sábado, 16 de janeiro de 2010

Pelo dito hermetismo

A saída mais especial ao discurso direto, isto é, o discurso previsível. Considerar podemos desta forma o que chamamos de enigmático, sibilino, obscuro, ininteligível. Aqui, no alto pedestal da ignorância, não conheço o cordeiro que tratou eruditamente das questões sobre o dito hermetismo. Aqui, no alto de meu pedestal de poeta perturbado, conheço e refaço comentários dos parcos leitores, entendamos, a recepção; e para a recepção aos Quatro Ventos dos Sete Oceanos, vos conforto: o que vosso carnal cérebro busca cristalizar é antes uma carniça ao faro do poeta: ser, em teoria, sempre aberto à caça do dia, da quinzena, dos trimestres. Novamente escancaro: o que parece incompreensível à primeira vista, não passa de uma parte no Universo que não conheceu vossa expectativa. A experiência particular do poeta, especialmente os pós-modernos em rotação, é um segredo informe à sociedade e ao mundo inteiro, fractal de uma atividade conjunta, quase comunitária de reflexos sobre a realidade e as baladas em Marte. Captam? Mais uma vez...

Senhores... Nesta vida, neste ambiente de recompensas e prazeres, a escritura ao poeta parece, de um lado ganhar força ao pensamento comum, com poesia de linguagem acessível e colorida, com vários sabores; por outro lado, existem escritores que se forçam a ser seu próprio poema, porque, como no primeiro caso, o discurso multimilenar dos homens não mais corresponde a qualquer que seja a busca ou o prazer. Entretanto, o prazer é o objeto magno da verdade. As pequenas satisfações na criação do texto que seja, é que parece (se não simula) suster a vontade por trás do parto inclusive dos textos considerados herméticos. O hermetismo, especificamente em poesia, não conforma a linguagem e a produção humana às esperanças de nossos bolsos e de nossos celulares com 3G, nossa competitividade, nem com a instrumentalidade (enfim!) inerente aos nossos fios de cabelo. Por que? Embora algumas mentes estejam ainda num século a mais ou a menos, o texto dito hermético precisa de uma leitura razoavelmente lenta e partida. Explico.

Para isto, retomo a afirmação primeiramente servida, de que o sibilino em um primeiro momento em poesia condiz com uma maneira de não se conformar com o discurso previsível da linguagem humana, e é mais isso do que simplesmente escrita automática ou rio. Não se propõe uma definitiva forma de palavrear a realidade, é somente uma nova maneira de viver essa realidade. Daí as digressões metalinguísticas e as fantasias temáticas; mas como tentava sugerir, a leitura desse modo diferente de escrever deve corresponder com seu sistema de expectativas. Se há desejo em desfrutar uma experiência linguageira destas, prepare-se para considerar a existência da palavra fora de seu comportamento necessário para os grandes temas da lira universal: amor, ódio, saudades, sexo, et coeteras voadores... Precisamos questionar, também fora de circuitos teóricos específicos, a razão e o contexto em que surge o discurso poético. Você espera o mesmo da poesia como linguagem da realidade para sempre? Eu não. 

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