segunda-feira, 27 de setembro de 2010

porque meu estilo não convém a mim

(sim já escovei os dentes, 
mais nada)

ouvidas todas as guitarras possíveis
flowers florence marcas do et cetera

aqui
tudo que é synth permitido pela tarde
robyn röyksopp m.i.a. meus ganchos

dentro disso e por baixo do que é lá
amo triste a emergência de tântalo

me guardo e te ofereço boa noite
como se estivesses morto e 
me amasses
(por isso acho que vou tirar o bigode)

Let me have it, let me grab your soul away


Para e'le

Querido, tu vieste com a ferrugem. Me forço a escrever, porque assim traço tua lembrança. Mas preciso imediatamente desenhar meu caminho, que de teus braços para a rua, venho tomando imensa consciência de mim mesmo. Enfim, dentro de um palmo de distância, consegui ver a eternidade. O Sempre constrói sentidos razoáveis em mim. Ando desgraçado e mais perto de searas divinas. É uma oportunidade. Não te esqueço visto que teu cheiro reencarna em todo objeto. 

Já não posso mais perceber as marcas de um abraço, que'u guardo como um morto que não pode levar riquezas no túmulo. Te quero porque sou jovem e talvez não mereça outra vida além desta, agora cheia de ti. E o vento nada de palavras leva. Ele carrega tuas coisas, nossas costas, ele sequer nos espera. E termino te dizendo: caso não possas me querer como eu te tenho, aloja com respeito minhas lembranças, que hoje conheço o que chamam paixão, e não poderás me visitar em uma prisão como essa.

as pessoas que não pensam não amam. é irrefutável. 
(Sylvia Beirute, Dia de Chuva)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Só isso

Virei e soprei: não te reconheço.
Não te pertenço, portanto não cantes auto-piedade.
Foste. Precisaste.

E vais morrendo feito teu reflexo,
há dias dissolvido nos espelhos físicos.

Em busca de te precisares é que canto.
Ou cantei.
Talvez sequer uni uma verdade sequer.
Foste.
Sou algo que aguarda sem compreender a espera.

Poesia, desgraçada.
Mundo, trimegistamente desgraçado.
Planas para longe sem nunca sair daqui.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

cápsula do tempo

daqui a cem anos
entenderei-os anos-luz uma leve
modificação do que hoje sei voz


irei navegar no silêncio
dum vácuo brumoso serei
parte de muitos núcleos
tornarei-me roto


de tantos rostos em
várias coxas teci algo
que para os últimos
vou esperar um nada:
uma vida caída aqui no esterco
caminhará surda antimatéria


tome portanto meu caminho
me leve aqui mesmo além da
estrela que tua cala me draga
me oferece à falta de órbitas

sábado, 4 de setembro de 2010

O vício

Há um momento em que mesmo os vãos entre os dedos expiram o incerto. Sei que oferecido a muito posso não mais retornar. Sei que certas vezes me impossibilitam os atos, escrever por exemplo. Porque o vício vem de coisas que inspiram o silêncio, ou ele mesmo é coisa para calar, se não objeto que fecha. O vício é bipede e exige muito de mim.

Depois do uso, me exijo muito, às vezes, sem que verdadeiramente possa exigir. É que caio e não desejo que ninguém me junte. Por favor, me pise. Me subjugue, me alise. O que me enlouquece se fuma, cheira e vê. Posso tocar e fugir. Preciso ser muito de mim para fazer o que faço.
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