segunda-feira, 4 de junho de 2012

cuspir ou escarrar


Apesar de estar num mood estranho para a coisa, decidi chorar um pouco sobre isto agora ou sabe-se lá quando; não me espero um post super argumentativo ou estilisticamente belo e longinquamente lírico, só gostaria de poder cuspir de vez em quando: ando a fuçar um poema aqui e ali, um comentário sobre o que fazem aquele ou um outro poetinha, e quanto mais perfuro, mais realizo que minha vontade é fugir daqui, mas antes, roer a corda que sustenta a poesia leve e fácil, mas, especialmente, o texto vestido em sete véus, coberto em perfumes e arabescos, ostentações góticas e art noveau... Uma poesia que não tem a ver com a pesquisa estÉtica do grande modernismo (ou dos grandes inconformados). Uma poesia que não se arrisca na bursite, no cheque especial, em tomar um ônibus bêbado. 

É extrema e absolutamente provável que meu discurso não tome contornos maiakóvskianos. Escrever é necessário, entretanto, quando excessivo, suicídio, se todo o povo ao seu redor não for pelo menos certa razão de tanta ânsia por expressão. Quando falo povo, falo do internamente famoso LÁ-FORA. Suicídio artístico se, não considerar a situação leitora neste Estado... 

- ADÉLIA ME AJUDE!!!!
- "AJUDO", DISSE ELA.

Certa vez assisti a uma entrevista com a direta Adélia Prado, em que dizia que, se pensasse no interesse de quem lê, nada poderia escrever. Concordo. Situação leitora aqui significa má preparação do espírito e da capacidade dos novos e nunca-leitores deste Espaço... Estes leitores que ainda veem a poesia como uma rima necessária às flores e amores de sempre... Leitores que ainda estranham Gullar no exílio, referências à inconstância humana em Bioque Mesito, poesia ciclo diegético em Domeneck... Isto é briga que meu molotovizinho não entra. E já que ataques nucleares ao problema seriam politicamente incorretos (f*ck the politics), digo que a mudança começa em cada gesto na consciência do leitor crítico, do poeta, da academia, da escola, da mídia, da cultura etc.

Vejo que não cabe a nenhuma das partes envolvidas ceder em totalidade, descer degraus. Falo em algo que Bioque Mesito inclusive me lembrou certa vez, falo de cantar seu tempo. Tradição? Originalidade? Herança? Etceteras? Tudo ressurge quando de olhos e ouvidos atentos, tanto da parte de quem lê, quando da de quem escreve. Poetar na língua do brasileiramente compreensível tchêrêtchêrêtchêtchê¹³²³¹²²? Não, claro. Falo de mudança de atitudes à conta-gotas (o estrago foi feito há tempos...) na maneira como a intelectualidade se disponibiliza ao leitor, vice-versa. 

Se fosse eloquente, discorreria longas páginas de nuvem sobre a função política da poesia, especialmente em momentos como estes (o sempre agora).  Moisés  já fez isto lindamente, além do já citado Domeneck, e de tantos outros... Me furto de tecer, neste instante, mais algum retalho, porque costumo guardar a minha tosquice a meus versos melados de indie music... E como poeta-antena, um sinal em HD exigiria atualização do software. Não sopro para o lado do discurso acadêmico, deixarei a alguém mais qualificado e (e Jesus permita) espirituoso a tarefa de traduzir este código chamado escrita como atitude. A complementar, penso que, além de cantar, viver seu tempo individual e coletivo demanda alguma catarse. Cada um tem a que merece... ou busca (ou acha), não é?

Em linhas tortas e gerais, daria meu exemplo: preparação, falar da vida. Escrever e ler na consciência de sermos pequenos e o planeta, lombada cósmica, onde alguns vírus fazem silenciosos o trabalho de metralhadoras. Ser natural, naturalmente. No sentido de que carros constantemente navalhem inocentes em sua velocidade;  no que o que chamam amor convide banalidade. No que se refere à perda e à assunção e fins eminentes. Não permitir que escorra o tempo do que faz diferença ao ser dito (e re-dito).

[e o meu livrinho está se coçando todinho o bichinho para brincar disto...]



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