sábado, 21 de julho de 2012

realidade/realização



Poetas modernos (espiritual, não cronologicamente falando), mais que creditarem à palavra o poder da materialização, seja em lembrança ou, nalguns casos, fisicidade, também a descobrem de sua função na usualidade, seja no contexto da arte poética e sua técnica e intuições, seja em sua possibilidade na boca do povo. O poeta, há muito, é parte do povo; digo, se tratando de sua atual e necessária entrega ao que o homem comum sente e pensa, que similaridades existem entre este homem e o poeta, que factualmente não são tão diferentes e distantes de si assim como nos querem fazer pensar.

Pessoalmente, como alguns sabem, vejo a poesia (ainda que em seu reduto escuro, midializada como quimera ou ornato às pessoas cotidianas, preocupadas com a vida itself, feito nossos amigos bichos o fazem  – culpa não da política literária, e sim da Educação) como possibilidade pedagógica neste mundo cubista que vivemos. A culpa, entretanto, de sermos confusos brinquedos do Poder ou de nós mesmos, não é do cubismo deste mundo de hoje, mesmo porque caminhamos para isso; o busílis que incomoda é a ineficiência de nossos movimentos emocionais ou prioridades intelectuais, que nos confundem mais ainda, causando distração mortal, distância de uns dos outros, medo, desamor, spleen, Vazio.

Exemplo do Vazio imemorial e significativamente engrossado por hoje ser hoje, é a busca/falta/impressão do a(A)mor. O corpo pede, a mente complica, o espírito chama e a cultura ajuda a sofrermos sequer uma (e de preferência, potente) vez deste bem-mal-talvez, que nos divide e define como seres do tipo essencialmente instintivo ao social – ou não.

Existe um poeta que descobri por acaso. Manuel Iris. Como o descobri? Em minha frequente busca virtual e in loco, por explicações e comentários sobre o que fazer de nós, poetas, e de nossa rede, a poesia, nestes tempos doidos, tridimensionados, iPadianos. A explicação que este querido deu (e alguns poemas do moço) você encontra em links aqui. O que busco, com toda a consideração acima, é um viés onde possa trazer um poema deste, poema que não me conquistou e 'disse' a mim somente pela beleza, ou pela clareza e limpeza. Conversou com uma situação frequente neste que vos fala, situação que certa solidão traz, e mais, uma solidão pequena, sim, mas cheia de fantasia, possibilidades e desejos ao futuro.

Não vou descreditar meu próprio discurso, quando de como vê, o poeta, sua palavra; que uso dela faz, que busca em continuar usando-a, que força (a)credita haver nesta constante humana, que é a possibilidade da expressão escrita. Faço/fiz uso do objeto poema para que buscasse e implantasse em frente a meus pensamentos envoltos na complexidade de um desejo por algo físico, o ser quisto (que dizê-lo amado, acho que seria insciente de minha parte), deitando-o como se fosse algo que se comesse no chão, alimento para o silêncio do son(h)o. Manuel Iris vem, e pá! na minha cara: como uma mãe que impõe um corretivo ao filho, encontrei no poema abaixo, em sua sutileza, a clareza que qualquer ser humano pede/merece para viver neste mundo.

Ampliando meu escopo de permissões em poesia, e claro, mais que isto, vida mesmo, Iris me tornou mais sozinho, porém, não me deixou de mãos vazias: deixou o conhecimento de que, a palavra em sua força ainda pode nos permitir viver grandes realidades, mas nos priva grande porcentagem das realizações. Agora, conhecido um caminho a mais, estou ainda mais certo de duas coisas: 1. o reconhecimento entre leitor (qualquer que seja seu tipo) e autor é algo essencial e pontual; os esquemas situacionais que regram estes encontros é vário e particular; e, 2. poesia, sim, para o literato ou não, é sim conhecimento, e do tipo imprescindível a todo ser: de vida, para a vida.


La decisión de oficio


Hoy concluí que por pudor
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::o por mínima prudencia
no debería de escribir poesía
con esta cínica intención de perpetuarte:


No le haces falta a la literatura.


Así que voy a hacer silencio
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::con tu voz
y con tus pies
y con tu paso de musita inalcanzable.


No le haces falta a mis espejos ni a la calma


ya no te pondré aretes
ni volveré a llamarte
ni voy a hacerte Salmos cuando estés dormida
porque el poema, escucha atentamente
no está esperando, como yo
que te aparezcas.


(Manuel Iris)


A decisão do ofício


Hoje concluí que por pudor
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::ou por uma prudência mínima
não deveria escrever poesia
com esta intenção cínica de te perpetuar:


Não fazes falta à literatura.


Então que farei silêncio
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::com tua voz
e com teus pés
e com teu passo de musinha inalcançável.  


Não fazes falta a meus espelhos nem à calma


não te porei brincos
nem voltarei a te chamar
nem vou te fazer Salmos quando és dormente
porque o poema, escuta atentamente
não está esperando, como eu
que apareças.


(Iris, tradução minha [com medo, mas minha])

“Mi vida es testimonio de que la poesía, la lectura de poesía, hace que la vida valga un poco más la pena. Agradezco, por ello, a quienes la han escrito, por hacerme sentir acompañado entre los hombres. La poesía es siempre eso: soledad compartida”, afirma Manuel Iris (Mérida, 1983). (fonte aqui)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ou isto ou aquilo


Aparando o que será meu primeiro livro, lembrei de um poema recorrente em minha vida, o Em meu ofício ou Arte taciturna. Lembrei, porque tinha lido um texto do mexicano Manuel Iris sobre funções da poesia, e lendo meus textículos, pensava como serão (ou não) recebidos. Considerei minha idade, minhas aparições e apartes como poeta, mas, o importante destas divagações foi a relembrança do porquê de fazer poesia, e de se fazer poesia nesta cidade, neste estado, país, continente... galáxia, etc. 

Eu que vezoutra leio um comentário ou outro dos 'doutores', 'cânones', 'monstros' sobre o que é ou não a poesia, e de que forma a tradição se descobre aqui ou acolá, tenho minhas reservas com paroxismos, embora respeite o dizer de cada um. E penso também que, no fim das contas, só teremos a responder a nós mesmos, se gostando ou não do que alguém escreve. Não à toa, faz meio que uns 400 anos que a poesia se tornou, essencialmente, um feito social, porém solitário, e nem sempre sociável

Diria Thomas, é para a vida estas palavras que deslizo, é pra criar beleza, é pra chamar atenção, é para o ego!, embora como falei acima, paroxismos são estranhos. Escrita esta obra por vir, espero que ela cumpra sua função: continuar a tradição de propor situações e artefatos humanos noutro sistemas de coisas e ideias (Iris). Mesmo sendo um poeta sujo de albume, existem questões de talento e técnica que se jogam por cima da expressão deste sistema para-tecnocrático e oficial (a Arte em geral, né?), e creio que isto é a real preocupação dos acadêmicos. 

De qualquer modo, dentro do poema que seja, mandando ou não a tradição ir-se à merda, pensando ou não em funções para a poesia (muito mais questão do zeitgeist que dela em si), o lugar no mundo do Artista é sempre levantar as saias, socar um cretino, enfim, cometer crimes, em níveis variados, mesmo nos da ingenuidade. A função da poesia é agir contra (por vezes, a favor) o fluxo de erros que nos impedem de ser feliz, agir contra a clausura da convenção moderna, fazer perder o ar como o faz um beijo roubado [mas sempre falhando em gravar isto no papel sulfite].


quinta-feira, 5 de julho de 2012

you just ain't receiving





You'll be given love/ You'll be taken care of/ You'll be given love /You have to trust it
Maybe not from the sources/ You have poured yours/ Maybe not from the directions/ You are staring at
Twist your head around/ It's all around you/ All is full of love/ All around you
All is full of love/ You just aint receiving/ All is full of love/ Your phone is off the hook/ All is full of love/ Your doors are all shut
All is full of love!/ All is full of love/ All is full of love/ All is full of love/ All is full of love/ All is full of love



Não mais manhã, nem tarde ainda, mas quero permanecer adormecido, com os olhos sentados. Sinto por mais alguém, mais dois, mais treze, mais um mundo. Sei que sinto e sei que não pedi por sentir isto à Criação. É de fábrica. E o que não é Criação, me fabrica? Penso esta dúvida toda vez que tomam isto que chamam de 'amor', desembrulham de Deus e afirmam que ainda é a mesma coisa. Daí filosofias vão e vem, mas também foram fabricadas? Por que só a voz dos homens me chega? E por que nego a maior parte delas? Por que duvidar de vozes sem carne?

Adormecido, sem direções que se queira seguir, predizem minha vida como se nada soubesse dela. Tomam o gato com quem brincava. Me obrigam a dormir quando a casa ficou sozinha, e vamos para muito longe, onde o menino não pode ir. É assim desde os 5 anos e desde 5 séculos. 

Não precisaria sequer pronunciar 'amor'. Deixasse-o pousar como o mundo ao nascido. Peço a quem sabe: não meça o amor, não conte o amor, não busque o amor, considere não esperá-lo como todos os olhos do mundo o esperam; olhos que se fazem nossos, olhos que não pertencem sequer aos donos.


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