terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o poeta & sua obra

Passou-se um ano.
Que tenho agora?
Passou-se um ano.

Um ano daquela vitória importante – um segundo lugar, mas muito importante; ser lido, pensado, investigado e premiado por poetas representativos no estado e fora dele, num festival tradicional e, ao menos ao ver dos poetas desta cidade, fundamental (pena o Poemará estar em muletas). Aconteceram algumas coisas, todas definidoras, e agora então vejo, o aprendizado do tempo. Lançarei pouco mais que uma dúzia de textos numa antologia, por uma editora paulista, conheci e ando conhecendo representantes da atual ‘geração’ da poesia do estado, construindo amizades, até participar de um café literário, com Bioque Mesito (os palestrantes andavam mais quentes que o ‘café’ itself...), participei. O público foi mínimo, mas, sei o que esperava. Poesia não é pra qualquer um, uma vez que os fatos poéticos são em certo nível outro tipo de verdade, um outro tipo de hedonismo. Mas, voltando, é verdade que sou mais poeta que há um ano, mais que há três e muito mais que há 10 anos, quando rimava canhestra e despropositadamente. Se sou mais poeta, que é ser poeta? É estar em dificuldade, atualmente; é ser humano e entregue, bêbado de consciência. Por isso poesia não é pra qualquer um. Nem deveria, não é? Arrematando, existe uma obra. Obra de verdade. Na gaveta.

Quem acompanha este espaço, desde fevereiro de 2009, deve ter percebido um post ou outro em que eu fale sobre esforços ansiosos por uma obra. Mesmo que não tenha sido claro, contarei rapidamente minha história com livros: a partir de 2003 já andava reunindo poemas para um livro, que obrigatoriamente teria de ser tão imaturo quanto eu era naquela época; houve tentativas semelhantes de 2005 a 2009, quando de fato imprimi em minha prática poética um conceito de obra. Em 2009 preparei dois livros: um com o hoje desagradável nome de Nastismos, e outro, intitulado Eikon. Ambos me pareciam demasiadamente impressionistas e automáticos-herméticos e de conveniência, isto é, a palavra que fazia conveniente a feitura dum poema, e não o que de fato sempre me despertou o desejo de escrever, a vida. Viver é que deveria reger o texto. Estes livros foram descartados? De certa forma, mas não os excluo de vez de meus feitos uma vez que proporcionaram amadurecimento da técnica, confortabilidade em expressar uma mensagem coerente o possível, porém sem abrir mão da poeticidade e das escolhas críticas do poeta com relação à forma, o tema, o vocabulário, o sentido etc. Após estes dois experimentos, veio o tu; assim mesmo, segunda pessoa do singular, e em minúsculas. Este terceiro esforço me lançou num intervalo. Continuava incomodado, nem sabia por quê, com algo nos textos que não os fazia identificáveis, possíveis de serem defendidos como meus textos. Desta última tentativa, interrompi escrever com propósitos nervosos por um livro. Relaxei. Desencantei. E o mais importante: questionei.

Questionei os textos, a literatura, o fazer poético, meu lugar no mundo, minha persona poética, minha função como poeta, a recepção, a crítica, os elogios, e, finalmente, what the fuck I’m gonna do with this? Aí, decidi viver um pouco. Manter a antenas alertas, e viver um verso de cada vez. Reconhecer processos de evolução. Cultivar o sentimento. Estudar. Ler poetas de lugares cuja poesia não é tão expressiva mundialmente, ou ler com atenção estes, que antes que meus tradicionais professores, são meus companheiros em labuta tão questionável, porém necessária. Parei. Enfim, gerindo conceitos, dúvidas, desejos, com o menos de blá blá blá e romanticismo da vida possível, cheguei à MINHA OBRA. Meu primeiro livro, com certeza. O livro que não há porquê em renegar. O livro que desejei e, ao modo dum filho (esse romanticismo da vida...), imperfeito ou não, é existente por um motivo maior. Quanto ao título, revelarei em breve, assim como vou comentá-lo ainda bastante, ao menos a quem acompanha este blog sem preconceitos ou academicismos, e sim, com certa curiosidade em entender, de modo quase simplista, os porquês da poesia e do poeta.

Ao fim quase forçado deste post, retomo certa ideia posta acima, sobre dificuldade. Poesia, no sentido mais intenso e verdadeiro (verdade são fatos inquestionáveis, ok?) da coisa não corresponde necessariamente à metáfora fácil, ao romantismo dulcíssimo de certos ignorantes, a desvios no sentido e objetividade capitalista e tecnocrata. Poesia se torna difícil quando em matéria, em física de códigos ou páginas, voz ou gestos, cores ou sons, e tudo quanto o mais os sentidos entenderem. Mesmo os não tão aparentes assim. Assim é que compreendo o que é poético daqui por diante, deste livro já feito ao vazio em que me encontro, já cansado, questionado, sem palavras, literalmente. Absolutamente, neste momento da vida, após escrever algo que, além de me orgulhar, transmite sentidos e sensações, de verdade; acima ou abaixo da inteligibilidade da expectativa alheia, absolutamente, a poesia se tornou difícil. Ser poeta é ser político, confidente, psicólogo, professor, pintor, performer, prostituto, náufrago etc. Consciente que sou holístico quando escrevo, re- ou velando uma forma ou sentido aqui e ali, só tenho certa consternação por quem não se permite, quem não vive certo excesso ou não saboreia uma restrição por certa comodidade em se relacionar com a linguagem mastigada de algumas prosas nem um pouco desafiadoras. Entretanto, todos convivemos, analógicos ou digitais. Espero que não calado para sempre, mas agora sei o que é UM POETA E SUA OBRA.
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