domingo, 17 de fevereiro de 2013

...e este post é deveras morno para a posição que devo adotar para o próximo livro




A hora e data acima não fará diferença em 10 anos. Referenciá-las me parece uma maneira ingênua de tombar o instante, como se algo de relevante acontecesse em instantes. A questão é: que vida essa que não se galga em coisas relevantes? 

Sinceramente, mesmo que de um jeito tímido, acredito que existir deste modo não vale a pena. Mas, claro não me seduzem (por mais que interessem) questões de suicídios ou dramas existenciais — não neste momento. Quero dizer sobre a falta de palavras para a maioria dos caminhos e gestos que tomo deste espaço que sou e ocupo. 

Há um livro atrás (ando num novo projeto), tomei a atitude franca em assumir erros e ingenuidades em busca de uma explosão, um derramamento, que justificasse e moldasse a necessidade de criar, e assim, dissecar, colorir, obscurecer para libertar, as mesmas horas dos mesmos dias de seu automatismo. Isso já faz 6 meses, creio. A franqueza em assumir uma técnica (uma postura) na composição de tal livro rebanhou de tal forma as palavras e as emoções que me vejo hoje o que chamam poeta. E, gente, que é ser poeta hoje em dia? Que se faz da poesia num lugar como este, em que, no mais das pessoas a inércia se gruda como gordura nas veias? Que se faz de mim, vítima por vezes de tal inércia? *

Leio no momento sobre a Geração Beat: um ensaio sobre ela em si, e também um livro com entrevistas dos grandes nomes: Ginsberg, Ferlinghetti, Kerouac, Corso, McClure, Snyder... Nossa, que sociedade era aquela onde estavam? (Leiamos) O que faziam! (Busquemos) Coisas que dificilmente testemunharia aqui/agora. Eu mesmo cria poder criar alguma mudança, pequena que fosse, visto que esperar alguém que o busque seja curtir o ócio por demais... 

Ainda no fio destas leituras, algo que Snyder disse foi algo como que era possível um movimento daquele, num espaço e tempo como aqueles, da forma como alcançaram as pessoas, não simplesmente porque houve quem desse o primeiro passo, mesmo porque, não esqueçamos, havia a poesia no meio: era possível digeri-la visto que havia estômagos preparados para tanto (claro, estômagos inclinados). E aqui? E agora? Tudo isto escrito até aqui nesta terra, mesmo o que vem de além, que fazer com isso? — pergunta o açougueiro, a costureira, o cobrador. 

Vamos ser francos: ainda que o desejo do artista (hoje) seja compartilhar sua criatura a todo canto, isto demoraria a se tornar um processo natural, demoraria mesmo: seria resposta de variados governos, variadas revoluções, variadas visões, anos se gastando loucamente, enfim, petecas correndo por um ladeira eterna, algo que forçasse a imensa maioria de todos a refletir, duvidar, exigir, multiplicar o conhecimento fino da vida, e não somente, como me parece nestes dias, bípedes caçando prazeres e ponto. Quero um ponto e vírgula. 

A poesia, Deus, sim, ajuda a abrir olhos e corações. A coragem de assumir gramáticas estranhas, posições fora do comum, revelações óbvias (ou não) da linguagem/pensamento/consciência, faz com que continue acreditando no texto poético, e já faz 10 anos e muitas tentações que reconheço isso. É para a tal verdade que corremos loucos para o horizonte. E no afã em dividir descobertas e modos de ver vida/mundo, o artista tateia o escuro em busca da mão do outro, não importa de onde venha, o que seja, o que faça. 

Creio que não me é oportuno queimar minha existência em prol da Grande Mudança, mas se artistas e profissionais do conhecimento, especialmente o humanístico, vertessem parte de sua energia no intuito de mudar um pouco a marcha no cérebro das pessoas, coisas boas e duradouras, no sentido da compreensão de Tudo, surgiriam. Não listarei modos de fazê-lo, porque sei que na base de cada área do conhecimento humano há um espaço que evidencie o porquê da ciência nela própria. 

Através de tudo isto que escrevo (que já não sei se vem do mesmo gatilho), desejo expor uma função desta criação humana chamada texto poético. Seja viagem na beleza, percepção da amargura, seja altos ou baixos, prós e contras, clichês ou não, a poesia, ao modo de uma drágea, contém um grão de algum ativo que faça diferença nos organismos. Por enquanto pode-se dizer que é uma questão de abertura, reconhecimento de tal. Levemos em conta que mesmo placebos, muitas vezes, fazem efeito.

*neste ponto converti meu drive de um relato pessoal para um post-relato pessoal

Licença Creative Commons
gaveta, galáxia by Sebastião Ribeiro is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.