sexta-feira, 2 de junho de 2017

menino



O roteiro da parte II de um filme moderadamente bom, contido em todas as manhãs: é sobre como tuas orelhas me desesperam, intrigado com a vida. Tem a parte da fuga, da catarse: lágrimas e gozo do mesmo esconderijo.

E do sentimento – sei lá como chamam –, há a tentativa de medi-lo, caminhar descalço um longo rio. Dar sentido a essa caminhada, como às palavras, essas flechas que se desviam. Estou triste como coisa constituída e institucionalizada, quebra de uma regra auto-imposta sobre regressões. 

oriebiro, firefighter, mai '17

Temo lembrar da tua voz e corpo uníssono, que me põe acima desses passeios da rotina. E a questão em tudo isso é mais que desejo, se não nos veria além dos penhascos, forças abissais me perfurando o espírito: que razão (como um café ou um pente) há nisso, nesse ver que não se contenta em olhar? Por que queima meu corpo e o sentido é de nada se padeço de entender coisa alguma? 

Pudesse eu te conhecer pelos grunhidos ocultos de uma cidade escura... Na existência sozinha de um objeto solipsista, permaneço à beira do ponte, entre ciência e insistência, estoicismo e fogueira. 

Talvez isso seja o motivo de ser desse grito: antes de morrer, pisar em ovos, correr em brasas, dança esdrúxula na corda-bamba, queimar por queimar, além do adubo que serei.

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