segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

liame

Melhor que'u me obrigue a escrever algo que preste, uma vez que reencontro os vazios. Essas fendas devem ser, no mínimo, necessárias, pois vivem aqui. A falha geológica que as atrai seria expectativa ou realização? Interessante neste ponto notar as analogias concretas entre vida e obra. Inclusive a obra que dormita neste espaço (além da mente dispersa...), que recentemente descobri sem medos, o coração, palavra, a propósito, que evitava, mas talvez fossem as imagens e clichês entrelinhados nela que me açucaravam, digamos, mais à diabetes que à doçura... 

Mas tentando (sempre tentando) voltar ao trilho, percebo o que sempre está ao nariz: que palavras não alcançam tudo, silêncios alcançam um pouquinho mais, mas os gestos e gritos que possam os materializar nos mundos de todos os homens, podem te fazer disparar numa corrida com fim num precipício. A dificuldade é necessária, o sofrimento é a instabilidade do planeta, serve para renová-lo de certa forma; no começo do ano, Ana, uma amiga do Duelos Literários, não me desejou somente felicidades, como a maior parte das pessoas fazem, mas também 'desafios brandos', mesmo que aí ela ainda esteja sendo delicada e gentil como sempre demonstra ser. Acontece que se tudo fosse delicioso e prático, a natureza não seria multicor, nem assimétrica, ninguém morreria levado por ela, ela enfim nem chiaria. E o homem não se questionaria. 

Verdade ou parte dela, seja, provavelmente, que estas faltas no espírito sejam só os cacos do reflexo baço de um espelho mirado ao mundo como ele é hoje, anti-pausa, anti-descoberta pelos detalhes, anti-pequenezas, anti-quietude, quaisquer coisas que os amigos leitores possam pensar para completar esta lista... O terremoto surge daí, do confronto, do atrito entre as diferentes químicas que saboreamos do mundo e nele, por esta vida ciente dela mesma agora, neste exato instante em que escrevo ou você lê este post. Eu, por exemplo, creio estar num momento de tranquilidade, algo como entre 2004 e 2010 no Índico e no Pacífico. 

Quase nada me digo, melhor, me escrevo, uma vez que meu ritmo é diferente. Terei 23 anos daqui a alguns meses. 23. Não vejo mas este ponto das coisas como um começo, ainda não como um fim, e sim um meio. Uma metade num mundo que te quer completo. Talvez o seja, relativizo. Meu ritmo, como talvez seja o seu, é uma peça para piano a ser descoberta daqui a 100 anos num baú de carvalho. Os vazios que hoje considero são cenas que sempre sucedem a outras, quando um filme insiste num take somente, ele perturba a audiência. Isto pode ser um filme mudo, digamos. 

Hoje, não explicitamente, não lhes trouxe literaturices nem poemezas, porque hoje relativizo de verdade a função de toda coisa humana, incluso nelas a palavra e suas complicações. Espero minha palavra andar com seu silêncio, isso é literatura, no sentido 'humano' d'algo se fazer sentido. O homem, Deus meu, quer nos enrascar em cada palavra que rabisca. Enquanto muitos estão ocupados com seus orgulhos, salmos ou rouxinóis, tento me preencher com muita humildade, me sentir mais feliz e íntegro, sendo parte de algo que faz a vida melhor e não a complica com seus cacarejos. Por respeito ao desconhecido, deixo a palavra que os homens (incluso eu) nunca alcançarão no verbo de Deus.

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