domingo, 29 de dezembro de 2013

And there's no mystical design/No cosmic lover preassigned


caminhei calado por um tempo que alguns chamam existência. chegar até aqui é simplesmente chegar até mim. parte do que me sobrou quase deixado para trás lhe dei, até o instante em que percebi que de fato lhe tinha consignado.

num de repente mas que sempre repent presente algo em teu gesto inútil grita: "Vá!"

fui. daqui eu saio mas ninguém me tira.




vou falar até onde um ouvido me alcance. você não merece minha calma, minha polidez de água caindo em cristal.

que você se surpreenda encruado e apodrecido em sua própria incapacidade de dizer que não me quer mais.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

®


Pela noite, antes da vodca, distinguir formas passa por identificar as mesmas estampas nas costumeiras e esperadas camisetas pretas. 

Aos pés sempre caem os mesmos vermelhos, o mesmo couro rasgável no caminho de pedras já conhecido. 

Ainda fossem os mesmos dedos, os mesmos calcanhares, ombros, pescoços e nádegas fregueses – os olhos cansados pedem mais álcool deslizando trementes na falta de fantasias. 

Reverberam luzes, esticam-se os sons, afogamos torpores na direção de arte de todos estes lugares prontos, ansiosos por nossa carne ainda que mais pelo nosso dinheiro – este, gastamos masturbatoriamente, foda-se a sociedade do capital. 

Mas caímos contraditórios, cegos que nos banhamos em commodities do sonho & da expectativa. 

Repito-me sonolento após o shot de tequila: o corpo clama, o corpo clama. 

E o corpo continua alienado. 

E conheço parte das mentiras. 

Aceito quase todas as regras do jogo. 

A esperança ainda apita. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

bula iii


há uma coisa de descontente e incerto em cada linha que surge.

da maneira que surge, não prevejo forma ou tamanho.

também não se trata de dizer o indizível, e sim de forçar um discurso de maneira que seja socialmente tolerado, e consequentemente, sujeito a rótulos, envolto em clichês...

é quase um caju bonito de gosto não esperado.

vejo que é também algo um pouco acima da conversa do símbolo > ícone. são atos tímidos escondidos, gestos meio que pequeninos imersos em escuro.

mas ainda lhe ouço o quebrar dos ossículos das mãos, talvez veja um brilho denunciante de olho ou dente, um ofegar sobriamente ritmado que, obviamente, chama  embora ainda queira que nunca cheguemos ali.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

fim?



Se começasse pelo fim, diria: não é o fim. 

Mas é nesse hausto que há no meio é que se alça a existência, a fisicidade das coisas, daqui vem isso que nos lembra que ainda não é o fim, por mais que a caminhada seja pedregosa, o curso do rio não exista, fungos te saboreiem as folhas... 

A esperança, dizem, é a última que morre, mas conheço algo que a enfraquece lentamente: o desejo de calar-se. Não há canção, tropo ou refrão que te traga da dificuldade ou sirva a desgastá-la de fato. Mesmo as ladainhas rotineiras, que alguns simplesmente adoram desfiar, mesmo as ladainhas, já não servem a coisa alguma, mesmo as ladainhas que possam servir a um esclarecimento ou outro.

O melhor (ou não) de tudo é a grande oferta de conselhos, auxílios, promessas que existem para entupir o descontentamento, como me entupia de remédios que fazem dormir. *Você sempre será o escolhido, bola pra frente que atrás vem gente, as coisas vão melhorar (ainda que não seja um número exato, meu espírito consegue contar milhares de vezes o quanto essas coisas foram ditas a um só ser humano).* Quando?

Não temos o direito de ficar triste, de estar insatisfeito – comparando sua situação com a de outros que realmente vivem em desgraça –, de pensarmos que tudo poderia ser melhor. Dizem, não é? Estão em parte certos. Ou esperamos que estivessem? Querer que estejam é pedir muito, mesmo a um mal agradecido como eu.

Desde pequeno sabia que seria sempre um pouco cego, um pouco surdo, um pouco oco.




quarta-feira, 28 de agosto de 2013

selenographia



Selenographia, ORIEBIRO, 2013

aquele que desejo projeta uma menção de seus medos ao fundo destes sulcos em meu rosto. se pudesse os miraria como o menino que um dia fora e agora ignora em favor de seu cigarro, sua bebida, seu parceiro para a foda-desta-noite que ainda não surgiu; aquele que desejo ainda se nega ainda se reveste com as cercas que todas as vozes conhecidas lhe forneceram. aquele ali busca retoma toda uma mídia interna e nos nega um além da órbita da expectativa. eu mesmo me jogo ao sono muitas vezes na fuga de um inegável instinto precioso, tão imerso me acho num cofo de sibilos. então caio em rewind, tropeçando no que deveria ter sido, no que não acatei quando o corpo chamou enquanto aquele que desejo soprou-se, fez-se asa em sua própria beleza. redivivo feito um sinal, supondo sobre as marcas que estão em sua mente, retorno ao caminho estranho da sobrevivência no fundo destes sulcos, destes poços, ecoando o silêncio plástico encontrável no procellarum. 





quinta-feira, 4 de julho de 2013

sem braços ou pernas, do tamanho de um jabuti


os miolos: ainda presos em junho, sem espelhos ou discursos que lhe garantam imortalidade ou notoriedade ao que lhes é preciso saber: são miolos. 

os miolos em si, em questão, meus, se... whatever, se constituem o núcleo duma informação (até o momento) de funcionalidade pouco clara ao impulso presente nesse ato de dedilhar o plástico; quem sabe o fato de ainda estarem em junho, da falta de espelhos ou dos discursos pertinentes e relevantes ajude a esclarecer o silêncio por onde se esconde meu ativismo, minhas chamas, minha presença.

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este texto poderia ser sobre 'amor'.

mas é sobretudo sobre 'dúvida'.

provável que não encontres palavras que circundem as em aspas acima, mas é que elas se escondem no sono dos caracteres.

primeiro, deveria ser sobre amor porque sinto o tempo, os olhos, os homens.

segundo, sobre dúvida, porque não é certo o que se deve fazer quando oportunidades em ser amado não sugerem a completude de sua expectativa ou desejo.

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os miolos juninos entram na história como o esquecimento de certas teorias sobre o querer que a juventude se encarrega de fazer pesar.

ao mesmo tempo, os miolos juninos aparecem porque os reservo num canto de sonho incompreensível e pouco funcional. sonhei noite passada com um bebê asiático sem braços ou pernas e que tinha o tamanho de um jabuti. de onde diabos haveria ligação disso com alguém te querendo e não se poder retribuir?

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status: retribuindo as próprias expectativas.

com mais esperas.


terça-feira, 25 de junho de 2013

n° 169



Mas já não sei a quem pertence aquela parte de meu tempo disposta a compreender os que pouco me entendem. Passo passo observo. Nenhum movimento brusco -- não me interessa. Minha suavidade não implica condescendência, necessariamente. Soa como se o mundo não me apetecesse. Na verdade, anos dedilhando coisas deste coração acabaram por abrir caminho aos ouvidos. Quanto aos olhos, esperam. 

C-A-D-A-C-O-I-S-A-E-M-S-E-U-T-E-M-P-O. 

Não lavo minhas mãos, as contemplo.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

untitled poem - 6 months y. o.




N

soubesse
que seria assim
fácil:
da pupila imóvel
não me sinto mais
em hectares
nem traço de abismo
nem curva de rua morta
que de teus olhos
me viessem
feitos para serem
castanhos
& irritantes o suficiente
para que eu os cante
desviando-me deles
escrevendo
em meu destino
poucas novidades
talvez que parei neles
e não me encontrei
talvez que repeti
o mesmo fim conhecido
desde kaváfis ou antes
ou que não há ritmo
que conhecesse que
justificasse
frustração constante
ou ainda que
dez anos
do primeiro verso torto
voltei a escrever
sem sabê-lo
concluindo o fazer
em busca de projeções
travesseiros sonoros
ou velocidade cantante
da palavra insistente
que explica & esconde
algum gesto
suspenso
noutro
canal de tv


N


domingo, 21 de abril de 2013

inevitável feito abrir os olhos e ver ou não ver



colhes algumas ideias superficiais sobre a superfície, comparando bochechas e revestimentos antiaderentes, vezenquando se conformando, outrossim se rendendo á beleza do vocábulo 'outrossim'.

consequentemente, enquanto deslizas morro abaixo na consciência, um pouco de sangue na testa te lembra que, fato, revolves questões levemente mais profundas, provável sobre a impossibilidade.  


ab

só no quarto buscas uma voz em sol que te sustente na verdade indominável da impossibilidade. 

uma vez que teus lábios se tornaram polidos ao gosto das panelas de inox, a forma daqueles olhos, daqueles dentes, arrancam qualquer coisa em ti.

arrancam.




sábado, 30 de março de 2013

profit


tem gosto de terra corpo de nuvem mas faça dar certo. o valor dado ao caixa será acurado centavo a centavo. o recado a aula a conferência eficazes convincentes continuações. faça o amor dar certo leia aquele livro de capa rasgada. não queime o arroz não salgue a torta não pareça nada menos ou mais que similarmente estável. não espere nada menos que genial after listening to the dark side of the moon. faça o amor dar certo. seja prince charmant em torre com dragões e espelhos espelhos meus. faça o amor dar certo. os bons-dias serão sempre replicados. a luz sempre perfeita refletida em seu perfil. deus te ama e te prepara um editorial de moda. faça o amor dar certo. não derrame as palavras silêncios o fará.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

...e este post é deveras morno para a posição que devo adotar para o próximo livro




A hora e data acima não fará diferença em 10 anos. Referenciá-las me parece uma maneira ingênua de tombar o instante, como se algo de relevante acontecesse em instantes. A questão é: que vida essa que não se galga em coisas relevantes? 

Sinceramente, mesmo que de um jeito tímido, acredito que existir deste modo não vale a pena. Mas, claro não me seduzem (por mais que interessem) questões de suicídios ou dramas existenciais — não neste momento. Quero dizer sobre a falta de palavras para a maioria dos caminhos e gestos que tomo deste espaço que sou e ocupo. 

Há um livro atrás (ando num novo projeto), tomei a atitude franca em assumir erros e ingenuidades em busca de uma explosão, um derramamento, que justificasse e moldasse a necessidade de criar, e assim, dissecar, colorir, obscurecer para libertar, as mesmas horas dos mesmos dias de seu automatismo. Isso já faz 6 meses, creio. A franqueza em assumir uma técnica (uma postura) na composição de tal livro rebanhou de tal forma as palavras e as emoções que me vejo hoje o que chamam poeta. E, gente, que é ser poeta hoje em dia? Que se faz da poesia num lugar como este, em que, no mais das pessoas a inércia se gruda como gordura nas veias? Que se faz de mim, vítima por vezes de tal inércia? *

Leio no momento sobre a Geração Beat: um ensaio sobre ela em si, e também um livro com entrevistas dos grandes nomes: Ginsberg, Ferlinghetti, Kerouac, Corso, McClure, Snyder... Nossa, que sociedade era aquela onde estavam? (Leiamos) O que faziam! (Busquemos) Coisas que dificilmente testemunharia aqui/agora. Eu mesmo cria poder criar alguma mudança, pequena que fosse, visto que esperar alguém que o busque seja curtir o ócio por demais... 

Ainda no fio destas leituras, algo que Snyder disse foi algo como que era possível um movimento daquele, num espaço e tempo como aqueles, da forma como alcançaram as pessoas, não simplesmente porque houve quem desse o primeiro passo, mesmo porque, não esqueçamos, havia a poesia no meio: era possível digeri-la visto que havia estômagos preparados para tanto (claro, estômagos inclinados). E aqui? E agora? Tudo isto escrito até aqui nesta terra, mesmo o que vem de além, que fazer com isso? — pergunta o açougueiro, a costureira, o cobrador. 

Vamos ser francos: ainda que o desejo do artista (hoje) seja compartilhar sua criatura a todo canto, isto demoraria a se tornar um processo natural, demoraria mesmo: seria resposta de variados governos, variadas revoluções, variadas visões, anos se gastando loucamente, enfim, petecas correndo por um ladeira eterna, algo que forçasse a imensa maioria de todos a refletir, duvidar, exigir, multiplicar o conhecimento fino da vida, e não somente, como me parece nestes dias, bípedes caçando prazeres e ponto. Quero um ponto e vírgula. 

A poesia, Deus, sim, ajuda a abrir olhos e corações. A coragem de assumir gramáticas estranhas, posições fora do comum, revelações óbvias (ou não) da linguagem/pensamento/consciência, faz com que continue acreditando no texto poético, e já faz 10 anos e muitas tentações que reconheço isso. É para a tal verdade que corremos loucos para o horizonte. E no afã em dividir descobertas e modos de ver vida/mundo, o artista tateia o escuro em busca da mão do outro, não importa de onde venha, o que seja, o que faça. 

Creio que não me é oportuno queimar minha existência em prol da Grande Mudança, mas se artistas e profissionais do conhecimento, especialmente o humanístico, vertessem parte de sua energia no intuito de mudar um pouco a marcha no cérebro das pessoas, coisas boas e duradouras, no sentido da compreensão de Tudo, surgiriam. Não listarei modos de fazê-lo, porque sei que na base de cada área do conhecimento humano há um espaço que evidencie o porquê da ciência nela própria. 

Através de tudo isto que escrevo (que já não sei se vem do mesmo gatilho), desejo expor uma função desta criação humana chamada texto poético. Seja viagem na beleza, percepção da amargura, seja altos ou baixos, prós e contras, clichês ou não, a poesia, ao modo de uma drágea, contém um grão de algum ativo que faça diferença nos organismos. Por enquanto pode-se dizer que é uma questão de abertura, reconhecimento de tal. Levemos em conta que mesmo placebos, muitas vezes, fazem efeito.

*neste ponto converti meu drive de um relato pessoal para um post-relato pessoal

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

bula ii



faria um bem ~inexplicável~ ao Ego ter atrelado ao seu 1° livro um louro destes do mundo literário. merchandising quase que sem esforço. entretanto, é fato o fato de nem sempre todo o seu taco te garantir uma prêmio desses. a questão de gosto é relativa, já diria o c*. logo, como embalar uma obra poética, sem os louros garantidos, quando nem é unanimidade entre a massa leitora?

acontece que a Arte chama. e demonstra, compara, evoca, ajuda e completa o ser humano. não entrarei em detalhes sobre a Educação pela Arte (e então, pela Poesia), sua função, etc. só queria me lembrar que o que faço ainda é importante sob tanta burocracia no mundo. estou assumindo (mesmo com o espírito soberbo e luxurioso) alguns dos caminhos mais difíceis da vida, neste país, pelo menos: a identidade afetiva, a função laboral e as somas, diferenças, produtos & quocientes: a tal da poesia.

há 6 meses terminei meu 1° livro, que por sua vez demorou quase dois anos para ser composto. já cansei de revisá-lo (logo é provável que algo esteja errado rsrsrs), de pensá-lo, de envolvê-lo em mistério. quer dizer, quase esta última coisa. já assumo suas possíveis falhas, excessos & perspectivas quando de seu compartilhamento no mundo. e não ligo muito para o que pensam/pensarão/pensariam aqueles que só lhe veem os defeitos. graças a Deus, ele tem rachaduras. afinal, o que mais busquei nos 99% de lixo que produzi até chegar a ele foi deixá-lo HUMANO!

então, vazios me adormecem, me cansam, me assombram. a famosa abstinência. já contaram a vocês que uma das melhores coisas de fazer Arte (boa ou ruim) é o processo de criar? melhor ainda, criar refletindo, montando, desmontando, experimentando, selecionando... com textos isto é especialmente interessante. pois é, esta hora vem chegando e se configurando. o 2° rebento quer ser gerado. e senti necessidade de compartilhar isto com alguém. 

[pretendia discorrer sobre tempo, modernidade e juventude como meio de justificativa desta situação, mas acredito que basta por agora dizer aos velhos cultores da poesia e a aqueles que a querem num relicário encrustado de brilhos que, tenho minhas responsabilidades e, por mais que a poesia seja muitas vezes algo mágico, não desejo esperá-la cair do céu ou brotar somente quando o Halley deslizar na distância. a poesia, se bem acolhida por um artista responsável (tipo, eu rsrsrs), não vejo problema em produzir um segundo livro menos de dois anos depois do primeiro, que está pronto, mas nem foi ainda lançado!]

óbvio, cada poeta tem seu tempo, e respeito isso. falo para aqueles que, inacreditavelmente, se incomodam com situações como a minha. de antemão, digo-vos que não almejo produzir 'poesia em massa' (Deus é mais). eu, meio que como Pound pensava, desejo manter a palavra viva e meu tempo e(m) minha existência vivos na palavra. 

não desejo fingir que a poesia ainda é intocável e inacessível. ela é exigida como uma resposta a um insulto, a uma instrução de uma tarefa muito difícil, a uma mensagem definidora, a algo que, se não dito, te fará perder quem ama. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

fissipene (ou, não se solicita leitura deste texto)






este balão atmosférico ou bateria de carro e motor ou carvão queimando sem fim que Deus me deu encontrou a palavra

compartilhado

para um amor que não foi para mim desenhado nalgum espaço da longitude feita para tudo, menos ao encontrar-se humano.

meu gênio desnutrido, ainda que por Deus dado
encontrou a palavra

dividido

para o amor supracitado

ainda - digo mais - que semi-amargurado ao desespero propício porém assaz em fugir de amores alheios  suculentos desejados 

encontro a palavra

separado

encontro-me Hoje e a palavra

partido

encontro a palavra

quebrado

e também

rasgado

seguido de

ferido

aberto

decepado

abismado

penhasco

(então que um ritmo poético não vale a luta ou a lágrima, as mãos laminadas e sozinhas ou a idade vindo)

algar

queda

           despetalado


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