domingo, 30 de janeiro de 2011

I am me, myself & I

Acabando de sair de mais um poema. Nem sequer lavei as mãos, já me senti impelido a me pronunciar, e humildemente, esperar ser ouvido de algum modo, sobre algo que atualmente vem tomando conta de 'meus' debates poéticos, mas com certeza é acontecimento na cabeça de muitos... E pensemos, na cabeça de muitos mesmo; aqui recoloco todos que de alguma forma tem certa relação com o processo poético, que como sabemos, não para, descansa no leitor, ou num termo que pareça mais apropriado, amador de poesia.

Essas voltas são para pensar com vocês um pouco (espero que o necessário) sobre a pessoalidade em poesia. O que impôs a falta de placidez em meu caminho até este post são as duas formas que convergem à possibilidade e à ojeriza deste mesmo objeto, digamos assim. A pessoalidade que ajuda a calcular o poema é a mesma que me causa certa repulsa. Engraçado é que, geralmente este é o tipo de coisa que eu e milhares de outros amadores de poesia buscam num texto. A minha própria pessoalidade me alivia e me incomoda. Que será que desperta este reflexo? O excesso? A falta? O explícito? O autor?

Correndo o risco de pular muitos algos sobre (seria realmente um risco?), um ray of light pousa e me indica que o problema estaria na forma como se concebe a poesia contemporaneamente. E a maneira como se concebe  a poesia não é propriamente, mas adequadamente similar a maneira como se concebe de uns anos pra cá toda sorte de aspecto humano sob o signo do cultivo do eu. Antes que me contradigam com 'um eu-lírico encharcado de pessoalidade não é uma forma de cultivar o eu?', devo dizer que a resposta a esta pergunta é sim. E não. Já digo porque. 

Como poeta, mas querendo mais primeiramente falar como o que busca-se ser verdadeiramente, o artista, aconselho a ver o poema pessoal (ou confessional, como alguns dizem...mas não vamos justificar hermetismos, isso é outra história - que talvez não te ajude muito... mas tente) como um compartilhamento. Algo que sabemos, falta no mundo que habitamos. Adoro quando uma letra de música (arte popular) fala de algo que anda acontecendo em nossas vidas. Como pessoa sensível, não necessariamente 'o poeta', me sinto encontrado, ouvido, ainda que a canção seja de alguém do qual nunca conhecerei pessoalmente. Que acontece é a empatia, a sensação que não se está sozinho pelo caminho. Não vejo problema em entendermos o homem como ser solitário, apesar das instituições sociais e dos prazeres ao qual está exposto (possivelmente por isso se expõe a tantos prazeres, não?). O homem é um mundo só dele noutro mundo de muitos (todos?). Isso talvez explique irresponsavelmente nossa racionalidade.

Outra maneira de tentar elucidar o porquê da pessoalidade, é a própria exigência subjetiva do texto poemático, mas isso é elementar. Há também o apreço humano por coisas sem utilidade visível, como o futebol, por exemplo; mas, vejam, o futebol, esporte que é, cumpre a função da competição que as nações guardam em seus arsenais bélicos e lide (desaventu) ranças individuais. Ainda que não haja motivo para o combate, existe o ego, que em uma nação inteira é coletivo de... egos! Eu de novo, ó! O porquê de falar isto é um nada? Até que ponto um país inteiro seja o país de um? Pensemos nisso: pessoalidade como processo de re-identificação + compartilhamento ÷ pelo afeto que guardamos aos instintos (ou simplesmente, 'coisas que não sei explicar, mas eu gosto!')

Creio ter me excedido como de costume e apego às coisas nem grandes, nem pequenas, e também creio ter soltado uma asneira ou outra, como de costume e apego à falta de academicismo. Como dito no início, este post foi um pensar com vocês, não me sinto o ensaísta, mui menos o teórico e desconfio de quem seja, se tratando de criação poética. Me deixo em liberdade a pensar o que penso e oferecer a quem curte. Sem sentido numa primeira vez (apenas a primeira, talvez seja a segunda), mas compreensível uma vez em que não precisamos entender nada. Feche os olhos e sinta. Tudo pode acontecer. Princípio básico de tudo. E de tudo que é poesia.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

uso

Meus limites são, dentre coisas que costumo não lembrar sóbrio, vazios, e barbas em meu pescoço e mamilos. Dentro de tais limites constato que as ciências são distrações e que meu corpo é Arp87 num ônibus lotado. 

Inconsequente nestas coisas, portanto, me vendo a tantas pessoas, considerando o valor que as palavras perdem quando seus conceitos maturam em gestos cheios de cerveja, que enfim apagam as palavras e marcam seus beijos (semi-mornos) e depositam suas lógicas ao longo da semana, quando assim nenhuma delas me fará sofrer menos por ser pusilânime, possessivo ou inconformadamente acomodado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

liame

Melhor que'u me obrigue a escrever algo que preste, uma vez que reencontro os vazios. Essas fendas devem ser, no mínimo, necessárias, pois vivem aqui. A falha geológica que as atrai seria expectativa ou realização? Interessante neste ponto notar as analogias concretas entre vida e obra. Inclusive a obra que dormita neste espaço (além da mente dispersa...), que recentemente descobri sem medos, o coração, palavra, a propósito, que evitava, mas talvez fossem as imagens e clichês entrelinhados nela que me açucaravam, digamos, mais à diabetes que à doçura... 

Mas tentando (sempre tentando) voltar ao trilho, percebo o que sempre está ao nariz: que palavras não alcançam tudo, silêncios alcançam um pouquinho mais, mas os gestos e gritos que possam os materializar nos mundos de todos os homens, podem te fazer disparar numa corrida com fim num precipício. A dificuldade é necessária, o sofrimento é a instabilidade do planeta, serve para renová-lo de certa forma; no começo do ano, Ana, uma amiga do Duelos Literários, não me desejou somente felicidades, como a maior parte das pessoas fazem, mas também 'desafios brandos', mesmo que aí ela ainda esteja sendo delicada e gentil como sempre demonstra ser. Acontece que se tudo fosse delicioso e prático, a natureza não seria multicor, nem assimétrica, ninguém morreria levado por ela, ela enfim nem chiaria. E o homem não se questionaria. 

Verdade ou parte dela, seja, provavelmente, que estas faltas no espírito sejam só os cacos do reflexo baço de um espelho mirado ao mundo como ele é hoje, anti-pausa, anti-descoberta pelos detalhes, anti-pequenezas, anti-quietude, quaisquer coisas que os amigos leitores possam pensar para completar esta lista... O terremoto surge daí, do confronto, do atrito entre as diferentes químicas que saboreamos do mundo e nele, por esta vida ciente dela mesma agora, neste exato instante em que escrevo ou você lê este post. Eu, por exemplo, creio estar num momento de tranquilidade, algo como entre 2004 e 2010 no Índico e no Pacífico. 

Quase nada me digo, melhor, me escrevo, uma vez que meu ritmo é diferente. Terei 23 anos daqui a alguns meses. 23. Não vejo mas este ponto das coisas como um começo, ainda não como um fim, e sim um meio. Uma metade num mundo que te quer completo. Talvez o seja, relativizo. Meu ritmo, como talvez seja o seu, é uma peça para piano a ser descoberta daqui a 100 anos num baú de carvalho. Os vazios que hoje considero são cenas que sempre sucedem a outras, quando um filme insiste num take somente, ele perturba a audiência. Isto pode ser um filme mudo, digamos. 

Hoje, não explicitamente, não lhes trouxe literaturices nem poemezas, porque hoje relativizo de verdade a função de toda coisa humana, incluso nelas a palavra e suas complicações. Espero minha palavra andar com seu silêncio, isso é literatura, no sentido 'humano' d'algo se fazer sentido. O homem, Deus meu, quer nos enrascar em cada palavra que rabisca. Enquanto muitos estão ocupados com seus orgulhos, salmos ou rouxinóis, tento me preencher com muita humildade, me sentir mais feliz e íntegro, sendo parte de algo que faz a vida melhor e não a complica com seus cacarejos. Por respeito ao desconhecido, deixo a palavra que os homens (incluso eu) nunca alcançarão no verbo de Deus.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Existe um fantasma que me faz caminhar até ele

Antes que o sono dê maneira na dor de cabeça que se aproxima, vim a dar jeito na causa dela, provavelmente dar provas de seu nascimento. Nada muito mais, talvez menos, é que desejo compartilhar uma bonita letra de uma música que fala tanto de mim neste momento... Achei, acho, vai saber, que estava livre. A maior tristeza que uma paixão traz, ao meu atual ver, talvez não seja da distância ou a impossibilidade quando se impõe, mas a prisão que seu corpo testemunha quando de admitir que se está tomado. Tipo, quando me vejo escrevendo este tipo de coisa... Perdão, é que me sinto um algo adoecido do espírito e não tive uma adolescência plena... 

Como em certo poema que escrevi, agora me vejo calado pela canção alheia. Na verdade, eu canto, e canto alto, quero exorcizar o lado triste de tudo isso, não me auto-apiedar pela graça de Deus que ainda me permite ir.

Esta letra poderia funcionar como um poema, mas certo estou que só funciona profundamente com a carga da voz de Florence Welch. Perdão mais uma vez, este post faz parte do exorcismo silente da oração rotineira, só que hoje, talvez role uma ou duas lágrimas. Canso... Venha Orfeu, leve tudo isto por meus sonhos e não volte tão cedo, ou volte, mas me deixe viver de verdade.

I'm Not Calling You a Liar 

Florence And The Machine

Florence Welch & Isabella Summers


I'm not calling you a liar, just don't lie to me
I'm not calling you a thief, just don't steal from me
I'm not calling you a ghost, just stop haunting me
And I love you so much, I'm gonna let you kill me

There's a ghost in my lungs and it sighs in my sleep
Wraps itself around my tongue as it softly speaks
Then it walks, then it walks with my legs
To fall, to fall, to fall at your feet

There but for the grace of God go I
And when you kiss me, I am happy enough to die

I'm not calling you a liar, just don't lie to me
And I love you so much, I'm gonna let you
I'm not calling you a thief, just don’t
And I love you so much, I'm gonna let you
I'm not calling you a ghost, just stop

There's a ghost in my mouth and it talks in my sleep
Wraps itself around my tongue as it softly speaks
Then it walks. then it walks, then it walks with my legs
To fall, to fall, to fall, to fall
To fall, to fall
To fall, to fall, to fall, to fall,
to fall, to fall, at your feet

There but for the grace of God go I
And when you kiss me, I am happy enough 

sábado, 1 de janeiro de 2011

the first one

Na prática, só o ritual demarca aonde algo termina e outro começa. Mesmo pequenas mobilizações podem ser caracterizadas ritualísticas, partes individuais. Vez/outra me vejo apagando fotos, tramando ciúmes, esquecendo poemas. Entretanto me pergunto até que ponto um ritual concentra um bem valoroso e permanente em sua execução (ou falta de). A verdade é que certas coisas são costuradas em precipícios de sim e não para se estabelecerem com forças novas. Essa recorrência, pensemos, é independente da vontade que temos de encerrar algo, muito provável seja uma armadilha aos dedos e corações desavisados. E canto, todo dolorido, meu corpo que sente esvair-se quando de uma certa distância... Certa vez, dois ou três gestos me condicionaram a uma emoção que não conhecia meus pés ou a cabeça; o que se tornou evidente foi a falta de razão e desamparo a que estou oferecido. Quando do ritual do Ano Novo, pedi a Deus completude que me liberte de tantos outros rituais inconscientes a que o apaixonado está sujeito. A vida inteira é cheia de receios, taquicardias, expectativas, mãos suadas. Do poema ao beijo. Essa revolução interna é o prenúncio de tantos algos, parece até Ano Novo... É um rito preciso.
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