domingo, 27 de maio de 2012

PROBLEMA ALGUM!



problem_nothing_problem, Oriebiro, 2012


Eh... penso que sejam figuras de alguma coisa (talvez, linguagem) ou um código meu e ancestral ao mesmo tempo, que espuma água negra sob meus olhos, e sei, que o bullshit que vier deverá ser poesia. Se é poesia, é problema.

O problema é quem ainda em redor de mim pense que poesia não se pensa.
O problema é a educação deste Estado, que busca uma Antiguidade a quem culpar, e assim justificar a alguns o caráter destrutivo de ler para pensar.
O problema é que o poético tem a força duma guerra, mas ninguém morre e o sangue sempre terá cheiro de livraria gélida.
O problema é a necessidade da mudez. A facilidade da mudez. A incompreensão da mudez.
O problema é que achamos ser um problema termos problemas.
O problema é crescermos sem dar-nos conta.

Há problema em falar de flores e amores.
O problema é o que hoje, é o amor. O problema é o que hoje, é a flor. Ambos comunicam beleza, entretanto, se gastam e não param de germinar.
O problema é estar _________________________________ nas tardes de domingo sem cerveja e happy faces.
O problema é ser _________________________________ na percepção dos ângulos que guardam os relógios todo santo dia.
O problema é a poesia escondida em sua quitinete, o poema guardado para o dia da festa, o poeta-camisa-nova-de-domingo.

O problema é esperar.
Esperar é temer.
Esperar e temer.

O problema é temer.

Temer.
Temer.

domingo, 20 de maio de 2012

indução (ou, e se...)


Minuto a minuto estar ciente é suportar uma chama nas mãos cujos dedos não consigo te convencer a enfileirar aos meus mas enfim minutos trotam num pensamento calado que parece estar orando por teus olhos atrás das cortinas amareladas tento sem rodeios te cobrir em minha razão de papel jornal insisto em te pedir que não percamos tempo não daremos tempo ao tempo a isto que nos faz unidos ou ao menos persiste em me boquiabrir  – isto é insanidade é quase certo que acertaram-me os joelhos a porrete e me jogaram contra os galhos.

Nestas palavras experimento uma ponta de máximo.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

camisa gola v



...e me vendo naquele espelho de provador, não pude refletir meus silêncios do modo como sempre faço: com as mãos no queixo. Isso tudo (em música interna) por causa da visão de um corpo novo, uma proporção estranha, um andar sempre desconfiado em andar: tudo eu e meu.

Estranhar-me assim deve ter vindo a delimitar meu desejo ou o desejo em desejar, tão comum a quem quer ser "tão", como eu. A principal forma a ser posta em cheque pré-datado foi a necessidade física, psicológica, cultural ou histórica de simetria: onde estarão meus outros lados, meus outros pares de lábios, os quatro braços, muitas pernas, vários quadris? Vieram então recomendações ao meu estado de 24 anos e o quanto isto REALMENTE vale na linha do tempo. E vale? BUSCO TODO O TROCO POSSÍVEL NUMA POSSÍVEL VENDA DE MEUS VINTE E QUATRO ANOS.

Percebo então que não há problema algum (ainda), há busílis. A busca. Por qualquer que seja ou esteja qualquer coisa. A busca. Então, sempremente, me calo. 

Então volto, sem Deus que me guie through musica universalis 



quarta-feira, 16 de maio de 2012

ócio recreativo



Durmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordodurmacordo


de repente me exijo escrever mas o quê?
Seria mais fácil transcrever um tudo certo do nada ao um leitor escaldado, porém, o que será escrever do nada um tudo se construindo num leitor recostado?

Pênsil, a dúvida permanece com gosto de devir necessário, mas lento, arrastado. Pêndulo, a dúvida não teme o fim de quem duvida. Ela se esconde nalguma estrela, talvez, e resurge quando não se tem certeza do fato de que mortos se chacoalham em suas tumbas, ou que estão lá-além-longe somente e quem ainda é de carne, osso e pedra tem de tragar o tempo e suas dobras lúbricas em três cartelas de cigarros por dia.

Contudo, ainda virá a morte, a consciência do que é vivo, a dúvida... e o tempo?
Dúvida que só há nisto-eu-vivo até que a morte os separe num instante que não sei.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

apenas mais uma sobre a perda da inocência...


Este é mais um poema de Acorde que gostaria de compartilhar com vocês. Certo que estou meio numa nova fase, mas este primeiro passo é importantíssimo, tanto que foi dado. Creio que este é um dos textos mais acessíveis aos de sensibilidade. Curta mais de Sebastião Ribeiro em Acorde aquiaquiaqui, e, claro, AQUI:



choro por inteiro
porque um dia fui cercado
em braços brancos


por não saber falar
a consciência não existia
especificamente para mim
seu dono seu caminho


hoje sem desculpas
em busca de um motivo
choro sim que quando precisei
articular um balbucio ainda não
conhecia ermos antárticos nem
enfrentava contradições inteligíveis


choro entretanto pela fenda
tão disposta à fundura entre
um gesto e outro
– o que conduz alguma afasia
porque ainda as repetições não
somente são flores em árvores em
avenidas em pedras em homens


choro certo que nem
toda opção se prende ao corpo
(já tão cheio de assovios)



certo que hoje o corpo
não pareceu escolher a coerência
que tornasse a noite eterna
mas é que quando acabarmos
não reconhecerei o passado
em que me calo visto que
não precisava de palavras





ef


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