terça-feira, 29 de junho de 2010

ocigàrrobrev (ou, "- Vamos carapuça, caiba!")

aos 
que não me lembram 
não me esperem 
não lembro 
sequer de esquecer 
quem 
anda esquecendo 


não espere nem 
lembre em esperar 
quem 
esquecendo lembra 
o que não espero 


lembre-se 
não esperar 
lembrando 
de esquecer

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amor

Do nada, assim parece às vezes como entendo a vida. Fazendo parte das coisas enormes e presentes, viver é um óbvio que poucas vezes espera ser ouvido quando de um ônibus lotado, um atraso, um engarrafamento, um susto, uma obrigação. Muitos do lado de fora de mim nem imaginam, drenam meus braços entusiasmados, fazem-nos quebrantos de si mesmos. 

Haja agora poesia, haja arte que transporte... 

Razão emergente esta que agora surge, comum a todos os cegos, razão esta que não se mascara além de pura necessidade. Acreditamos na origem aristofanesca do amor, não neguemos. Alguns engordam, outros saturam os olhos mesmos. 

Haja invencionice, haja escape... 

Então me lembro do exato instante que usei a palavra touros querendo usá-la. Vai entender, mas foi perfeito. Verti-a do carinho que de mim algum humano não pôde conquistar. A língua é minha, senhores. Enquanto alguns querem, pedem ou compram corpos, eu os faço, eu os tenho, e hajam espelhos a definir o que é tudo isso. Fecho os olhos e me encontro. Meu reflexo não pertence à palavra, somente minha matéria. Assim, amo a tudo e a todos. 

Haja fuga, haja ausência na presença... 

E de absoluto, só o fim (que é amor...), quando dele se compraz o mundo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

#tonto

Ainda não sou um profundo, sequer consistente conhecedor da obra de Saramago, o que de certa forma me livra de muitos clichês, e principalmente de lamúrias póstumas, tão recorrentes no mundo literário. Ainda sou um ponto em relação a ele, isso é certo. Acontece meus senhores que um das maiores vozes da minha língua não mais está entre os vivos. Com sincera consternação, me encontro levemente atordoado. Como poeta, se assim me permito, constituo uma visão holística para muitas pessoas menos atentas... E como tal, me sinto preparado a tentar aqui expressar algum comentário sobre este acontecimento estranho à normalidade. Compartilho com Saramago uma essência primeira: a língua. É parecido com perder dinheiro. É um desses escritores que dão orgulho e coragem a muitos que escrevem. De fato permanecerá acordado e lúcido como sempre foi, feito uma necessária marca no mundo. 

Um mundo curado? Talvez uma doença silenciosa.
Adeus!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Constatação

avalie-me assim
insosso tosco
randômico

associe-me então
a um dia em que
não mais chova

sei que estás
imensamente calado
imensamente

se pudesse te
morderia os braços

mas não o farei pois
acredito que o amor é
uma coisa lucífera e

que está sempre em
cima de uma
cabeça vazia
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