sexta-feira, 10 de agosto de 2012

I=∆P



I can't see the future
But I know it's watching me


Dias permanecem. 
Permanecem correntes (como rios? como elos?)?. 
Dias e suas partes, correntes em correntes 
— coar café; equilibrar-se no ônibus; fatiar cebolas; 
torcer, chorar, querer, esquecer pela televisão; 
suar durante o sono. 

Dias como correntes: 
cordas bambas? Cadeados? 
Orações?

Dias. 
Finjo prevê-los num sol mal acordado, ou mesmo no rosto estranho que encontrei na calota de um carro: obsessão secreta por unir sinais sem utilidade, para que não digam nada quando algo grande de fato acontecer. E não aconteceu ainda porque não quero, ou não posso. Ou porque me fará fugir mais uma vez do senso de controle. 

Mesmo que o futuro se torne um pacote a ser retirado do correio, os dias estarão lá, acorrentados a este pedaço que respira; ainda existirão os pressentimentos que, ainda que cientificados, não me convenceriam: me parece que revelações são possíveis, mas ainda tenho dúvida; e ao final de qualquer coisa, acreditarei em tudo.

Escolher algo para o futuro significa esperá-lo? Ainda que vá atrás, não o seria? E quando ele estourar em sangue, o que será? 

Espera. 

Espera por mais futuro. E com as vísceras enlaçadas ao sono cada vez mais curto da luz do dia, permaneço fingindo que prevejo o futuro. Mesmo buscando-o. Ou esperando-o. Ou vivendo-o.



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