segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Domingo

Bem, como vão as coisas pra mim mesmo neste silêncio onde se lê mais uma vez confessada e verdadeiramente as últimas palavras carregadas de tédio e espelhos precisos cheios de premonição e corpo inteiramente mágico e presente do fim dos tempos inegavelmente estranhas e necessárias a todos os meninos de vinte e um anos da França ou da Coréia enfim coisa necessária a qualquer um que esteja perdido e lúcido em sua cinérea e imaginada imagem de dedos e escuros pendidas como se só isto fosse vida e de onde carece desnecessariamente de saídas e lonjuras mornas e homens inteiros sobre o corpo para calar-nos de nós mesmos a estas horas insossas mas que revelam mais que o deslumbramento da infância contígua e endossada à esta juventude que se procura infiel nela mesma e se reduz e se imbrica na chuva no sabor de uma uva no cheiro de uma verdura ou no toque de um calo sem a ideia permanente e muitas vezes necessária ao autotelismo inexistente do amor longe do coração manifestação auto-fecundante da tarde e do sono e do beijo longo e do frêmito dolente que verdadeiramente autotélico descansa nossas roupas e influencia docemente as pernas a se abrirem os dentes a se afiarem e os loucos a se calarem todavia em vez do túnel e do tubo atravessador das eras e dos desejos guardados no futuro e pendentes no passado travesseiro pergunto como vão as coisas pra mim mesmo neste silêncio onde se lê mais uma vez confessada e verdadeiramente as últimas palavras carregadas de tédio e espelhos precisos cheios de premonição e corpo inteiramente mágico e presente do fim dos tempos inegavelmente estranhas e necessárias a todos os meninos de vinte e um anos da França ou da Coréia que são as de Rimbaud?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lubricezas

Insisto. Ele não consegue tomar forma de poema. Mesmo sua poesia está desidratada. Espero. Sopro-o solfejando. Espero. Tomo-lhe o queixo, estranho-o. Minha mão dentro de suas calças e realizo o fato dele ser um homem.

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Inspiro. Prometo. Nada me compromete. Esfinge. Que coisa, nada parece simples?! Que ódio. Investigo. A visão de carne e polpa, textura sexual se esvai, graças ao bom Deus. Ainda permanece informe. És um homem afinal, mas não existe além de fotos. Que nojo.

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Não, não persevere. Nada quero à noite. Me incomoda, o cheiro estranho, a forma não usual, a dureza nada tênue. Desista. Estou morto pra ti, esqueça-me, sou um louco. Um vadio onanista entre muros de uma rua deserta. Tenho taras. Afaste-se. Vou te engasgar...

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Sabes bem que gozar é uma resolução. Que faremos agora, além da garganta seca, do cansaço meio frustrante? Sente-se. Coma alguma coisa. Tarde alguma nos entenderá. O lençol encharcado, lavarei. O látex, dissolverei. O cheiro estranho só é estranho agora. Ele me trouxe até aqui.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Resoluções

Falei e ainda falo deveras numa tal de verdade, que apesar de não ter rosto, todos querem conhecer. E é verdade absoluta, deflorada, oculta. Mas encaremos a verdade: antes que mentira, isto é um equívoco cultural entre os bons. Esclareço então a mim mesmo pelo menos, as trapaças que a linguagem pré-cozida encerra nos vários contextos da vida, e creio empiricamente no engaiolamento das palavras em grupos prontos, tipo isto pede aquilo, e assim vai. Concluindo: propondo verdades, calço inverdades, e assim caminha em clichês a humanidade (sentem o drama?) ...
 
Enfim, verdade é realidade, verdade se beija, verdade se come com farinha? Por qual Judas a persigo, ou a ferindo, afasto-a? Verdade pagará minhas contas, levará minha carcaça incerta a todos os limbos (A interrogação não é algo que afaga, a saber)? Antes que'u conceitue ou até mesmo que me banhe e esqueça deste papo, é bom definir o que penso agora agorinha; que enveredo por trilhas sujas na procura dum pharmakon. É hora de abrir os olhos e os dedos. Na verdade, tenho uma alma meio velha para esse tipo de desatenção. Pero, trata-se dum pharmakon, lembram? Então colhamos a realidade, ou seja, parte de verdade!
 
O que mais meus caros? Cuidado. Não só com a questão entreaberta aqui, mas com tantos outros conceitos que tornam mornos nossos ímpetos. Citemos: verdade, juízo, amor, nojo, o et coetera. Todo o nosso instinto social e coercitivo admite aspectos da sociedade, vida amorosa ou do quilo do feijão, como nossa boca concebe inteira nossa língua.
 
Assim como quem não quis nada, medi informemente esta dúvida rastejante vinda de meus discursos, e como discurso é discurso, sintam-se extremamente corroídos por elas, eu permito. Tomemos um fato: esgarcem ampliando, como um chiclete, qualquer proposição aqui posta. Então, de reflexão em reflexão, de consideração e consideração, vocês provavelmente chegarão a um conceito ou pedregulho (velhas conversas sobre sujeito e objeto...). Segurem-o com as mãos possíveis, e, o que têm? Eu digo que é verdade.
 



 

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lúdico 2

É, realmente ainda está em uma prateleira.
Foi o que sobrou do passado, eu estava pronto.
Magro, mas perfeitamente manipulável,
ele não me imagina como presa ou picolé,
parece que ele me tem como uma viagem esquecida.
Ainda sou papel de pão,assim.
Sem aqueles papos de amor (que coisa
cultural) ou paixão rósea sangrando...
Sem bocas que me lembrem Jeff Stryker ou
que desviem a Ted Colunga.
Sem nada que lembre o rosto ou a manhã
ou qualquer coisa enxuta que não um projeto
(fomos todos um projeto).
Longe de minha culpa, amei sozinho.
Amei como se come e se deseja estar sozinho.
Final óbvio:
Minha vida poderia ir-se pela dele
pero descobri que mesmo
a morte pode ser em vão.
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