas o chame horizonte
& você nunca o alcançará.
Aqui está o hoje. Pule. Prometo que ele não é
um bote salva-vidas. Aqui está o homem
de braços abertos o suficiente para recolher
tua partida. & aqui o momento,
logo que as luzes apagam, e você ainda pode enxergar
a tocha que some entre as pernas dele.
Como você a usa de novo & de novo
para encontrar as próprias mãos.
Você pediu uma segunda chance
& e te deram uma boca para estuar.
Não tenha medo, o tiroteio
é apenas o som de pessoas
tentando viver um pouco mais
& falhando. Ocean. Ocean,
levante. A parte mais bonita do teu corpo
é para onde ele se encaminha. & lembre-se,
solidão ainda é tempo que se passa
com o mundo. Aqui está
o quarto com todo a gente.
Os amigos que morreram passam
através de ti como o vento
pelos sinos. Aqui está uma mesa
com uma perna bamba & um tijolo
para fazê-la durar mais. Sim, aqui está um quarto
tão aconchegante e ligado ao sangue,
que eu juro, você acordará
& pensará que estas paredes
são pele.
(Versão em português de Sebastião Ribeiro)
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Someday I’ll Love Ocean Vuong
Ocean, don’t be afraid.
The end of the road is so far ahead
it is already behind us.
Don’t worry. Your father is only your father
until one of you forgets. Like how the spine
won’t remember its wings
no matter how many times our knees
kiss the pavement. Ocean,
are you listening? The most beautiful part
of your body is wherever
your mother’s shadow falls.
Here’s the house with childhood
whittled down to a single red tripwire.
Don’t worry. Just call it horizon
& you’ll never reach it.
Here’s today. Jump. I promise it’s not
a lifeboat. Here’s the man
whose arms are wide enough to gather
your leaving. & here the moment,
just after the lights go out, when you can still see
the faint torch between his legs.
How you use it again & again
to find your own hands.
You asked for a second chance
& are given a mouth to empty into.
Don’t be afraid, the gunfire
is only the sound of people
trying to live a little longer
& failing. Ocean. Ocean,
get up. The most beautiful part of your body
is where it’s headed. & remember,
loneliness is still time spent
with the world. Here’s
the room with everyone in it.
Your dead friends passing
through you like wind
through a wind chime. Here’s a desk
with the gimp leg & a brick
to make it last. Yes, here’s a room
so warm & blood-close,
I swear, you will wake—
& mistake these walls
for skin.
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*Ocean Vuong (1988) é um premiado poeta, romancista e ensaísta vietnamita-americano. Sua obra é permeada pelos temas da sexualidade, família, autoaceitação, o ser imigrante e as gerações nascidas pós-Guerra do Vietnã. O poema acima faz parte de Night Sky with Exit Wounds (“Céu Noturno Crivado de Balas”), ganhador do Whiting Award de 2016 e do T. S. Eliot Prize, em 2017. Site do autor aqui.