#19: James Bidgood - Pink Narcissus
#20: John Frusciante - Going Inside
Só existe Arte por e para outrem (Sartre)
The Girl at the Window (1894) by Edvard Munch. |
Até onde enxergo e toco
sou o dia sem novas que
dorme sem vontade em ser
mais um de repente
entre moço e velho
admito a cegueira, a mudez
pus rédeas lassas na canção
que paira os dias vis
o perfume do fogo
hoje esqueci
reencarnado ou reincidido
ofereço o acaso que é o corpo
ao excesso, à negação do início
Bartebly
no espelho
murmura algo sem solução
Aqui
me convenço da insistência
ainda que perdido estava
quando explicaram o ornitorrinco
como que levado pelo espaço
me encontro reentrando em medo
me dobrando numa fita de Möbius
como que levado pelo espaço
insisto
ainda que minguante
em palavras tachadas
insisto
É possível que a fruta no mercado
expresse mais que meus silogismos contados;
que a pedra satisfeita em sua ideia de simetria
entenda mais das poucas perfeições
e dos espelhos que as geram,
que eu,
certo de não existirem linhas tortas
para toda minha razão.
Os gnus, as raposas e os gafanhotos
confortam o correto peso de uma expectativa
que não me pertence mais,
uma vez que entendo de palavras
se achando moscas,
entendo de cores explodindo,
de anulações, de álcool,
mas, a respeito do que se deseja
(ou se precisa em forma de água doce
ou tubérculo – mais do que deseja
o gnu, a raposa, o gafanhoto)
me entendo feito o pasto
para um capim insistente.
in RIBEIRO, Sebastião. &. São Paulo: Scortecci, 2015