terça-feira, 31 de março de 2009

Utilidade doméstica

Última aula, noite, morfossintaxe. Entre morfema, gramema, lexema... dilema!
O sentido é aquilo que te leva a uma referência. Uma explicação/motivo muito aplicável ao fazer poético. Noites e viagens de ônibus comigo pensando: tudo que faço tem uma função? Hoje pela manhã esboçou-se uma resposta: mexemos com delicadezas, sutilidades, intuições, instintos. Mesmo que um Messiah apareça, mesmo que explique os versos que surgem pelo mundo afora, não nos atingirá com a clareza ofuscante da lógica. Temos que considerar esta espécie de silêncio, mas prefiro considerar tudo isto uns sons de fluidos corporais. São nítidos e presentes; os sentimos, mas não os vemos, estão aqui, essenciais e às vezes esquecidos.
Já ouvi Paulo Leminski dizer: A poesia foi feita pras coisas sem porquê. Pra que porquê? Sábio e sucinto, pop e clássico, o poeta. E como venho aprendendo, todo conceito é uma ficção. Ele existe para que saibamos lidar com as coisas. Só me resta dizer que sou um privilegiado por lidar com as coisas inefáveis. Quase um neurônio, quase uma unidade, onipotência. Sou livre.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Últimos meses

Escritório, Centro, ônibus amarelos, verdes, vermelhos, azuis. Cadeiras azuis, paredes brancas. Professores que falam, alunos que saem, chefe que berra. O computador em espera.
Às vezes, alguns senhores em alta definição, nus para mim, servidos para mim. Tempo passa. O estômago vazio. O espelho nem em mim está mais. Uma vez um assalto, uma vez noite, uma vez, temporal! Todos esperando, todos em minhas férias. Tudo que já foi dito, um livro escondido, agora... escrito! Um blog construído, admiradores desconhecidos. Brigas fraternais, uma paixão caída, um namoro cinza.
O ritmo adere ao concreto, toma a forma da curva, a vida vira pó de cimento, a vida não quer nada, a vida só está aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Escrito e postado (ponto final!)

Na última aula de Teoria Literária que tive, me disseram que a literatura é despida de um caráter 'utilitarista'; na verdade há para compensar, um 'efeito'. Já estamos com os olhos cansados disso, você usa uma colher como quiser, se quiser usá-la. Mas o busílis é que este 'efeito', como em tudo que é subjetivo e que não olhamos vendendo ou pedindo coisas pela rua, bem, quando passeamos pelo Centro da cidade só testemunhamos o elementar, captado rapidamente e descartado tão quanto rapidamente. Assim, quem sou eu para saber se você se reinventa e reconsidera como humano (ou bicho que seja...) todos os dias antes de dormir ou da ablução. Existe linguagem para todo tipo de juízo, só alguns eleitos têm o talento para o futuro. Mas enquanto você se vê no espelho e ainda espera que seus olhos te digam algo... eles só te gritarão quando eles estiverem esquecidos, somente ocupados para falar a verdade.
O que não nos pertence pode beirar as mãos à noite ou quando só existem vontades absortas pelo vento que leva, assim como traz pensamentos. O que você entendeu por isso? Já não importa. Cheguem o Armagedon e a quista hecatombe: vivi verdade por entre todos.

Até.

terça-feira, 17 de março de 2009

Surgir!

O entusiasmo está escondido em alguma tábua por aí. Por entre os dias me conto de quanto em quanto tempo me pertence a certeza, que se desliga da sua ligação com a verdade, e os risos que me aquecem uma vez e quando não entendem a medida da realidade a que pertence essa matéria com que se lida com certa dificuldade, algo entre a inspiração e a rotina.
Em silêncio, espero, o dia em que o lamento se manterá torto (penso ser hoje), mas não estamos lidando com sobrenaturezas ou deformidades nem formas dantescas, elas me esquecem pelo mesmo caminho estranho e coberto de folhas que me conduz à perfeição intima, a expressão outra que me faz doutros, enorme e linear no sentido fluido que me leva ao que desejo e seguro, o poema.

Voltas e voltas, círculos
profundos, mundos espirais, até
hoje nem me sento ereto por
aquela parede de tijolos mortos, entre o
caminho da hélice que permuta a
cabeça.
Esqueço.

Até.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sê todo, a começar pela casca...

Aléias pelos campos em meus pés, uma travessa de silêncio. Poucos me conhecem e não sabem quão grande sou pela noite quando não estou cansado, de ser personagem real da espera e contador de dias. Teu poema novo não é mais que tu mesmo,- o truísmo é equivocadamente e profundamente absoluto e enjoativo. Não me deixarei, apesar de perder-me todos os dias, melhor, não lembrar-me pelas horas, pobrezinhas, entupidas de expectativas. E repouso, calado, me querendo, sem nada, nem palavras.


Até.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Considerações pálidas...

Nunca estou sozinho durante o estro. Tudo me chama, me convida a rever meu reflexo, e creio que assim acho todos os outros, amigos, família, bichos, ambiente. Sempre me esqueço do plano primeiro, aquele que me daria mais prazer, contentamento. E todos os dias, de alguma forma lamento, por não conseguir me expressar plenamente sem a segurança em florir o lirismo que gostariam que eu tivesse, tudo ainda é uma busca (não experiência), isso que ainda é poesia. That's fuck my head, you know? Essa vida de novo, enfim, cansa! O maior desafio é desenvolver a maturidade poética sem permitir que o anonimato me influencie, me desgaste. Quem sabe expondo isto de alguma maneira, assim, posso me livrar destas correntes que me ferem, e pior, me emudecem. Pois, senhores, tenho visto e vivido algumas considerações pálidas sobre este ato decisivo, constante, solitário apesar de tudo e por enquanto, penoso, já que o tempo entende este meu corpo e esquece a vida - só mais uma lagarta ressequida:

Da palavra alguma não citada
espectro cristalino me evoca púlpito de
um tempo poeirento, da óbvia vontade suja,
do pensamento míope e gasto, do
dia que insiste em roer-se alvorada e renovo,
cinza e chuva.

Ó, gentes sem verdade!

Até.
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