sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

para que(m) serve um poeta?


Fato que serve para alguém que não questione tal.

Serve também para os de ouvidos cansados, mentes que imitam o ciclo da água e do nitrogênio, e também para aqueles que acham que ouvir o rádio já não é o bastante.

Serve para dar voz aos vegetais e ao que de vegetal em nós existe. Serve para fazer da vida algo que seja suficiente sempre faltando.

Serve para nos tornar próximos de algo tão misterioso ou hipotético como a energia escura ou o proto-indo-europeu.

Ou pode servir para qualquer outra coisa que se considere que sirva, uma vez que em meu país pessoas morrem por futebol e boa parte está em paz com a alienação e retrocesso político e sócio-cultural.

Serve também para não continuarmos entendendo as formas que o Cristianismo tomou.

Serve para nos ajudar a fugir do grosseiro inconsciente coletivo que nos deixa voluntariamente calados. Ou mesmo silentes, por anos.

Serve a aqueles que vomitam por uma causa e não sofrem de ejaculação precoce da opinião.

Serve para abrir o coração de quem foi usado ou se deixou usar, ou ainda aos que mal sabem a diferença entre uso e usura.

Serve para ser o que se é sendo Arte sendo tudo sendo vala.

Serve para ______________________________________________________________.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

3d


"I am enough of an artist to draw freely upon my imagination. Imagination is more important than knowledge. Knowledge is limited. Imagination encircles the world." [Einstein]


Apesar de nunca me ter sido dito, imagino que meus poemas, especialmente os mais recentes, carregam uma força contrária (mas não essencialmente negativa) à alegria pura e despretensiosa de viver. É uma reflexão ao nível mais próximo possível da negação da vida, mas ainda não seu fim ou o desejo de que se finde. A melhor imagem que represente isso seria a de alguém na ponta de um penhasco. Mas

____ o que me incita a este comentário é o fato de quão específicas algumas personalidades podem ser e de como pode haver compreensão eficaz da Arte numa recepção tão diversa. Semana passada, numa mesa com cervejas, ouvi de alguém que os outros componentes da mesa julgavam 'inteligente' que, não sabia o que pensar de um poema porque o que estava ali escrito só serviria ao entendimento de seu próprio autor. Sorte minha que comungava da situação de óculos escuros e estava sentindo uma considerável impressão niilista naquele momento, logo o colocado não me atingiu como o poderia.

Sobre isso dito, claro, na escala inconsciente coletiva de sua reprodução, eu só tenho uma coisa a dizer: pobre daquele que não pensa com sua imaginação. A existência por si só já é algo pitoresco -- por vezes risível -- o bastante. Me cansa ter de testemunhar quem ainda acha que é uma obrigação entrar na briga prática x teoria objetivo x subjetivo ar x concreto pelo bel prazer dos cartesianos e metódicos.

Não. Obrigado.

A não ser que você se permita imaginar (e não estou limitando o sentido da palavra imaginar ao quase sinônimo 'fantasiar'), pensar como ser humano completo -- lógica, sentimento, sensação, inconsciente, etc. -- que é (incluindo um pouco mais que o conhecimento acadêmico ou a solução empírica ou racionalizante), não vai adiantar refolhar meus textos que deixam a luz da vida mais um abajur que um holofote. 

Como poeta, como Artista, meu sentimento e visão de missão não é só compartilhar; é também distorcer uma situação, um fato, uma constatação, um ponto de vista... enfim, entender e fazer entender algo holisticamente. Poesia é considerar a existência e seus guizos em 3D.


yearning






Kymia Nawabi









Licença Creative Commons
gaveta, galáxia by Sebastião Ribeiro is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.