quarta-feira, 6 de maio de 2009

Novo tempo

Descrever e experimentar a existência são o sentido que define o fazer poesia. Longe da fama, do editores, dos festivais e concursos, vejo agora, perto dos vinte e um anos, que leiam e releiam o que escrevo, melhor, o que crio, mas só o que me restará é a certeza que sou um poeta. A visibilidade de qualquer maneira já não mais me atrai, e o que me faz continuar é a criação: sentir-me na novidade de cada dia e de cada pessoa, munido de olhos que não se esvairão em qualquer oportunidade; dizer a verdade, a mim mesmo ao menos, e sentir-me menos desamparado neste mundo. Concordo do fundo do peito com o que disse Léon Bloy, "Mesmo que não tivesse um único leitor, continuaria escrevendo, porque a verdade tem de ser dita nem que seja às pedras". Tudo isto se torna cada vez mais verdadeiro. Tornar-me melhor e melhor para mim, porque como em vários aspectos da vida, não posso libertar o criar poesia dos exercícios do ego. Citaria agora Henry Miller, em seu A Hora dos Assassinos, onde encontro reflexões e conceitos que me abriram os olhos e o coração, a alma disse baixinho '-Verdade...'. São tantos fragmentos, que só posso pedir que aqueles que escrevem de verdade e de coração, que leiam, e se ouvirem o âmago sussurrar '- Verdade... ', bem, tenham certeza que algo de superior existe em vossos caminhos.

Neste livro, Miller traça um paralelo entre seu viver e escrever com o viver e escrever de Rimbaud, que concordem ou não, em menor ou em qualquer outro grau, foi o introdutor (afamado, digamos) da linguagem e estética modernista no Ocidente, com sua Uma Temporada no Inferno. Não que me sinta próximo de Rimbaud quanto à sua vida e obra, mas as conclusões e impressões que Miller tira de suas vidas me elevam a uma certeza natural.

Enfim, se a fama que desejo, vier, que seja merecida. Mas principalmente que a sinta e viva, não a force ou a pressinta. Isto é deveras desgastante. Em A Hora dos Assassinos, Miller diz que Rimbaud quando parou de escrever foi buscar a essência perdida no escuro e no silêncio. As linhas de tudo já foram traçadas, estão no futuro e o futuro é Deus, e Deus é a Criação. No escuro e no silêncio digo mais coisas a mim mesmo e ao mundo, que entre todos.

Deixemos estar...

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