sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

estalo



Apesar de ainda ser jovem, apesar de somente nos últimos dois anos poder dizer que angariei vitórias mais consistentes em relação à minha arte (publicação numa antologia internacional e 2º posição num festival de poesia local, posso dizer sem receios que tenho alguma experiência, experiência da experiência poética. Obviamente, não terei pachorra em defender meus versos mais inocentes e despretensiosos de 10 anos atrás, mas o que acontece é que todo esse processo serviu de aprendizado ao domínio da linguagem e das imagens que busquei trazer. Mais que isso, importante destacar que estes anos que passaram e que continuam a passar me vestem de uma consciência grande, de que a poesia, como qualquer outra manifestação artística, é vária nela mesma; é um reflexo de seu todo, a Arte, e assim sendo, é diversa e carrega propósitos plausíveis e condenáveis até certo ponto.

Quero chegar ao ponto daquela máxima, de que 'tudo em excesso faz mal'. A ideologia, o motivo puramente estético, o concretismo, o engajamento, o sensualismo, etc, tudo isso e outras coisas, por exemplo, fazem mal ao propósito artístico em geral, especialmente em poesia, quando considerados excessivamente. A poesia, pelos tempos que vem sobrevivendo, serviu e serve a vários propósitos, mas pessoalmente, me sinto incomodado quando ouço um artista qualquer proferir que sua arte só serve 'a fins estéticos'. Isso não é bom. Teria de discorrer linhas e mais linhas sobre o que considero importante por ou sobre a função da Arte, mas é que não tenho tempo agora... Que posso dizer é, função neste caso não tem absolutamente muita coisa a ver com utilidade. Para tentar explicar isso teria de desfiar considerações sobre o que é Arte, poiesis, tecné, etc, só que não me sinto completamente imbuído destas situações a ponto de expressar um juízo correto e defensável. Desculpem-me, tentarei me redimir disto em breve.

A cargo de desencargo de consciência ou consolação, ou o que quer que vocês precisem no momento em que tentam ler e compreender este post, considerei estender minhas motivações neste instante com três textos especiais. Eles, cada qual a seu modo, em seu contexto ou na possibilidade de extensão de seu contexto, trazem algumas sugestões a respeito de como o artista vê sua arte ou para que a constrói ou qual é a natureza do artista (o de verdade, não o famoso por ser famoso da TV). O primeiro é um manifesto, achado no blog da oportuna Maria Rodrigues, o Chapelaria . Como a própria explicou em seu espaço, apesar de ser um texto que considera essencialmente a arte do teatro, pode ser entendido como considerações úteis a qualquer arte, e na minha curta opinião, especialmente aos novíssimos cultores de Arte. Leiamos aqui o texto e reflitamos sobre: 


POR UM TEATRO MATERIALISTA


Por Márcio Marciano e Sérgio de Carvalho

A Companhia do Latão tem debatido internamente algumas questões que dizem respeito à sua utilidade como produtora de representações. Para se opor aos modos hegemônicos da atividade artística numa sociedade orientada pela lógica do Capitalismo tardio (cujo corolário é a transformação perene da cultura em mercadoria e da mercadoria em cultura) essa reflexão deve provir de uma ação cultural como prática política. Procuramos resumir os temas debatidos nos itens expostos a seguir:

O que dá sentido político ao teatro é a forma como se organizam suas relações de produção. É na sala de ensaios que tem início o processo de politização do Teatro. O modo como se organizam as relações de trabalho entre os integrantes do grupo determina o caráter político da encenação. O esforço para que seja superada a divisão entre trabalho material e trabalho espiritual na construção da cena deve se estender, numa segunda fase, à relação com o público. A politização do ensaio contagia a forma do espetáculo e abre uma nova perspectiva de recepção crítica. A forma processual da obra - decorrente da atitude coletivizante do trabalho - suprime as hierarquias entre os artistas no palco, desmistifica a imagem artística, e busca tornar companheiros de jornada simbólica os homens do palco e os da platéia.

O que determina o valor da produção artística é seu valor de uso.
Submetida aos padrões do mundo da mercadoria, a produção artística é levada a alienar sua utilidade em favor da pura circulação. Como uma sandália que não se destina mais ao pé, mas feita para ser vendida, o artista passa a trabalhar para ser reconhecido como artista, gasta sua energia produtiva e econômica para aparecer nos jornais, para ser valorizado como mercadoria da cultura. Torna estética não sua obra, mas sua condição de mercadoria. Afasta-se dos conteúdos da arte e estetiza, em abstrato, seu modo de ser. Comporta-se como as mercadorias, cuja aura construída pouco provém do conteúdo do produto e muito das emoções genéricas que lhe são atribuídas. O artista, assim constrangido, persegue toscas imagens da celebridade enquanto lamenta idealisticamente a corrupção dos valores artísticos. A crítica ao império da circulação é, contudo, insuficiente. Pode levar à defesa da arte absoluta, de que a obra encontra seu fim no seu sentido puramente estético. Para nós, não se deve ter medo do debate sobre a função da arte. Consideramos legítimas quaisquer utilizações pedagógicas, assistenciais e humanitárias da arte, ainda que nossa pesquisa seja de ordem estética.
Estética naquele limiar em que a estética deixa de ser estética: nosso interesse artístico é a reativação da luta de classes.

É necessária a invenção de alternativas de circulação.
A lógica da circulação impregna e confunde os produtores da arte. Inocula nos organismos da cultura doenças como o marquetismo, o personalismo, o agradismo hedonista. A crítica à mercantilização da arte é inoperante se o trabalho artístico continua preso aos ditames de uma imprensa cujo critério de verdade provém das pesquisas de mercado. De outro lado, a produção que conta com o apoio estatal não está preservada da influência mercantil quando apenas - no desejo de corresponder ao sentido público de sua missão - confere aparência "social" aos seus produtos, sem alterar conteúdos e práticas teatrais. Os produtos da cultura devem servir a processos coletivos, e não o contrário. Por isso, novos modos precisam ser inventados: associações de espectadores, contatos com movimentos sociais, intercâmbios entre grupos. Cabe também aos artistas a organização de novos sistemas de circulação de suas obras. Não basta a interlocução isolada entre produtores culturais, à margem da sociedade. É preciso produzir formas capazes de incluir a sociedade como um todo numa perspectiva revolucionária.

Anticapitalismo, pesquisa estética e revolução.
A pesquisa estética terá sensibilidade revolucionária quando desenvolvida por produtores empenhados em um projeto coletivo anticapitalista.


Companhia do Latão (grifos meus) - Lembrando que um ponto ou outro é sempre bom de ser contextualizado e discutido com mais largura, especialmente a concepção de coletividade na obra artística.
O outro texto é um... manifesto, também. Alguma coisa diferente do primeiro, mas nos traz uma visão do que é o Artista. A primeira vez que o li gostei muito, pois unificou o sentido do que é o Artista, independente da Arte que o denomina como tal. Certo, toda regra tem sua exceção, mas ainda creio piamente que o Artista genuíno não é um acomodado, e se o for, não é um tipo comum de tal. Marina, é com você:


Manifesto sobre a vida do artista

1. a conduta de vida do artista:
- o artista nunca deve mentir a si próprio ou aos outros
- o artista não deve roubar idéias de outros artistas
- os artistas não devem comprometer seu próprio nome ou comprometer-se com o mercado de arte
- o artista não deve matar outros seres humanos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
2. a relação entre o artista e sua vida amorosa:
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
3. a relação entre o artista e o erotismo:
- o artista deve ter uma visão erótica do mundo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo
4. a relação entre o artista e o sofrimento:
- o artista deve sofrer
- o sofrimento cria as melhores obras
- o sofrimento traz transformação
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
5. a relação entre o artista e a depressão:
- o artista nunca deve estar deprimido
- a depressão é uma doença e deve ser curada
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas
6. a relação entre o artista e o suicídio:
- o suicídio é um crime contra a vida
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio
7. a relação entre o artista e a inspiração:
- os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
- Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
- o artista é um universo
- o artista é um universo
- o artista é um universo
8. a relação entre o artista e o autocontrole:
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra
9. a relação entre o artista e a transparência:
- o artista deve doar e receber ao mesmo tempo
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
10. a relação entre o artista e os símbolos:
- o artista cria seus próprios símbolos
- os símbolos são a língua do artista
- e a língua tem que ser traduzida
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
11. a relação entre o artista e o silêncio:
- o artista deve compreender o silêncio
- o artista deve criar um espaço para que o silêncio adentre sua obra
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
12. a relação entre o artista e a solidão:
- o artista deve reservar para si longos períodos de solidão
- a solidão é extremamente importante
- Longe de casa
- Longe do ateliê
- Longe da família
- Longe dos amigos
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de cachoeiras
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de vulcões em erupção
- o artista deve passar longos períodos de tempo olhando as corredeiras dos rios
- o artista deve passar longos períodos de tempo contemplando a linha do horizonte onde o oceano e o céu se encontram
- o artista deve passar longos períodos de tempo admirando as estrelas
no céu da noite
13. a conduta do artista com relação ao trabalho:
- o artista deve evitar ir para seu ateliê todos os dias
- o artista não deve considerar seu horário de trabalho como o de funcionário de um banco
- o artista deve explorar a vida, e trabalhar apenas quando uma idéia se revela no sonho, ou durante o dia, como uma visão que irrompe como uma surpresa
- o artista não deve se repetir
- o artista não deve produzir em demasia
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
14. as posses do artista:
- os monges budistas entendem que o ideal na vida é possuir nove objetos:
1 roupão para o verão
1 roupão para o inverno
1 par de sapatos
1 pequena tigela para pedir alimentos
1 tela de proteção contra insetos
1 livro de orações
1 guarda-chuva
1 colchonete para dormir
1 par de óculos se necessário
- o artista deve tomar sua própria decisão sobre os objetos pessoais que deve ter
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
15. a lista de amigos do artista:
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
16. os inimigos do artista:
- os inimigos são muito importantes
- o Dalai Lama afirmou que é fácil ter compaixão pelos amigos; porém, muito mais difícil é ter compaixão pelos inimigos
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar
17. a morte e seus diferentes contextos:
- o artista deve ter consciência de sua mortalidade
- Para o artista, como viver é tão importante quanto como morrer
- o artista deve encontrar nos símbolos da sua obra os sinais dos diferentes contextos da morte
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
18. o funeral e seus diferentes contextos:
- o artista deve deixar instruções para seu próprio funeral, para que tudo seja feito segundo sua vontade
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida

Marina Abramovic, créditos: o jardim elétrico

O terceiro é um poema. The Usura Canto é o tipo de texto que me causa uma inveja saudável, pela sua grandeza e unicidade. Busca mostrar o sentimento do Artista pelo que vê num mundo 'comerciável'. Creio que em algum ponto se relaciona com o manifesto da Companhia do Latão, e exemplifica, como uma busca estética pode servir a um propósito conscientizador do espírito:

Canto XLV

With usura hath no man a house of good stone
each block cut smooth and well fitting
that design might cover their face,
with usura
hath no man a painted paradise on his church wall
harpes et luthes
or where virgin receiveth message
and halo projects from incision,
with usura
seeth no man Gonzaga his heirs and his concubines
no picture is made to endure nor to live with
but it is made to sell and sell quickly
with usura, sin against nature,
is thy bread ever more of stale rags
is thy bread dry as paper,
with no mountain wheat, no strong flour
with usura the line grows thick
with usura is no clear demarcation
and no man can find site for his dwelling
Stone cutter is kept from his stone
weaver is kept from his loom
WITH USURA
wool comes not to market
sheep bringeth no gain with usura
Usura is a murrain, usura
blunteth the needle in the the maid's hand
and stoppeth the spinner's cunning.
Pietro Lombardo came not by usura
Duccio came not by usura
nor Pier della Francesca; Zuan Bellin' not by usura
nor was "La Callunia" painted.
Came not by usura Angelico; came not Ambrogio Praedis,
No church of cut stone signed: Adamo me fecit.
Not by usura St. Trophime
Not by usura St. Hilaire,
Usura rusteth the chisel
It rusteth the craft and the craftsman
It gnaweth the thread in the loom
None learneth to weave gold in her pattern;
Azure hath a canker by usura; cramoisi is unbroidered
Emerald findeth no Memling
Usura slayeth the child in the womb
It stayeth the young man's courting
It hath brought palsey to bed, lyeth
between the young bride and her bridegroom
CONTRA NATURAM
They have brought whores for Eleusis
Corpses are set to banquet
at behest of usura.
 


Claro que o texto original é mais denso que as traduções, e mais claro ainda que caso o caríssimo leitor não tenha intimidade com a língua original deste poema, ofereço-lhes duas competentes traduções no mesmo lugar que me forneceu tão febril texto, na versão eletrônica da modo de usar & co.aqui .


Por hora despeço-me, relembrando que o debate continua. O mundo atual é uma exigência para que o Artista se pronuncie. Sintamo-nos chamados. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

amor, s. m.



¹ O mote:


DIA DOS NAMORADOS

o amor 
passou-se no tempo em que não havia medo.
não havia paredes subidas.
as manhãs eram remotas como rosas.
os ontens uma mitologia condigna.
a pátria era tão labiríntica quanto uma lágrima.
tão imprevisível quanto o ofício de um deus.
o amor passou-se no tempo em que ainda não tinha nome,
em que os segundos eram uma espécie de sangue,
e a tarde podia ser uma só palavra
na órbita de uma outra palavra.
o amor passou-se neste poema para pessoas sós,
passou-se como mera reprodução de um tempo
em que não havia corpos, logo
corações distantes.
mas ainda assim o amor existe: mesmo sendo 
um ontem, mesmo sendo uma lágrima,
mesmo sendo uma rosa esquecida
num quarto azul. 



Sylvia Beirute


² A sorte:


'O amor é difícil'


'(...) as pessoas jovens, iniciantes em tudo, ainda não podem amar: precisam aprender o amor.'


Rainer Maria Rilke


³ O consorte

Amigos, minha situação atual como ser humano aponta equanimidade quanto às esperas dolorosas. Não nos rebelemos, nem estranhemos. Geralmente a constituição juvenil, afeita às paixões, ambiciona seu fim no pretenso começo, que já é o ápice das vidas, o tal do amor. Nada poderíamos dizer, bradar, sem que nos precipitássemos. Todos somos passíveis de incoerências e arrependimentos, e ser, a quem o persegue em entendimento, é um fardo a se carregar, talvez por isso estejamos sempre correndo por outros braços. 

As fracas conjeturas que surgem na mente agora trouxeram a reserva que venho guardando por estas questões. Como bem poderia depreender da leitura do poema de Beirute, o amor (passou-se num tempo em que nem nome tinha...) é algo necessário como o divino, foi instaurado ou percebido para o livramento de tanta pequenez em nossos espíritos, livramento das inconformações, dos destinos. Por isso muitos o perseguem, alguns buscam o comprar, outros o construir, mas seja o que seja na forma que esteja ou sentido que revele, marca que o releve, o amor será entendido de forma mais possível uma vez que admitirmos que ele não tem nome, nem forma, nem dia, nem morada registrável. Ele surge, mas não o acicatemos, pois acredito que ele surge humano no ensejo de uma rosa que precisa desabrochar, de uma rocha a permitir que as águas passem, nos sentidos eólicos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

mais adequado, mais feliz?




Este vídeo é uma das coisas mais febris que já vi na rede. A conexão que se construiu com o que é imagem, palavra e som torna esta pequena obra de arte algo poderoso. Thom Yorke (Aqui um perfil de Yorke, na versão eletrônica da modo de usar & co.) compôs a 'letra' (Fitter Happier é uma das faixas do OK Computer, de 1997.) depois de um período de bloqueio criativo, considerando-a uma 'lista de slogans dos anos 1990'. Yorke também disse que foi uma das coisas mais perturbadoras que já escreveu. Compartilho com ele a angústia que este poema sonoro traz, aqui endossada pelas imagens de Pablo Iranzo. Compartilho o desconforto em uma sociedade que deseja que desejemos mais, e me arrisco a conjeturar que, já incluso nesta sociedade que tanto falamos e/ou culpamos, dois panoramas se abrem:

1. Relativizar nossa própria presença nesta sociedade 'campo de teste', na realidade, considerarmos esta também como sendo interna e individual, atinente às mentes contemporâneas;

2. Delinear atalhos que possibilitem um viver menos desgastante pela ocasião de tantas buscas e lugares e corpos e coisas perfurantes em nosso cotidiano.

Transcrevo aqui o texto deste poema sonoro. A tradução de Dirceu Villa na página indicada acima na modo de usar & co. ajudará a quem não tem intimidade com a língua inglesa, entretanto é perceptível que a física de uma língua empresta quase sem percebemos uma identidade ao texto poético, algo que é afetivo ou não. O inglês aqui constrói um clima em que o texto já parece estar destinado. É a principal língua do capitalismo, se relacionando fortemente ao contexto citadino e plastificado impresso no clichê do homem moderno, portanto, muito adequado entregar o corpo ao texto, às imagens e à sombria voz do Macintosh (seja lá o que pretendi dizer com isso):

fitter happier
more productive
comfortable
not drinking too much
regular exercise at the gym (3 days a week)
getting on better with your associate employee contemporaries
at ease
eating well (no more microwave dinners and saturated fats)
a patient better driver
a safer car (baby smiling in back seat)
sleeping well (no bad dreams)
no paranoia
careful to all animals (never washing spiders down the plughole)
keep in contact with old friends (enjoy a drink now and then)
will frequently check credit at (moral) bank (hole in wall)
favours for favours
fond but not in love
charity standing orders
on sundays ring road supermarket
(no killing moths or putting boiling water on the ants)
car wash (also on sundays)
no longer afraid of the dark
or midday shadows
nothing so ridiculously teenage and desperate
nothing so childish
at a better pace
slower and more calculated
no chance of escape
now self-employed
concerned (but powerless)
an empowered and informed member of society (pragmatism not idealism)
will not cry in public
less chance of illness
tires that grip in the wet (shot of baby strapped in back seat)
a good memory
still cries at a good film
still kisses with saliva
no longer empty and frantic
like a cat
tied to a stick
that's driven into
frozen winter shit (the ability to laugh at weakness)
calm
fitter, healthier and more productive
a pig
in a cage
on antibiotics

Enfim, compartilho essa obra providencial intencionando a reflexão sobre os valores pessoais e 'demonstráveis' que se cobrem de todos nós. A Arte compreende e se desenvolve em n questões, funções e modos, mas creio que se há um compromisso neste fazer artístico, é chegar da maneira mais possível e sincera ao espírito do homem, seja num nível onde somente os gritos possam se espalhar, seja na distância disponível a um sussurro.

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