segunda-feira, 6 de junho de 2011

discurso

1.

Tenho a certeza tranquila de quem não sabe o que fazer. Tenho a garantia de quem assume. E o sulco que circunda o que deste indivíduo é poesia foi cavado da mesma maneira. Às voltas com ninguém, mais uma vez me encontro carente de esclarecer coisas sob a luz do Sol, luz que chama a cabeça, mas quando vista estoura os olhos. E ficamos por aqui mesmo? Talvez.

Arrisco-me a dizer que a poesia é uma matéria equacionada. Ao seu modo, mas equacionada, digo, com palavras, mais ainda, com lexias, diria Barthes, por mim corroborado. Em seu ritmo, uma vez que não necessariamente uma comparação leve à precisa linha de seu exemplo. É uma visão metonímica, mas que de algum modo funciona. Quero chegar à questão de que enxergamos o objetivismo classicamente, e que as mudanças residem primeiramente numa inconformidade, numa incongruência, aqui mesmo, na cachola.

Com relação ao objetivismo que já foi clássico, lembremos que a objetividade é uma face disponível a tudo, seja você louco ou não. Quero dizer que nem só de épicos vive o homem, e a fragmentação muitas vezes proposta em poesia é versão desta visão de objetivismo. São partes que, assim como o todo duma obra ou projeto, comunicam uma equação com muitos parênteses, alguns colchetes e infinitas potências que pedem por resolução. Acontece que estamos acostumados, creio eu, que as palavras tudo digam, mas, provavelmente nos deparamos com um quebra-cabeça, uma peça dele ao menos.

2.
Poesia.
Onde?
Aqui mesmo: homem que grita para vender picolé, moça que confessa a outra num ônibus cheio quão safado seu namorado é e mesmo assim o ama, motorista que confabula com o cobrador sobre passarinhos de gaiola, a tentativa de dizer a verdade sem doer na alma de quem ouve, canção ouvida e não compartilhada, uma formiga carregando uma pétala, o gracejo na mesa entre cervejas, a piada #fail, o comentário feito após o filme, a ânsia confessada ao espelho, o olhar que disse tudo, as palavras que não cumpriram sua nascença.
Poesia. Onde? Aqui mesmo?
Claramente aqui, onde se pode imaginar uma viagem a um planeta de carbono enquanto se tropeça na calçada quebrada; aqui de verdade, onde quem sabe, há alguém que nada diga nem precise dizer ou não o quer, porque os discursos que esperam o mundo foram abortados e, atávicos, ocorrerão na falta da sétima geração; neste espaço cheio de fotos e beatbox onde se encontram os carros e seus cérebros; por ali, na falta de uma onda que ressoe em nossos ocos; exata localização na consciência binária de um homem grande com braços largos para abraçar o asteróide que o decepará.





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