sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

vivo


Versão doismiledezenada de um poema escrito há mais ou menos 3 anos atrás... Ele já esteve aqui no blog, em um dos meus primeiros posts, mas eu o modifiquei lá também. Vi-o relevante em relação à minha produção atual, se bem que seria melhor falarmos em 'vida atual'. Tenho percebido um valor especial em alguns escritos pré-dois mil e dez, coisas que cria não estarem bem a meu gosto, entretanto é fato, minha evolução como formalizador, executor da poesia escrita é anterior aos meus auto-considerados melhores textos. Está valendo. Me redescubro, me reinvento, me re-anuncio. Enjoy it!

Vivo

Meus dois últimos gestos ficaram no passado eterno, 
me esperando.

Roubaram a beleza do amor algum.
Busco-me terceira pessoa. Fujo pro indefectível erro
mal me conhecendo coisa inocente, 
nomeando cala e grito em 
meu desinteresse ou niilismo.

Se tudo fosse teu púbis campo de cártamos,
infância da língua... 
Se os olhos não fossem tão excedentes, 
tão discursantes em idiotismo...


Quem fala, quem me toca aqui, 
violino-folha escura ao vento,
não me encontra.
Só floresce uma voz.

sábado, 25 de dezembro de 2010

a poesia (ou um problema)

Primeiro traço: minha mente transborda sem massa líquida em seu lago. Tanto que, daqueles já passados em carne, trato de concentrar-lhes o falado: 
                                                         
Voltemos ao ainda não ido: tenho um problema. Quem sabe você também tenha. O busílis é o poema (morfologia por excelência do que é poético, ok?). Sim, a lógica seria eu ter me referido a 'problema' ou 'questão', posto que o busílis viria depois à necessidade de reparação ou estivesse no meio esperando ser descrito (a operação é óbvia, poema  poesia, mas poesia não necessariamente  poema, uma vez que absoluto só o desconhecido e o desconhecido é coisa séria). Mas, qual o x? O lugar do poema em sua forma, ou então sua forma no lugar do que deseja comunicar; mais ainda, continente e conteúdo poético nestas ruas: em que lugar? (labirintos? nem tanto: o corpo já faz o que o poema esconde).


Provavelmente eu esteja considerando trazer lógicas complicadas a mim, pelo menos ao nível do poema que espera, que quando surge continua esperando. Será a poesia mesmo oferecida, disposta tão-somente ao seu pai? Algo parecido com isso vem me esquentando a vocação amadora ao niilismo, que se provou assim denominada quando me vi buscar à deriva algo que deveria vir até mim. Dificuldades quando me olho no espelho... Arriscaria que concordo aqui com o poeta Carlito Azevedo quanto à dificuldade de ser contemporâneo. E existem e existiram homens como eu aos montes com algo a se relevar (ou não) quanto ao tratamento que se dá ao poético, enfileirando razões mil na avenida dum cérebro só. Para que não existam perdas profundas, desta pequenez que me faz único, balbucio um 'cada um com seu cada qual', e vejo que um dos princípios dizivéis da poesia é o homem só é homem (des)construindo esta e outras realidades porque pousa seus dedos nas coisas que não são suas – leiamos, que não são ele. Desçamos... 

O que se passa de verdade? Eu mesmo me pergunto... Algo tem de verdadeiramente se constituir solução ou problema, início ou término neste raciocínio? Para a saúde da sociedade, não, abominamos aporias... Elucidar uma coisa é certamente tomá-la a si, dominá-la. A poesia baseia isso no seu fazer ou buscar ou mesmo em seu buscar ou fazer nada. O homem que pensa convive com o tomar conta de si: assim realizo meu dizer, que a poesia, nada menos que ela mesma, é o processo que busca uma forma passando pela inteligência. No papel ou na base que seja, será ela processo novamente em outrem. Querem ver só? Emulando sob a indissociabilidade do trinômio poesia, homem e vida, o que temos quando se busca um sentido a qualquer um desses três elementos? Relação, a priori  revelada num nó cego ou não. E na teoria ou na prática, cada um desses três objetos se comunica com o inexplicável superficial do outro, pensemos em inconsciente coletivo ou quem sabe, genética da inconsciência, talvez, princípio de imperceptibilidade imediata ou a ausência disto. Este texto inteiro é um diálogo sobre um outro papel de carta, a tradição, por isso muitas vezes ele parecer familiar a uns por aí, a outros pode parecer pernóstico ou congêneres, e a outros outros, exercício de um rapaz desocupado. 

Quem sabe, em vez destes parágrafos imensos que pouco tem a ver com a sociedade imediatista donde sou contabilizado, poderia sintetizá-los na máxima leminskiana 'pra que porquê?', que é absolutamente óbvia, lembremos talvez o trinômio ou nos perguntemos , por exemplo, qual  a função de uma beleza cheio de óvulos dentro dum instinto civilizado? E por aí vai, apesar da comparação estranha... Entretanto, mesmo isto é matéria de alguma discussão, como tudo que é inseparável da capacidade humana de fazer coisas sem um motivo em negrito, num sistema de acerto e erro eterno, no caso acima, uma horizontalidade entre o que é adequado (um corpo fértil) e o que é humanamente viável (pleasure!). Para nossa sorte ou azar, existem homens que falam demais, pensam demais, comem demais, bebem demais ou ... . Neles existe sempre algo para os outros que são iguais a eles ou perseverantes numa meta ou numa falta de, que os leve ao entendimento ou à solidão (uma coisa não estaria proposta na outra?). 

Enfim, continuamos fazendo poesia para um público que só é público porque a necessita, e muitas vezes não o faz por uma mesma espécie de. Interessante seria ouvir este público, uma vez que ele se deixa ouvir (onde ele está? Me vejo em próximos capítulos...). A poesia existe porque há desde sempre uma diferença, um contraste, bi(tri, tetra)narismos; e quando quem quer que seja deseja fixar residência ou visitar outros tetos abrigando coisas que não as que se vê diariamente, com olhos nem sempre conscientes de que se o que olham é real (coisas do 3D...), aí temos um tal de Heidegger disparando que a linguagem é a morada (esconderijo?) do ser. Daqui só uma constatação, parte da resposta que nem sequer necessitamos plenamente, como se precisa de uma cafeteira; reparem como um homem que fosse mais famoso que eu, com uma linha de raciocínio previsível e adequada ao gosto ocidental, quiçá usando uma substância gramatical como a do português, poderia ter dito tudo isto, porém, vejam, meu mérito foi ter pensado  sozinho: a poesia é uma lacuna preenchida.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sublimação


                                                 É essencial fotografar objetos familiares de pontos de vista inesperados.

Ródtchenko



por enquanto sem rumo vou 
ficando: um cupim sem asa ou 
içá fenecida (menos uma cópula)

tudo pede que'u pense
exige parte que podes 

não ter quiçá não ser

por isso o cancro do caule
ou a pétala que cai sem 

causar dor, por isso 


os olhos novos anseiam luz 
na morte de tudo: durmo e 
acordo em sonho esfarelado

nos ônibus o que preciso é comum
a tudo, a necessidade me faz irmão.
compartilho a flor que não gritou

o dia passando não enxerga
a mão inteira que busca um pouso.
esperando gosto, a boca oferecida


por isso a lâmpada queimada, por isso 

o pé cego fragmenta um cogumelo:
assim caio em mim cogumelo pisado

recolho embotado as provas de quando 

me tocaram, já toquei e pretendi 
amar. os fins é que me fazem assim

domingo, 19 de dezembro de 2010

previsão

Nada antes disso caberia na conta do que está no mundo para ser planejado. Por isso tudo aqui é isto mesmo, coisas que aconteceram. Minha responsabilidade seria somente deixar as palmas abertas, acolher quem sabe na linha da vida, mais uma razão que justificasse tudo quando não conseguisse entender coisa alguma. Esperei? Sim, mas quero é que me contradigam, uma vez que não vou esperar de novo, vou ocupar minhas mãos com outras flores em busca dum fruto só, mas agora me vem ao corpo uma coisa: quanto tempo demorará o açúcar subir até à maçã? Terei de esperar mesmo.

Não pedi um metro de razão; a pedra esperando o mar consumi-la e a borboleta de asa rasgada justificam a vida correr assim. Essas linhas que traço falam de um livro que hoje não passa duma página solta. Sei agora que a inconsciência é um trabalho existente onde não pode haver vazios.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

*

Tentar seria uma opção? Tentar. Porém como, assim, já feito sem gosto ao inusitado, ao incomunicável? Metáforas andam me dando náusea. De verdade, que fazer? Que fazer? Por que fazer: fazer porque usamos máscaras, entretanto poucas resistem a vermes debaixo da terra.  Fazer porque o que é feito por mim é feito assim. Fazer porque alguns sentem falta, outros não, e porque preciso viver. Isto é tentar. Tentar porque? 

Para fazer?

domingo, 12 de dezembro de 2010

tentativa de catarse nº estamos tentando....

"Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras", por isso a consciência da víscera alcunhada coração parecer um ser rugindo. Por isso o vazio entre as pernas deste corpo sonado. Por isso a perseguição constante de teu nome e de tua imagem. Pensei que não viveria para viver isto, que é cinema; provavelmente, meu espírito de artista te faça um ator. Bebemos, abrimos a boca pronta a desperdícios, rimos do lixo; entretanto te peço que lembre que sou um artista: não o performer que a todos chama, mas o silenciador de parte de nossa incompreensão.

Por isso os besouros escalando minhas coxas, por isso o tédio preenchido com uma masturbação ineficiente, descabelada pelo vício em ti esticado. Por isso considero '- Acreditar?'; por isso a dúvida, a metástase, o crime, a lâmpada e a dor asfixiante de apenas três letras. Enfim,

a contradição.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

elo

Um motivo, um cálculo, uma revelação, um silogismo que fosse, para
que'u entenda o que passa, a travar evoluções, recorrências, dúvidas,
falta de ar. Simplesmente sei que quando me soltarem, o atacarei. Ele
não entende, creio, mal dedilha o livro que sou eu inteiro a ele
entregue; que'le saiba, estou entregue.

Isso porque o obstáculo em descrever um contorno novo à poética
estática em ser móvel (eu) passa por esta ponte de madeira sobre um
rio caudaloso espancando as pedras por uma noite cheia de silvos, que
é a paixão que carrego. Dirijo-me inconsciente a ele todos os dias em
que cometo um poema. Sabeis a carga disso?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cartas


Aonde e para que iremos além de nossas mãos que anseiam, além de nosso pés que precisam doer, além de nossos olhos que secam? Falando por mim, já estive bem aqui onde toda dúvida poderia ser respondida, nem à dúvida precisaria provar algo, o que alcunhamos e guardamos alegria se pode apalpar através do outro; muitas vezes posso a comer ou a cheirar, a Criação reserva sem dúvida dúvida alguma. 

É que nasci num mundo de virtualidades, motivo que me faz a maior parte da vida poeta. É em sentir falta e não alcançar muitas coisas que venho escrevendo, traçando, como já li certa vez, reinventando e não simplesmente reproduzindo, e como li ontem mesmo, meu instrumento de mudança no espaço, a línguagem, é possível de desconstruir a realidade que diz respeito a esse eu = 'pequeno sistema de incerteza', lembrando Marcello Sorrentino. 

Hoje recebi o exemplar que me seria enviado da Itália como prêmio por ter sido selecionado para a antologia do Concorso Internazionale Castello di Duino 2010. No pacote vieram o livro, com o sugestivo nome de Luce/Ombre (Luz/Sombras) e um DVD com a premiação ocorrida em março. Mas o que achei tão mimoso além de tudo que já tinha visto naquele pacote, foi a caligrafia de um dos organizadores, Ottavio Gruber. Num pedaço de papel com uns dados bancários (tive de enviar a taxa de postagem, pois a associação organizadora é filantrópica, mas enviarei a título de doação mesmo, a causa é boníssima), em letrinhas bonitas lia-se: 

have a nice lecture and hearing 
                             Ciao Ottavio

Nesse instante de admiração da caligrafia de Ottavio me lembrei que, quando cria que gostava de garotas, as tentava conquistar por cartas. Tinha meus 12, 13 anos. Naquele tempo não havia a difusão atual dos Orkuts, Twitters e MSN's da vida, e como sabemos, não faziam tanta falta quanto hoje fazem. Onde quero chegar? Próximo parágrafo.

Pensei em (re) lembrar os frios mau entendidos nas relações onde nos comunicamos com o outro por esses virtualismos. Não estou nem um pouco afim de entrar no mérito da questão do papel (higiênico?) social desses instrumentos comunicativos, que são claro sinal do Tempo e da tecnologia e tals... Que acontece é que mesmo o contato mano a mano abala-se meio a tanta ficção (e porque não ilusionismo?). Claro, tenho meus amigos, meus amantes, meus parentes, e é certo que em outros tempos eu ainda era um menino e podia me dar o luxo de ser energúmeno, porém sinto e vejo a diferença nos olhos alheios. Não nos tocamos, não nos sentamos, ao menos não nos referimos uns aos outros da mesma forma. Relativizando tudo, ao menos no de muito ou de pouco dito aqui posso (podes...) pensar em rever (reveres, perceberes...) a forma como interajo nessa bolha eu-tu-nós-eles. 

No manuscrito, além do prazer estético em simplesmente olhar uma caligrafia decente, havia certa emoção e alguma certeza da presença do emissor naquele instante. Até a despedida tornava-se mais pungente. Lembrei também de quando era pequeno revirando revistas velhas em casa, e via anúncios de cursos de caligrafia slogando ideias de "uma bela caligrafia ajuda a conquistar seu amor", etc's e tals. Aquele pequeno manuscrito de Ottavio Gruber me beliscou à mudança de tudo e minha pessoa é um grão de areia na massa de cimento do muro deste mundo... 

Lembrando aqui que não vim para reclamar nada e nem de nada, somente jogar uma reflexão e deixar um recado. Dois aliás: saindo rapidamente da meada, quem se interessar em conhecer o projeto que suporta o Concorso Internazionale Castello di Duino, pode encontrar mais informações aqui. E tentando voltar à meada, sugiro: 

1. Perigoso lidar com um poeta nesses tempos de Internet; 
2. Uma carta manuscrita (cartas digitadas, aff...) guarda mais verdade que aquela foto da balada que uploadeamos pro Facebook ou Orkut;
3. Vou parar por aqui, que este texto está meio canhestro;

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

esquecer*



agora
devo nos derreter
esconder o pólen
sugerir o aborto
lembrar exorcismos
retomar meu-dito  

envelopar o canto
reconhecer enfim
existirem ocasos
na pedra remetida
a este chão

troar a verdade na
palavra faca cega

agora
devo oferecer uma rês
esperar benção vertida
em água de fruta  

*ou alvejamento na fronteira ou ladrão de mãos cortadas ou interrupção dum argumento ou bicho capturado, etc.

domingo, 21 de novembro de 2010

duma vitória muito quista...

Começarei com calma, pois devo assumir minha ansiedade característica; vou com calma para tentar não atropelar minhas palavras, que por um dia terem vindo realmente do coração, puderam me dar alguma alegria. Quem acompanha este blog desde o início sabe que já falei certa vez do Festival Maranhense de Poesia. Você pode conferir este Sebastião menos performático lá dos idos de 2009 aqui, me desculpando já a fraqueza do texto. Enfim, naquela época escrevia, claro, como venho fazendo desde 2002, quando das primeiras rimas inspiradas na aula de literatura sobre Arcadismo; e agradeço a Deus por ter as levado. Acontece que somente recentemente, coisa de um ano, pude assumir o poeta que sou, sem medo. Amadureci deveras. Tanto tempo passou, levando alegria ou plantando tristeza, mas enfim, a lição que aprendi sobre trabalhar duro, com consciência e verdade nas palavras parece que surtiu efeito recentemente.

Uma das maiores alegrias de minha vida é ser reconhecido de algum modo pela literatura local em seus feitores, e melhor ainda, mantendo meu foco na individualidade existente em meus escritos. Não precisei mudar o que fosse, mas senti que tomar o controle da poesia com responsabilidade foi essencial em meu crescimento individual, acredito que isso se constitui uma espécie de eflúvio pelo texto vencedor do 2º lugar pelo mérito literário no 23º Festival Maranhense de Poesia. Um poema em que concebi com o sentimento, e depois lapidei com a habilidade que venho acumulando e exercitando ao longo dos anos. A alegria foi maior ainda, porque além de este ter sido um prêmio desejadíssimo, meus companheiros de labuta poética, Igor Pablo e Weslley Sousa, encaçaparam Menção Honrosa e 1º lugar, respectivamente, tornando a vitória completa.

O que ainda quero dizer é, oferecer meu muito obrigado a todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, fizeram ou fazem parte de meu crescimento pessoal, o que conduziu minhas posturas em relação a meu amadurecimento literário: às amigas que me acompanhavam nos primeiros festivais, aos meus amigos poetas (mais do que nunca hehe), aos meus amigos não-poetas (complicado, hein?), aos seguidores do meu blog Brasil e Portugal à fora, aos comentários bons e ruins deixados no blog... Entretanto, apesar de com certa melancolia no peito neste exato momento, ofereço minha conquista também ao rapaz que, embora não sabendo abertamente, faz parte da semi-ficção existente no poema anti-silêncio. Quero dizer-lhe aqui, já que me faltam palavras e pudor para tal na vida real (!), que o desejo imensamente e se fosse possível, o amaria com muita verdade. Mas não lembremos disto, pois estas lembranças de dependência e tristeza dominam meus dedos enquanto digito. 

Para ele, uma frase da Robyn:

I'm all messed up, I'm so out of line.

E para todos os meus circundantes, uma frase da Phoenix:

I guess I couldn't live without the things that made my life what it is.

Vamos à foto e à fonte:

Os rapazes de roupa escura pensando: -Somos foda!


What about a close?

Igor Pablo (Menção Honrosa), Weslley Sousa Silva (1º lugar) & eu (2º lugar)

E vamos ao poema vencedor do 2º lugar:

anti-silêncio

és feito de futuros em estrelas
digo matérias fora do alcance
ao mesmo tempo em que carregas
perda de flores em missão muda

embalado em abulia não te chego feito
chave esquecida da casa nem te alcanço
na promessa assoviada a inteira verdade
onde vês que palavra alguma te vestiria

aonde estive e me estendi não mereci
ficar e por quê? te cobrem meus tecidos
na falta dum órgão lúcido minhas mãos
é que te caçam queimando no vácuo e

traçando mais escuros que uma noite
condenso mais almas que possas crer
uma vez que respondes dissoluto aqui
não há barro que amadureça tijolo

não há caminho que conheça vinha
nem sopro que engesse a terra nem
mar que inspire mangue lá no aqui
estornado agora insistência em mim

negar enfim é um destino e uma trilha
tolhendo minha cria em te ver de novo
é alçar um inverno com limões suados
esperando que saturno daqui nos varra

fato não haver uma romã fria nesta terra
que saliva um dia/outro do soro servido
daqui mas sempre mas o que sazona no
pranto justifica este período em fruta
........................................................................................

Segurei na mão de Deus e ele subscreveu: 


- Não, meu filho, fique aqui, você ainda tem o que fazer...


Abraços carinhosos a todos meus suportadores e sponsors. Até a próxima glória.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

a primeira chuva de novembro

Se não está ainda caindo, está ameaçando. 
Não bastava ser feriado, nem este feriado ser segunda-feira, não, não bastou a boa noite com os amigos. Precisava ocorrer algo que limpasse a retina dos passos contados de todos os dias nesta cidade. Não bastava as coisas serem como são e/ou caminharem a favor. Viver uma certeza de pele com quem se gosta também não foi suficiente. Estar calado esperando um sentido ao escrito não foi alcançável. Estar 24 horas sem dormir não foi uma ação notável. Eu o querer muito só é explicável por uma coisa. Os homens esperavam? As crianças ouviram? Os cães dormiram? Esperei, ouvi, mas ainda não dormi. O ar deste ambiente é que vai levar meu corpo marcado de dedos. E como estar apaixonado sem poder bradar, comunico ao interior e ao íntimo mais uma novidade: hoje, em quinze deste mês, do ano da graça de dois mil e dez, projetou-se em areia úmida, céu silencioso e corpo amado, a primeira chuva de novembro.

sábado, 13 de novembro de 2010

maisdomesmo ii



ele não reparou o bolo 
provável nem mesmo as paredes 
nem sei se fui tão rápido para existir nele 
mas sei que nunca fui preocupado 
de nos distrairmos com o tempo 


os traços não se mexem 
nunca vi seus lábios cambiarem para algo 
que não tenha sido eu a causa mas 
guardo o que sempre espero porque 
nos vejo imensos e sem futuro

VII Edition: Deadline 2011, January 7th

VII Edition: Deadline 2011, January 7th
Link do regulamento em português:
http://www.castellodiduinopoesia.it/en/bandi/bandi-stranieri/bando-portoghese/

Uma boa causa!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

efeito ii

Não à toa, Sylvia Beirute me luziu mais uma vez com sua presença neste mundo de blogs literários. Fora seus poemas, que renovam ouvidos de muitos à fora, há suas impressões que há muito me fazem pensativo, pensando como poeta livre, claro. Seu último post até agora, A Temática do Tempo na Poesia Moderna, me impressionou devido à verdade e elucidação da condição de poeta, me impressionou porque tudo que eu sinto, mas outras pessoas conseguem dizer, me emociona. Que tal sair um pouquinho de seu sossego e dar uma olhadinha lá? Para os interessantes e interessados, a viagem pode trazer ainda mais prazer. Abrazos.

efeito

alguns nomeiam
sonho a vontade


prefiro esperar
o meio-dia cair
nos postes e fazer
as sombras claras

terça-feira, 2 de novembro de 2010

da postagem anterior (ou dos pêlos com acento circunflexo)

pêlos*

Não coube a dita reforma ortográfica ao alívio e fluxo de meu poema, que os Sr.es podem ler logo abaixo... A reforma diz 'pelos', e assim será por um longo et coetera, mas, não, não existem 'pelos' sem acento circunflexo num mundo como o meu. É minha escolha, prossigamos...

maisdomesmo

Finjo estar pronto, 
pois algo refletido frente aos olhos 
(você, no caso) 
se conforma em seus próprios átomos 
(seu corpo, aliás); 

finjo que não devo esperar nada, 
visto que são inconfessáveis 
algumas dúvidas: coisas 
que pêlos* como os teus 
não devem conhecer. 

Será mais fácil agora 
em que não precisamos saber de nada, 
basta este agora sem palavras. 
Vou fingir que és uma fruta.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

vid&arte


Como começar? Bem, começando, provavelmente neste post não conseguirei estender todo o telhado que imbriquei, porque estava tão sonado, que não resisti. De qualquer forma, faço uma promessa (não procurem meus dedos cruzados-escondidos, por favor...) que, caso não consiga me estender como gostaria, ao menos um dedo consegui levantar. O que vim até aqui oferecer a ninguém são minhas próprias contradições. Por isso, de certa forma me considero um artista. Poderia não escrever um verso ou sequer pensar em tirar uma foto ou pincelar algo, etc., mas (salvem o clichê!) a vida só imita a tal da arte porque nem todo mundo tem, digamos, competência  e/ou espirituosidade pra tal. Vemos, já inventaram a mímesis, lembram? Indo e voltando, aqui e enquanto houver lucidez para cultivar o péssimo hábito de tentar prever o futuro, irei ter-me como contradição. E como bem sabemos, assim como eu, muitos de vocês pagam um preço pelas contradições. Só que no caso deste rapaz aqui, acontece existir olhos, boca, pele e mãos diferentes num corpo comum. E na maior parte da vezes quem me encontra vai cruzar primeiro com o não-físico de um humano. Não que'u seja louco, savoir ou coisa e tal, mas é que mamãe agora tem dores de cabeça muito fortes por perceber que seu filho não é deste planeta. Agora tiro da boca de Jack Spicer uma justificativa: My vocabulary did this for me.


Fora este parágrafo enorme que contradiz minha promessa de ser pouco, a contradição existe no que o Geral tem como ideia de artista e Arte. É contraditório concebermos que eu possa falar algo de arte somente como admirador silente, assim como testemunharmos limites da imaginação e percepção e linguagem serem materializados neste mundo por gente pobre, carente de alguns recursos, alguns miseráveis (muitos chegam até aqui, outros têm existências pobres, mentes de poucos recursos, concepções miseráveis). Aonde quero ou quis chegar? Nem sei ainda. É que ando muito a admirar Toulouse-Lautrec, Schiele e Klimt, aqui nas galerias internéticas mais próximas de mim. E aonde foram aquelas mãos? Foram provavelmente ao mesmo lugar onde deixei meu pensamento, que não é o lugar onde sento e não consigo tecer um comentário sequer sobre por que Schiele se deformava ou por que as Judith de Klimt sempre estão com os seios desnudos e a cabeça de Holofernes nunca aparece inteira, ou ainda por que elas têm aquele hairdo do caralho... Coisas, queridos, coisas.

Coisas que posso especficar, feito, complicado pensar num projeto de livro, numa experimentação da linguagem, quando se tem mais contas que o dinheiro consiga enxergar. O dinheiro! O dinheiro! Já dizia a canção: If I had a little money... eu teria já editado um livro e não estaria tão preocupado em agradar ao grego ou ao maranhense, whatever. São, também, amigos, as buscas que se fazem contraditórias, as buscas por reconhecimento artístico e/ou reconhecimento amoroso - este que não sei se poderia me ceifar de qualquer outro reconhecimento. A Arte, ponho-a aqui como contraditória porque é diversa, ou mais simplesmente porque as palavras são tantas e algumas pesam tanto, outras pesam a ouro, outras a pena... Tão leves que são efêmeras, por isso muitas vezes creio a poesia ser incomunicável. Mas com certeza comunica um pouco a alguns poucos aí. É a vida que vem sendo contraditória, e a Arte é uma faca no meio desse peito, que rasgando, vai desconfigurando o já sabíamos sobre o endereço de casa, a senha do banco ou o estômago roncar. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

pattern



certo – feito tua boca
bêbada – o que’u quis de nós
sem que o escuro te mandasse
passear no famoso vácuo
de meu nada

assim decidi um não
sabia contudo que estavas aqui
só que lá é impreterivelmente isso
parte em coxas
outro quarto em abraços

em muitas barcas te correm meus dedos
tão cheios de carinho que os tiraste dali
que já foi tua cama que já me conheceu e
me determinou secretário-geral
de nosso coisa alguma 

sábado, 16 de outubro de 2010

Overture


Sobre hoje ser sábado e mamãe estar brigada com todos aqui. Ah, e sobre becos escuros que existem em meus poemas quando eles são mais que um excerto da estética juvenil focalizada, são poemas feito por gente que come, bebe (ainda não compreendendo este verbo perfunctoriamente) e se sobressalta (!). Pois é, para muitos ofereço um texto que só se estende quente quando lido, porque meus senhores, sofro de uma talvez dislexia moral. Explico: é minha frieza e (des)confiança em tudo que é real ou necessariamente ligado ao entendimento. Alguns diriam que sou um lerdo ou um alienado. Alguns nem acreditar nisto irão. Talvez eu seja lerdo e alienado, e por isso permito que não acreditem em mim. Me pergunto, para que um foco, um intento (racionalmente falando)? Digo, porque o corpo manda quando permito que'le mande? Isto é ser menos corpo, certo...? E eu penso demais só quando não tenho que fazer um trabalho de literatura... Sou um pulha, mesmo.

Então d'alguma forma, sem a fama ou o respeito que eu sonho (ou sonhei) ou quero (ou queria) ou construo (ou construí), eu vomitei um pouco do eu mesmo para... eu mesmo, senhores! Sou muito de mim para mim mesmo, e por isso queridos, compreendam, gosto tanto de me entorpecer naqueles cheiros estranhos de banheiro de bar e caras suados, e também do sabor daqueles líquidos que até hoje me pergunto, desde que'u era criança, como conseguimos bebê-los e para que, mas eu sei: é para sermos menos hipócritas. Saio daqui então (ou um dia desses, saio de verdade, quem sabe?) pedindo ao Céu que não permita que'u apanhe se me der vontade de apertar a bunda gostosa de qualquer cara num banheiro qualquer. XOXO

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

fim


sim
meu corpo precisou conhecer o frio
no mesmo ritmo do solo que dorme
da pedra em queda

e muito jovens já precisamos de um enterro
que leve nosso sono sendo teu nunca meu
vice-versa em outros idem vário ibidem

domingo, 3 de outubro de 2010

tentativa de catarse nº tantos



De repente, não existirão mais anos que fundamentem meus chistes, minha ironia fina, minha arrogância, minha busca pelo original, meus gestos sibaríticos quase que planejados; verdade (e que até agora nem Deus conseguiu me responder) é a impressão do tempo preso, acreditem, entre os dedos. Antes, me cria blindado de clichês, e agora até um piano que finalize uma canção qualquer me arranca uma lágrima que, antes de sensibilidade, agora remarca o tal do sentimento que abre a todos e amarga muitos. Isso, em minha situação, é um caminho visitando a morte. 

Quero, portanto, mal ouvir, pelo menos, o zumbido, o quase silêncio divino, em vista do alívio que o Reino dos Céus oferece. Acreditar me faz desgraçado e salvo. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

porque meu estilo não convém a mim

(sim já escovei os dentes, 
mais nada)

ouvidas todas as guitarras possíveis
flowers florence marcas do et cetera

aqui
tudo que é synth permitido pela tarde
robyn röyksopp m.i.a. meus ganchos

dentro disso e por baixo do que é lá
amo triste a emergência de tântalo

me guardo e te ofereço boa noite
como se estivesses morto e 
me amasses
(por isso acho que vou tirar o bigode)

Let me have it, let me grab your soul away


Para e'le

Querido, tu vieste com a ferrugem. Me forço a escrever, porque assim traço tua lembrança. Mas preciso imediatamente desenhar meu caminho, que de teus braços para a rua, venho tomando imensa consciência de mim mesmo. Enfim, dentro de um palmo de distância, consegui ver a eternidade. O Sempre constrói sentidos razoáveis em mim. Ando desgraçado e mais perto de searas divinas. É uma oportunidade. Não te esqueço visto que teu cheiro reencarna em todo objeto. 

Já não posso mais perceber as marcas de um abraço, que'u guardo como um morto que não pode levar riquezas no túmulo. Te quero porque sou jovem e talvez não mereça outra vida além desta, agora cheia de ti. E o vento nada de palavras leva. Ele carrega tuas coisas, nossas costas, ele sequer nos espera. E termino te dizendo: caso não possas me querer como eu te tenho, aloja com respeito minhas lembranças, que hoje conheço o que chamam paixão, e não poderás me visitar em uma prisão como essa.

as pessoas que não pensam não amam. é irrefutável. 
(Sylvia Beirute, Dia de Chuva)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Só isso

Virei e soprei: não te reconheço.
Não te pertenço, portanto não cantes auto-piedade.
Foste. Precisaste.

E vais morrendo feito teu reflexo,
há dias dissolvido nos espelhos físicos.

Em busca de te precisares é que canto.
Ou cantei.
Talvez sequer uni uma verdade sequer.
Foste.
Sou algo que aguarda sem compreender a espera.

Poesia, desgraçada.
Mundo, trimegistamente desgraçado.
Planas para longe sem nunca sair daqui.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

cápsula do tempo

daqui a cem anos
entenderei-os anos-luz uma leve
modificação do que hoje sei voz


irei navegar no silêncio
dum vácuo brumoso serei
parte de muitos núcleos
tornarei-me roto


de tantos rostos em
várias coxas teci algo
que para os últimos
vou esperar um nada:
uma vida caída aqui no esterco
caminhará surda antimatéria


tome portanto meu caminho
me leve aqui mesmo além da
estrela que tua cala me draga
me oferece à falta de órbitas

sábado, 4 de setembro de 2010

O vício

Há um momento em que mesmo os vãos entre os dedos expiram o incerto. Sei que oferecido a muito posso não mais retornar. Sei que certas vezes me impossibilitam os atos, escrever por exemplo. Porque o vício vem de coisas que inspiram o silêncio, ou ele mesmo é coisa para calar, se não objeto que fecha. O vício é bipede e exige muito de mim.

Depois do uso, me exijo muito, às vezes, sem que verdadeiramente possa exigir. É que caio e não desejo que ninguém me junte. Por favor, me pise. Me subjugue, me alise. O que me enlouquece se fuma, cheira e vê. Posso tocar e fugir. Preciso ser muito de mim para fazer o que faço.

sábado, 7 de agosto de 2010

discovery

minha fé goteja própria à evaporação
dentro destes dias caídos me avisaram:
tenho um semblante tenho cara de alguma coisa
entretanto nada de luz ainda vejo
espero um primeiro sinal

muitas vezes o mais do que nunca sobrevive
aconselha: o silêncio já diz tudo
assim sendo não acanho o ignorar
ando e ouço as pessoas circundantes
ralhar com um santo

de repente minha vocação crônica
não passou de um espelho
como tal não fala em línguas
de uma vez confesso partes erradas
exatas do desejo caindo expressando
figuras que o reflexo não revela

sábado, 24 de julho de 2010

ontem

perfeitamente acurado
por isso me agrado de pisar em ovos
de vez em quando

com isso me espanto
nada de menos
só teu corpo invertido me pisando

estritamente perfeccionado
estando livremente aberto em regalos
espero nao te desesperes
às vezes a cor dos tijolos dissoa
feito teu rosto

agora arregalado pronto a me oferecer
tudo a isto dito eu cheio de escolhas
finalmente justificado
venho sabendo que nada me seduz mais
que uma sutil inconsequencia

segunda-feira, 5 de julho de 2010

reta

dum ponto a outro só digo
que nada escorre um conceito

da distância entre meu olho
e tua boca tudo luziu
menos uma reta
considero agora o que
foi estatura e força:
pode-se inventar um combate
onde já existem feridos?
esta mente dita minha nada
(carregada de palavras)
pousa além disto
eis que te ensino:
nada podes fazer contra
a sutura dos sistemas
nada rebate a horda que
senta à mesa de jantar
sinto que preciso de um livro
uma coxa de frango
meia alface
verdade somente a mesa
se encontra posta

nada hiberna no nexo
(serei eu louco
nexo sem calçadas?)
desde já muros sobrepõem-se
para tudo inclusive homens
nada te atingirás fora de mim
(com certo orgulho me enojo do
espelho – nele nada se vocaliza)
enquanto que tu aí estás
sentado salmodiando um corpo
ou outro aqui eu me entrego
à boda ou ligeiramente mesmo
às núpcias de quem não tem corpo
já nos inventam tantas batalhas
que enfim chega a hora:
afastas a razão não restará
ledor sobre sentido
ouvido over lido

sábado, 3 de julho de 2010

No one listens to poetry. The ocean / Does not mean to be listened to. (Jack Spicer)



síntese 

pequeno pio meu caído do mundo 
sopro totalmente incorporado 
de um não-toque 
presença ignóbil capitulando 
fortitude oriunda do que nego 

quero-o muito 
desejo num soluço tê-lo aberto 
considero sugá-lo lá pelas onze 
mas quem dera 
quem serve num prato seu trago fugidio 
quem me dirá aonde minto 

certamente não vivo 
congelo no escrito o badalo da proscrição 
um signo para o limbo 


...................................................................................
...................................................................................


Esta postagem tem como título versos do famoso poema Thing Language, de Jack Spicer. Você pode conhecer melhor o poeta e ler este belo poema aqui:

terça-feira, 29 de junho de 2010

ocigàrrobrev (ou, "- Vamos carapuça, caiba!")

aos 
que não me lembram 
não me esperem 
não lembro 
sequer de esquecer 
quem 
anda esquecendo 


não espere nem 
lembre em esperar 
quem 
esquecendo lembra 
o que não espero 


lembre-se 
não esperar 
lembrando 
de esquecer

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amor

Do nada, assim parece às vezes como entendo a vida. Fazendo parte das coisas enormes e presentes, viver é um óbvio que poucas vezes espera ser ouvido quando de um ônibus lotado, um atraso, um engarrafamento, um susto, uma obrigação. Muitos do lado de fora de mim nem imaginam, drenam meus braços entusiasmados, fazem-nos quebrantos de si mesmos. 

Haja agora poesia, haja arte que transporte... 

Razão emergente esta que agora surge, comum a todos os cegos, razão esta que não se mascara além de pura necessidade. Acreditamos na origem aristofanesca do amor, não neguemos. Alguns engordam, outros saturam os olhos mesmos. 

Haja invencionice, haja escape... 

Então me lembro do exato instante que usei a palavra touros querendo usá-la. Vai entender, mas foi perfeito. Verti-a do carinho que de mim algum humano não pôde conquistar. A língua é minha, senhores. Enquanto alguns querem, pedem ou compram corpos, eu os faço, eu os tenho, e hajam espelhos a definir o que é tudo isso. Fecho os olhos e me encontro. Meu reflexo não pertence à palavra, somente minha matéria. Assim, amo a tudo e a todos. 

Haja fuga, haja ausência na presença... 

E de absoluto, só o fim (que é amor...), quando dele se compraz o mundo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

#tonto

Ainda não sou um profundo, sequer consistente conhecedor da obra de Saramago, o que de certa forma me livra de muitos clichês, e principalmente de lamúrias póstumas, tão recorrentes no mundo literário. Ainda sou um ponto em relação a ele, isso é certo. Acontece meus senhores que um das maiores vozes da minha língua não mais está entre os vivos. Com sincera consternação, me encontro levemente atordoado. Como poeta, se assim me permito, constituo uma visão holística para muitas pessoas menos atentas... E como tal, me sinto preparado a tentar aqui expressar algum comentário sobre este acontecimento estranho à normalidade. Compartilho com Saramago uma essência primeira: a língua. É parecido com perder dinheiro. É um desses escritores que dão orgulho e coragem a muitos que escrevem. De fato permanecerá acordado e lúcido como sempre foi, feito uma necessária marca no mundo. 

Um mundo curado? Talvez uma doença silenciosa.
Adeus!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Constatação

avalie-me assim
insosso tosco
randômico

associe-me então
a um dia em que
não mais chova

sei que estás
imensamente calado
imensamente

se pudesse te
morderia os braços

mas não o farei pois
acredito que o amor é
uma coisa lucífera e

que está sempre em
cima de uma
cabeça vazia

domingo, 30 de maio de 2010

Sobre o projeto poético

Aos olhos dos outros, um homem é poeta se tiver escrito um bom poema. Aos próprios olhos, ele é poeta apenas no momento em que faz a última revisão num novo poema. No momento anterior, era apenas um poeta em potencial; no momento seguinte, é um homem que parou de escrever poesia, talvez para sempre. 
W. H. Auden

É indubitável que as caudas dos cometas carregam perguntas... Por algum motivo, carregam gelo também. Enfim, é por aí das tantas que se vão e voltam a cada 76, 6,619 ou 3,31 anos, que se impõem os caminhos percorridos e/ou a percorrer sob as ações e razões que se imbricam em nossos passos vivos ou arvoram a impor nós mesmos a nós mesmos constantemente. Vinda da casa das questões existenciais/teleológicas, a consideração da condição de poeta argumenta sempre contra e a favor do humano escrevinhador, disposto a se jogar num poço depois de perceber-se, à la Macabéa. Acontece que orbitam em nossa ingenuidade as luas talento, tino, originalidade, tradição, cópia e fatuidade, entre alheias análises óbvias e várias; por este fio, desconfio: para um novo, antes que haja, qual o objetivo do escrito e seu lápis?

A juventude, por mais Três Graças botticelianas que seja, é um peso a quem ainda a absorve no ritmo do que deve ser feito e do que está acontecendo. O mundo, queridos, o mundo é este e fugindo de um despropósito, proponho: o que fazer agora? O mundo é também algo que pertence ao hoje, não esqueçamos. O tudo lá fora aos olhos de um jovem não necessariamente carece de ser lapidado, entretanto o depósito voluntário no papel carrega mais que deslizes duma esferográfica. Carrega essencialmente o que no mundo foi e vem sendo feito, literariamente apontando. E não vou por aqui, que essa história em tradições e cânones já é dérmica.

Creio que o vértice desta insônia vem ser a consciência. Que ela traz consigo? Conhecimento, atualidade, domínio da condição literária, da forma proposta. Existe consciência em seu lápis? Provavelmente exista ao menos validade no que vai surgindo... Penso na ajuda que Pound deixa: Repetir para aprender, criar para renovar. Creio que o vértice desta insônia vem a ser a consciência... da condição, do caminho percorrido, da base que vem sendo construída com o próprio barro, nunca com tijolos comprados. O aprendizado em poesia existe nas coisas e textos diários, e ainda crendo, constato que os passos deixados durante qualquer caminhada (pistas) vêm da experiência. O Tempo, felizmente é relativo, por isso, deixamos por aqui de nossos corpos e mentes mesmo, o problema das marcas, das perguntas, das memórias. Arquemos com as consequências!

Penso finalmente em delimitar (após reconhecer) a existência do por que faço e para que faço. Longe de resgatar o universal histórico dos artistas de todas as épocas, só poderia responder ou calar por mim. Até porque esta espécie de ver-se no espelho é fundamental na caracterização da poética dos que, antes que iniciantes ou anônimos, só agora se fizeram brotar longe do receio. O mundo sempre esteve à sua disposição, mas existe um momento na vida de qualquer um, em que o mundo se dispõe a ser abraçado, mesmo que às vezes abarcado napoleonicamente. Dito isso, digo que escrever é estar do outro lado... A palavra é meu domínio sobre o mundo, sacam? Inegavelmente é a confissão mascarada ou a relativização do Estabelecido ou ainda a ideologia rasteira que justificam algumas madrugadas invadidas. O homem em sua poesia é atuante, no mínimo, em seu próprio estado. Aquelas estórias de demiurgia ainda não chegaram aqui. Aparentemente.

Gostaria de poder manipular a conceituação e poder escapar à toda ordem pragmática que me assombra a nuca, porém, ainda não (re)conheci as fisicidades e suas cartilagens na recepção e inclusão do texto poético atualmente. Verdadeiramente nem me permito acreditar se gostaria de sabê-lo. Aindo vivo noutro mundo aos que me sustentam a crer em mim-mesmo-escrito = os jovens intelectuais, os poetas que amamos e aquele que somente eu nesse canto amo; todos eles e eu sabemos que, tentamos e tentaremos enquanto houver diferença na resposta, na definição, insistiremos como mais viável saída no silêncio. Essa vida toda de estudante testemunhando a crítica e a teoria tem seus erros (que venho corrigindo, lambendo o que mais me individualiza, como um poema), ressalta revivendo a poiesis e encerrando sua força num corpo material. Por isso, vivemos nos calando, não é, Rimbaud?




sexta-feira, 28 de maio de 2010

O agora é um prenúncio do mundo

Seria uma infinidade ou uma dificuldade de finitos encolhendo minhas unhas? Coisas de quem muito fala, fala pelos cotovelos, visto que somente os próprios braços o ouvem. Entretanto, posto e servido, revejo já sem forças questões de esclarecimento sobre minha língua, que nem quando musculosa enterrada em ósculo consegue ser traduzida. Coisa de mu(n)dos. Passemos.

Certamente, ainda que feito de estômago e pernas, é o escrito que encrava no chão e nas paredes, e subo o nada além disso. Com todas as licenças do mudo cheguei a mim mesmo, e venho desfazendo o cal que dividia um descanso do peito em consciência da cabeça largada num campo de batalha e tudo que tem em seu silêncio é um som pincelado: bum! Mas daí até o hoje o que supera o encanto e/ou a queda é o receio, um medo longínquo de mentes esquecidas, é um possível  derretimento da lucidez...

Antes que'u durma, lembremos:
-do cãozinho de barriguinha inchada;
-dos jovens donos de tudo, exceto de si mesmos;
-dos risos e sopro de manipulação contra aquele deficiente mental;
-do cavalo abandonado ao sol a pino;
-do sonho da casa própria;
-de tudo que venho esquecendo e;
-do espírito propenso aos ventos, aos fatos e vistas que descem...

E não esqueçamos do que vêm se escondendo sob os pés.

Never met a more unimpressed, depressed lad

Rufus vem me ouvindo o nada, como o título acima sugere.

Venho dormindo e acordando, tragando a minha pessoa duas vezes por lua. Isso é razão da política de esperas aqui. Carrego um ombro, ombro jovem, verdade, mas que dificilmente entenderia o peso de um dedo ao menos, desde que esse carregue alguma intenção. Realmente adormeço e estrangulo ainda meus pulsos a buscar um verso falho, um teratoma nisso tudo da rotina; venho já sem graça absorver uma pergunta pra vida toda, toda oferecida num conceito: escreves pra qual tu?

Antes de tudo existente na Terra, já houve uma resposta cabível, creio. Costume já vem me dizendo que isto é típico de mim, que pareço nada. É para nada que escrevo. Quem sabe o que carregar de mim quando o escrito tomar minha vida? O nada é um abismo? O medo nem veio a me desmentir. O nada é um aviso. Meu escrito é um juízo.




quinta-feira, 27 de maio de 2010

W

Se existissem dores atrás de meus olhos eu saberia, mas com um pouco dessa noção ele apareceu para mim em sonho. Quase certo da distância de minha certeza, ele nem imagina (lá onde as Ideias se encontram...) que mordi seu dedão quando oferecido, pois eu estava caído em seu peito num abraço de tepidez anestésica. É, o tive numa inconsciência, mas é claro que me refiro ao adormecer da realidade, não do eu. Tive a chance de cair em meu próprio erro com ternura. Ele? Está sentado em cima de sua barragem.

Louco

'Sad with what I have...' (Rufus Wainwright)

Escuro. Por aí da madrugada. Fuga de um ladrão. Inexistente. Inexistência maior, minhas fendas. Pálpebras em colapso. Borboletas todas asas visitando pelo menos uma vez agonia. Fugir. Eu, ainda não alar. Eu.

Vejamos. Minto. Vejo. Visto. Tenho visto. Vi.
Vejamos. Menino dedilhando teclas internas. Som imenso. Explosivo. Interno. Logo, sem juízo.
Menino. Não falte com a verdade. Menino.

Não mentir no escuro. Despojo. Sono. Conforto. Despojo.
Sono. Pegar um ônibus. Vida em monóxido. Querer no excesso. De gente. De nada. Querer. Sono.

Sono que me estica. Ali, além de tudo perto do shih! Ali. Sono.
Desonra. Queda. Criança. Retrocesso?

O silêncio de Rimbaud.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mentira

estou ainda em mim
tanto na ciência dos dedos
quanto em suas falanges dúvidas

gritam então os olhos
cientes em parte que mente
o que veem sobra em promessa

quebro uma intenção do corpo
sua menção se submete a um delírio
em tudo que sobrevive na queda da boca

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aniversário

que'u não esqueça enquanto me houverem 
ossos nem prestígio ao menos se houvesse 
consciência nas palavras... 
e foi isso a matéria de meu lapso


houvesse coragem... não não que não 
houvesse nada naquele canto em que bebo 
corre na cevada o gelado isolando minha 
voz na existência de tanto mundo circundante


houvesse espaço em que'u ganhasse saídas não 
não mereço os olhos pesados é que carregam 
muita saída te aconselho a sair a dormir 
eu sou lá fora meu grande desespero

terça-feira, 4 de maio de 2010

.....................

Considerando:

- falta de convivência prática; prática de silêncios;
- fuga do acaso; acaso meus poemas fogem;
- na falta permanecem alguns textos; alguns textos permanecem faltosos;
- dentro de mim nada salva da ânsia; nada salva a ânsia de dentro de mim;
- guardo um soco de tristeza; soco a tristeza;
- ninguém sobrevive palavra insistente; na insistência do ninguém sobrevivo;
- sempre dúvidas; duvido do sempre;
- quantos guardam as palavras?; as palavras (filhas da puta) guardam a todos vocês;
- minha cabeça sem a 'minha' retém uma nuvem de tags; uma nuvem de tags sem a cabeça, não seria 'minha';
- nunca estive bem, quem o quisera? quisera eu estar bem no nunca;
- digam-me tudo, recolham, embalem; recolham o tudo, diga-me se ele vem embalado.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pelo dito hermetismo IV ou O Prazer

Lutar com palavras 
é a luta mais vã. 
Entanto lutamos 
mal rompe a manhã.
(...)

(Carlos Drummond de Andrade - O Lutador)

Hoje, acumulo a memória ligeiramente puída e desconcertada dos poemas que vão e vem, às vezes sequer respingando sua dobrada memória. Como o pissing, que exige uma especialidade ao paladar, a poesia de todos os tempos exige mãos certas ao seu gosto. A variedade de estilos e formas, temáticas e imagens é imensa. Geralmente, por falta de educação (ou por falta de paixão...), em nossos corpos não existem enzimas capazes de ir além da mímesis; por aproximação ao mal informado que creio ainda estar levantado, digo que isto é uma questão em latim, também, querido: imitatio. Lembra? Prossigamos.

Aqui, ainda sobre a historicidade individual em minha memória poemática ligeiramente puída, conjeturo reavaliar o estado de morte ao qual os textos e poéticas novíssimos que surgem estão. Eu, claro, incluso aqui. Explicando, o estado de morte ao qual me refiro é a recepção dolorosa. Essencial que os leitores, profissionais ou não, esqueçam a política do ócio, pois que a poesia é de fato, meio de conhecimento. Aos antigos era didática, aos modernos, catártica, salvo absolutismos. O meio de conhecimento existe inclusive como a substância empírica do prazer. O que sustenta leitores, críticos, estudos, cursos, nomes: prazer.

Por que o texto em circunstâncias contemporâneas adquire aquela dor indiagnosticável? A convenção já não responde às circunstâncias. Realmente, o que está doendo e se remói em convulsão lírica, vocabular ou frástica (queridos leitores inocentes, levem minha mensagem), é fundamentalmente a mesma imitatio que não corresponderia primeiramente à tanto avanço ou ousadia, ainda que fuga. Mas é cada vez mais perceptível a consciência e a atividade da condição atemporal e primeva da poesia como objeto ou organismo linguageiro (até linguístico) existente na intersecção ou arredor da convenção da escrita. Profundamente guardaremos isso, não é?

Acrescento outro ponto: o classicismo ainda ilhado por alguns contemporâneos no cenário poético brasileiro atual reforça meu comentário parco: o culto à formas e temas tradicionais, reforça o desconhecimento de alguns não ousados receptores, porém encharca o fazer poético testemunhado do frêmito do prazer. É a forma antigamente nova de se bolinar a convenção... Totalmente, tudo é válido. Definindo neste canto de sala o que distingue o que é válido do bitolado e trivial, existe a musicalidade, a metáfora inusitada, o tema oculto, o orfismo esperançoso, e outras exigências que como tudo em poesia, atravessa os rios e o vento, reviram e engolem cidades, mas tudo voltará a um lugar são de intempéries. Registremos também a questão de 'olho'; bem, para isso um bom cabedal literário é indispensável.

Queridos a quem a curiosidade tocar, remarco o underground das questões óbvias: que fundamentalmente todo texto hermético é feito pra ser compreendido. Não, não estou subestimando sua inteligência; é que, como anteriormente resposto o conceito da condição inerente à poesia de passear por fora do reino, a unidade de hermetismo guarda sua liberdade de interpretação ou impressão, ainda sentimento. Guarda aparentemente tanto, que aceita o sexo de todas as chaves. Segundo, o poema, à vácuo ou em sacola de feira, é espelho de beleza. Essencialmente a do tipo indizível. Por enquanto é isso, por instinto, uma beleza que atrai, um prazer posterior.





quarta-feira, 21 de abril de 2010

Psiu!

Começo assim: do que falar iria, esqueci!

Entretanto...
Existe no pensamento alguma reminiscência sobre tradições poéticas, seus diálogos, sua conveniência... A beleza que os textos imemoriais seguram, às vezes, como enleios nas cabeças dos jovens poetas (you must sound like this to reach something...). Inegável que aquele toque de clareza profética nos textos 'clássicos' enchem nossa alma (a dos visados, viram?) de altura, de verdade, de armas. Sabemo-los certamente como fios condutores das unicidades humanas. Por isso são totêmicos. 

Venho a considerar os 'grandes' neste post, por necessidade em adequá-los como existentes, compositores e fundamentadores, não somente de minha poética, mas óbvio, de toda uma contemporaneidade. É que, ainda numa realidade de perspectivas mal equilibradas (aquelas do Deus é quem sabe), tomo a grande parte dos meus textos, frequentemente, não tanto em seu sentido, mas em sua possibilidade, clareza e dúvida. Estamos deparados com uma situação mezzo abandono mezzo insegurança... Venho aqui a considerar que alguém (quem sabe eu?) tem de se convencer de que o rapaz que aqui fala não é um amador, menos ainda um iniciante.

Who cares? A recepção comum (diria, corriqueira?) são críticos, estudiosos, curiosos, leitores, simpatizantes, paliativos... Eis que revelo: são pessoas! Tratariam um poema dum novo como encarariam um novo lançamento de celular. Será? No mínimo, em parte. Quase em essência. E todo um pretenso e fetal projeto em concepção poética para a fuga do comum mas com estada no essencial derrete na própria lama do qual surge. Aborto. É, é isso... Passo (passamos) pelo aborto. Fail!


Este blog testemunha um meandro ou outro disto. Puxa, que eu não precisaria falar disso. É que de todo silêncio vem uma pista, e toda pista implica numa busca e boa parte das buscas gravam quedas. Esta palavra e a que virá daqui a pouco e a que estaciona feito preposição ou pronome relativo são aquela ponte que nunca deseja cair. A que testemunha os quatrocentos anos de qualquer coisa (isso existe?). Este espaço é um poeta de camisa aberta!



"a cabeça cheia de ar que se desfaz no túmulo de Pound"

domingo, 11 de abril de 2010

frame

buttons not working 
are out of my vocabulary 
fixing all his smiling impressions 
surrendering my weak flesh that 
aches without a little point 
of his seedy light

quinta-feira, 8 de abril de 2010

LoveFail

Ofereço-me mais uma vez aqui a quem quiser me ferir. 

Passam por esta cabeça convenções lúcidas em cada erro que viver impõe. Tipo, uma nova paixão. Apêndice dessa condição de perda é parte dum poema de Monika Rinck, zum fernbleiben der umarmung, ou " de abster-se dos abraços", que li há poucos dias no blog Modo de Usar & Co., na tradução de Ricardo Domeneck. Sintam:



você não queria morrer uma vez mais,

despistar-se da colisão era sua única chance.


(...)


como amar certa linha de cabelo num crânio, um traço

de perfume no pescoço, tudo se foi, não ficou, longe.


(...)

Trago esses erros de uma viagem ao Recife - PE. Durante o trajeto, pelo ônibus, no que o Claro me permitiu deduzir, considerei várias impressões: paredões de rocha, morros, verde e barro indelével. A cor do barro é absolutamente tocante. Me calei para o barro. Na cidade de fato, durante a estada, (re)conheci um homem essencialmente este barro imóvel na estrada. 

De volta à minha São Luís, cheio de enleios, penso até agora em como pensar este homem num poema, já que pouco dele assumi e assimilei em minha corporalidade. Como paixão, não imagino aonde eu esteja. Então o que fazer? Me é especialmente permitido devanear na possibilidade de consumir essa verdade masculina na abstração. Entretanto isto não condiz com a realidade da matéria, notavelmente a humana, que grita como uma cigarra. Espero que vocês compreendam e considerem de alguma maneira essas indagações, não somente como um registro de um lovefail, mas na forma de mais uma maneira de amarmos a poesia. Em parte e sem compromisso, isso é o que imagino quando digo que 'quero pensá-lo num poema'. Num nível um tanto primário, mas faz parte. Outro parágrafo, por favor.

Venho pensando na religiosidade da poesia, no sentido do muitas vezes necessário desprendimento da materialidade, da vida frívola, da carne, enfim. Provavelmente por causa do arrebatamento, do mergulho inerente ao Orfismo. E na dificuldade de tomar aquele rapaz em meus braços como todo meu sistema pedia, acabo por dissolvê-lo num poema frio. De verdade, provavelmente, existem desvios em minha vida (vida de um poeta). Estamos cansados dos pássaros que escapam de nossas mãos, não?

De verdade, provavelmente, estruturalismos e críticismos à parte, nem sempre pensamos na molécula imensa e chorosa que é o humano por trás da poesia. Por trás da vida aparentemente silenciosa existem os poemas, que funcionam como olhos de um brilho considerado poesia. Aonde termina o ego do poeta e começa o ícone do artista, agora esculturado? Parece uma falha de cárater... Uma tristeza somente. My poetic illiteracy.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Aos amigos que não lerão isto ou Sebastião Ribeiro, O Órfico

O Relativo, afrouxado há séculos no Universo, parece ter perdido a máscara; em vez disso, também, deve ter encontrado um segundo em seu derramamento para lembrar a um pedaço de Cosmo como eu, que apesar dos clarividentes, dos astrólogos, dos astrônomos, dos matemáticos, dos ciganos, o Devir preencheu-se de cansaço a cada gesto balançante aqui em terra; os ossos não se importariam em voltar a um primórdio de Criação, caso o que sustentam percebesse que o instinto e sua Vida corporificada não passam de mecanismos, e que sua natureza é não precisar labutar fora disso.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Little folly

Antes que'u fuja da oportunidade de não ser ouvido, quero me lembrar da constância que brinca na não-relação entre o "que sempre será escrito" e o "que quase nunca é lido". Cai sobre minha cabeça (como tantos outros frutos sem história ou decisão no caminho da ciência) a consciência/sensação/certeza/quebranto de que enquanto se escreve, se vive. Vive, sim, na acepção maior da palavra em seu erro e má interpretação: não só mais aquele papo de que existe experiência, historicidade e tal no texto, mas sobre a fisiologia das coisas; da coisa que escreve e da coisa que é escrita; esta fingirá ser lida para que saia algum dia da angústia ou do cansaço, e se torne saturação ou esforço guardado numa galáxia a ser suposta...

Bem, segundo os desígnios divinos, a morada de madeira e esquecimento dos poemas não lidos e não escritos tem um destino; entretanto este fado é invólucro duma razão perdida e impalpável, que guarda o sucesso, a empatia ou o futuro (que muitos já o sabem como "o que nunca chega"). Este desígnio divino, porém não deve esperar minha morte, que seria um acerto, não fosse pela materialidade de tanta existência... Escrever sempre teve um gosto amargo.

Queridos, por mais que em breve derrame sorrisos num novo poema, cheio de vida, devo lembrar a todos a embriaguez que é o ato de desilusão. As palavras geralmente, por algum motivo, cansam... e especialmente, não nos convém alimentar esperanças sobre as boas intenções do poema saturado (pelo poeta); em estilicídio venho aprendendo a desenhar o que chamam de amor e tal... em busca do meu ser estar se tornando padrão-como-a-recepção, perco ainda mais vida em meio à tanta confusão. Talvez, em transformação em um ser padrão, eu não perca a tal da fé na vida. Seja o que o Senhor deixar...
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